Quis saber mais sobre a questão do Darfur, do genocídio dos africanos não árabes e da responsabilidade do Governo do Sudão. Encontrei um livro escrito por um natural do Darfur , Daoud Ibrahim Hari : “O Intérprete”.
Daoud é um “zaghawa”, tribo do sul (Darfur), não árabe, que cresceu entre agricultores ( o seu povo) e nómadas criadores de gado (árabes), em harmonia. Foi apanhado pela guerra e sobreviveu para contar.
“Dar” significa “terra” e “fur” é a designação dos povos tribais mais a sul que vivem essencialmente da agricultura. Um líder dos Fur foi rei, no séc.XVI, de uma vasta região ocupada hoje pelo Chade e pelo Sudão – era então o grande Darfur. O território foi depois dividido entre franceses (Chade) e ingleses (Sudão) e o Darfur passou a uma região dispersa por dois países.
A partir dos anos 80, a seca levou os nómadas a procurar melhores pastagens e água para o gado, deslocando-se para sul. Os primeiros confrontos com os agricultores zaghawas resolveram-se mas os zaghavas também foram pressionando os massalites e os fur, mais para sul … Houve pequenos conflitos, promessas de uma autonomia controlada para o Darfur e até a esperança de poderem beneficiar da exploração dos “suas” jazidas de petróleo.
Mas, a partir do golpe de estado que levou ao governo minoritário árabe de Umar al Bashir, a lei islâmica impôs-se a todo o país, a exploração do petróleo foi nacionalizada e cedida aos chineses, fizeram-se acordos com o Egipto para criação de grandes quintas agrícolas no sul geridas por árabes, criaram-se relações privilegiadas com os grupos fundamentalistas de Osama bin Laden. Ao mesmo tempo no sul começou a falar-se de independência. Armas não faltavam porque o coronel Khadafi, na década de 80 usou o Darfur como base para atacar o Chade. Foi o bom pretexto e a grande ocasião para o governo de Cartum implementar um plano de expulsão do território do Darfur das tribos africanas não árabes. Começou por dar apoio aos nómadas que queriam territórios mais férteis, depois armou as milícias “janjawid” e encorajou o ataque e a destruição das aldeias do sul , em simultâneo colocou o exército e todo o seu equipamento pesado e aéreo ao serviço dos janjawides. Começamos a ouvir falar de genocídio de um povo.
Os países vizinhos encheram-se de refugiados e Daoud, cuja aldeia foi atacada e destruída, foi um dos que passou para os campos de refugiados do Chade.
Porque dominava o inglês e precisava de trabalhar, tornou-se intérprete de jornalistas de todo o mundo que queriam testemunhar os ataques e comprovar o genocídio no Darfur.
Porque ainda está vivo, escreveu um livro para deixar um testemunho e um grito.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário