quinta-feira, 23 de abril de 2009

Richard Zimler


Hoje é o “Dia Mundial do Livro” e porque ando “envolvida” com um autor, deixo sobre os seus livros o apontamento possível de quem não sabe nada de literatura e apenas gosta de ler.

Já faz tempo que li do autor “O Último Cabalista de Lisboa”, “Goa ou o Guardião da Aurora” e “À Procura de Sana”. Agora estou a ler “A Sétima Porta” e aguardo pela tradução de outros e por aqueles que as livrarias não têm tido disponível.
Richard Zimler nasceu em
Nova Iorque ( 1956) . É formado em religião comparada e mestre em Jornalismo. Vive em Portugal (no Porto) desde 1990. Naturalizou-se português !! Escreve em inglês mas os seus romances têm sido publicados em várias línguas e merecido diversos prémios. O último foi-lhe atribuído em 2009, pela obra “Goa ou o Guardião da Aurora”.
Zimler é judeu e parte da sua obra (Ciclo Sefardita) de que fazem para “O Último Cabalista …” , “Goa ou o Guardião da Aurora” e “ A Sétima Porta” ,é dedicada à história de diversos ramos e gerações da família Zarco de judeus portugueses e do mistério em torno de sete manuscritos do séc.XVI, escritos por um cabalista Berequias Zarco.
No “Último Cabalista …” são apresentados os Zarcos, uma família de cristãos-novos residentes em Alfama, cujo patriarca, Abraão Zarco é iluminista e membro muito respeitado da escola cabalística de Lisboa. Toda a história se passa em Abril de 1506 quando, durante as celebrações da Páscoa e em consequência de um incidente mal interpretado e aproveitado por quem estava de olho nos cristãos-novos , provocou uma chacina onde foram queimadas, no Rossio, cerca de 2000 pessoas. Reinava D.Manuel ( que se manteve longe de Lisboa …) enquanto os frades incitavam o povo à matança … acusando os cristãos-novos de serem a causa da fome e peste que flagelava a cidade.
Em “Goa ou o Guardião da Aurora”, descendentes de Abraão Zarco, no final do séc.XV, tentam manter firmes as suas raízes luso-judaicas quando em Goa a Inquisição fazia enormes progressos na sua missão de impedir todos os «bruxos» - quer fossem nativos hindus, quer imigrantes judeus – de praticarem as suas crenças tradicionais. Os que se recusavam a denunciar outros ou a renunciar à sua fé eram estrangulados por carrascos ou queimados em autos-de-fé.
“ À procura de Sana” é uma narrativa mais jornalística, é um romance actual que explora a possibilidade de vida em comum de judeus e palestinianos e de como injustiças e violência podem destruir grandes amizades. A história decorre em Haifa (1950) e em Portugal e Paris (2004).
É sobretudo neste livro que Zimler deixa clara a sua posição face ao conflito israelo-palestiniano, sobretudo numa entrevista que deu sobre o mesmo :
“Sou a favor de um Estado Judeu e conheço israelitas fantásticos mas não posso aceitar que judeus, ou quem quer que seja, roubem a terra de outros ou torturem pessoas em prisões. O verdadeiro judaísmo insurge-se contra este estado de coisas. É claro que os Palestinianos não deveriam agir como terroristas nem fazerem-se explodir em Israel mas os israelitas não deveriam arrasar aldeias palestinianas ou atirarem a matar sobre cidadãos palestinianos. E ninguém pode afirmar que os Judeus têm um direito “bíblico” sobre os Territórios Ocupados. Essa é uma interpretação estupidamente deformada do Torah e uma aberração que todos os judeus deveriam combater” … “ Não posso escamotear o facto de que há Judeus que não aprenderam a lição da História e por isso repetem o mal que lhes foi feito. Fui alertado para o facto de que houve Judeus na África do Sul, por exemplo, que apoiaram o apartheid porque se sentiam ameaçados e tinham uma grande necessidade de se integrarem”. … O conflito entre israelitas e palestinianos “ é uma situação muito triste e terrível, mas não faço a mínima ideia de como solucioná-la. Quero deixar isso muito claro porque não escrevi o meu romance para sugerir uma solução. As soluções fáceis não vão funcionar numa região onde há uma história já de seis décadas de conflito e onde há tanta gente inflexível e fundamentalista. Entretanto, penso que tem que haver um Estado palestiniano estável e democrático. Um diálogo racional entre os dois povos vai necessitar de dois governos estáveis e democráticos. Talvez um bom primeiro passo fosse uma renúncia total de violência por parte dos dois lados “
Ainda não acabei “ A Sétima Porta”, o 4º livro do “Ciclo Sefardita”. A história decorre em Berlim, nos anos 30 e a personagem principal, Sophie, é uma jovem de 14 anos, inteligente, com graça. O seu vizinho é Isaac Zarco, descendente de Berequias Zarco, filho de Abraão Zarco e narrador do “Último Cabalista de Lisboa”. O pai de Sophie, por acomodação, torna-se nazi e trai os seus princípios. A história decorre durante a subida ao poder de Hitler e avizinham-se as perseguições nazis aos deficientes … E já vi que Isaac Zarco quer descobrir o segredo dos outros manuscritos encontrados por Berequias Zarco e o “pacto” que se diz ter existido entre Hitler e Estaline …
Vou continuar em busca dos livros de Zimler. Sei que escreveu e estão para tradução “O Ultimo Caçador” e “Guardian of the Dawn” ; há livros antigos que ainda não encontrei. Para além do que escreve e de como escreve, gosto que Zimler sinta e diga que “só em Portugal” , lugar onde se cruzaram gentes vindas de todos os lados, pode “abrir os olhos para uma nova história, para uma forma diferente de pensar e de ver o mundo. E que goste de viver no Porto e tenha querido ser português. Já que não nos valorizamos, que haja quem vem de fora para o fazer …
E a propósito de livros e leitura, transcrevo parte de um diálogo entre Isaac Zarco e Sophie:
- “Diz-me, Sophie, achas que um livro pode ter tanta sede como um pelargónio? ( ela estava regando pelargónios acabados de plantar)
- Talvez se nunca o tirassem da prateleira, se nunca ninguém o leu “
TAMBÉM ACHO – é bom dar de beber aos livros.

3 comentários:

Mar Lis Goiaba disse...

Não costumo comentar, mas hoje tenho que o fazer. Fantático teu texto, fiquei com um apetite enorme para ler esses livros.Obrigada por trazeres sempre às nossas vidas essa motivação de leituras importantes que podem fazer a diferença na nossa cultura.
abraço

Anónimo disse...

Belíssimo texto.Gostei muito.
Ontem li,mas achei q. merecia leitura + atenta.
Abraço.
isa.

ZIA disse...

Ontem, foram tantas as tropelias que não consegui vir ler-te e é sempre com muito interesse que recebo os textos sobre as tuas leituras e, deste, parace que todos gostámos particularmente, é que Zimler é uma figura fascinante que ainda há dias me surpreendeu numa entrevista que a tv transmitiu.
Bjs
ZIA