Uma das tradições ligadas ao Carnaval actual será , provavelmente, a “Festa dos Tolos” ( Festum Fatuorum”), que se realizava dias antes do Ano Novo – comemorado primeiro em Março, mais tarde em Dezembro, para festejar as novas colheitas - uma herança das “saturnálias” romanas. Do séc.V ao sec. XII, a Igreja católica dinamizava os festejos e dirigia-os especialmente às suas gentes.
"Durante quatro dias do ano, o mundo ficava de cabeça para baixo: membros do clero faziam competições de bebedeira na nave. Jogavam dados em cima do altar, zurravam como burros ao invés de dizer “Amém”, faziam sermões de galhofa, baseados em paródias do Evangelho (o Evangelho segundo o Traseiro da Galinha, o Evangelho segundo o Dedo do Pé de Lucas).
Embalados pela bebedeira, seguravam os livros sagrados de ponta-cabeça, faziam orações para vegetais e urinavam de cima das torres dos sinos. “Casavam” burros, amarravam pênis gigantes de lã em suas batinas e tentavam fazer sexo com homens e mulheres dispostos a tanto. “
Em 1445, a Faculdade de Teologia de Paris explicou aos bispos de França que a “Festum Fatuorum, Festa dos Loucos, era um evento necessário no calendário cristão, para que a insensatez ou loucura que é nossa segunda natureza, e inerente ao homem, possa se dissipar livremente pelo menos uma vez ao ano. Barris de vinho de tempos em tempos estouram se não os abrimos para entrar um pouco de ar. Todos nós, homens, somos barris reunidos inadequadamente, e é por isso que permitimos a tolice em certos dias: para que, no fim, possamos regressar com maior fervor ao serviço de Deus”. ( citado por Alain de Botton em “Religião para Ateus” ).
Decisão luminosa numa “época de trevas” !
Vem isto a propósito de uma outra “festa” cujo relato li esta semana na revista “Sábado” : a Bohemian Grove.
Num ritual que se repete há 133 anos, homens poderosos dos Estados Unidos, membros do mais exclusivo clube privado ( Bohemian) e seus convidados, juntam-se numa floresta de sequóis, na Califórnia, e, “sem inibições, bebem cerveja e urinam nos troncos das árvores centenárias”.
A festa dura duas semanas de Julho (!!) – 2500 homens, ex-Presidentes dos EUA ( republicanos), executivos de petrolíferas e empresas militares, milionários, artistas – a maioria brancos, conservadores e protestantes …
As festividades começam com a “Cremação da Preocupação” ( um boneco de trapos dentro de uma urna ) e continuam com palestras, peças de teatro, bacanais ( com prostitutas e actores porno) e PLANOS … “ Parece que foi aqui, em 1942, que nasceu o Projecto Mahattan que construiu a bomba atómica”.
A festa termina com um grandioso musical onde alguns membros do clube participam, vestidos de mulheres …
CLERO, NOBREZA … para o POVO ficam os Carnavais - para todos, uma forma de deixar escapar “ a segunda natureza do Homem” !
Mas há alguns que, tendo a “loucura” latente (?), não pertencem a clubes ricos e secretos, não fazem parte do Clero que mantém os seus escapes , não gosta de Carnavais e não vai a psiquiatras – esses sim, têm muito trabalho e mérito quando conseguem apagar a “pólvora” da sua natureza louca e insensata … E então têm a sua FESTA!