Quando deixámos Viseu a caminho de Lamego, fomos visitar, na freguesia de Ucanha, na zona de Tarouca, uma torre, classificada pelo IPPAR como Monumento Nacional. É um exemplo único de ponte fortificada, lançada sobre o rio Varosa. Constitui o elemento de união entre dois núcleos urbanos pertencentes a diferentes freguesias, Ucanha e Gouviães. Zona de assinalável interesse paisagístico: a linha de água, correndo em vale aberto, surge bordada por amieiros, salgueiros e azenhas.
Belo exemplar de arquitectura militar gótica do séc. XII, constituía a entrada monumental no couto do Mosteiro de Salzedas. A torre servia de controle, de portagem, defesa e armazenamento de produtos. A função militar era secundária, não existindo ameias no topo. A ponte tipo sela, devido ao seu ângulo do tabuleiro está apoiada em 3 arcos quebrados e protegida por talhamares. Os materiais utilizados são a madeira e o granito.
O erudito linguista e etnólogo José Leite de Vasconcelos, nascido em Ucanha, aponta essencialmente três razões para a construção desta ponte e desta torre: a de defesa, à entrada do couto monástico de Salzedas; a de ostentação senhorial, bem patente na alta torre; e a da cobrança fiscal, pelo valor económico que tal representaria para o mosteiro cisterciense erguido próximo.
A sua existência já vem documentada no século XII. D. Afonso Henriques doou, em 1163, à viúva de Egas Moniz, Teresa Afonso, o couto de Algeriz, acrescentando-lhe o território de Ucanha. A ponte deve ter sido construída pelos romanos, no seguimento de uma estrada que passava ali perto. Teresa Afonso, fundadora do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, doou ao convento o couto que recebera do rei e foram os monges quem mais beneficiou da velha ponte, convertida em apreciável fonte de rendimento pelos direitos de portagem que seriam cobrados.
Em 1324, D. Dinis pretendeu favorecer as gentes e vila de Castro Rei, concedendo-lhes o privilégio da passagem de Moimenta para Lamego, mas face à pressão dos frades de Salzedas, o rei confirmou tal privilégio a Ucanha.
De planta quadrada, a torre, com porta de acesso bem acima do nível do chão, tem vinte metros de altura e dez de cada lado da base, onde se encontra a seguinte inscrição "Esta obra mandou fazer D. Fernando, abade de Salzedas, em 1465".
O interior divide-se em três pavimentos: no primeiro apenas uma fresta, no segundo em duas das faces abrem-se duas janelas geminadas e no último salientam-se quatro mata-cães, apoiados em cachorros. Chama-se mata-cães a uma abertura no chão entre as mísulas que sustentam as ameias das fortificações medievais, através da qual se podia observar os atacantes, os mouros, que se encontravam na base da muralha defensiva, agredindo-os com pedras ou outros objectos.
Isto é o que reza a história da ponte e da torre mas aquilo que não se encontra na história é o sentimento de paz, tranquilidade e harmonia que as pessoas por lá passam experimentam. A paisagem é paradisíaca e só tive mesmo vontade de ficar por ali, por tempo indeterminado, desfrutando de tanta beleza e calmaria.
Aconselho vivamente este desvio e visita a esta pequena maravilha, esquecida de muitos mas merecedora da nossa atenção.
1 comentário:
Só vi hoje. Gostei das fotos e das informações. Obrigada
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