quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Uma força transmontana

Conheci, nos anos 70, a pintora Graça Morais. Leccionávamos na mesma escola e muitas vezes trocámos opiniões, partilhámos preocupações pedagógicas e gostos culturais na curta viagem de comboio que nos trazia de volta a Lisboa, ao fim do dia. Sempre me atraíram os falares diferentes e o sotaque nortenho, bem do nordeste, que a Graça ainda hoje conserva fielmente, já me fascinavam na altura e hoje então, passados tantos anos, quase me comovem. Eu continuei sempre no ensino.
A Graça saiu do país, voltou a Trás-os- Montes, correu mundo, pintou muito, expôs muito, tornou-se famosa nacional e internacionalmente. Fui sempre acompanhando, com muito interesse, na imprensa e por vezes ao vivo, o seu trabalho. Continuava a mesma força transmontana, o mesmo apego à terra e às suas raízes e isso sempre me impressionou imenso. Gosto mais de umas fases do que de outras, sou fã das suas mulheres, das suas cabeças femininas, das imagens de sofrimento que são sempre gritos de esperança, de um menino “Porquê!”, um olhar para as crianças que sofrem de leucemia, que há pouco revi. Sou fã de muitas das suas ilustrações em obras de Sophia de Mello Breyner ou Agustina Beça Luis de tanta, tanta obra!
Quis o acaso que a Graça tenha vindo viver para o bairro antigo e popular em que eu vivo há mais de dez anos e, por vezes, encontramo-nos nas nossas saídas diárias e sempre vamos trocando umas saudações, umas palavrinhas. Continua a mesma pessoa forte, simples, viva, interessante, sem poses, muito acessível, muito humana e interveniente na sociedade.
Hoje, venho partilhar convosco as imagens e a entrevista que encontrei há pouco, referente à abertura do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, recentemente inaugurado em Bragança e que é já um excelente polo cultural de Trás-os-Montes.
Como curiosidade, aqui fica a informação de que o arquitecto Eduardo Souto Moura, autor do projecto deste centro, foi distinguido, entre mais de mil candidatos, com o Prémio Internacional de Arquitectura 2009. O projecto compreendeu a recuperação e adaptação do antigo solar dos Sá Vargas, para a exposição permanente de obras de Graça Morais e a construção de um novo edifício, contíguo, para exposições temporárias. Mais um motivo para nos orgulharmos do que é nosso.
Mais uma visita que faz, a partir de agora, parte dos meus projectos de passeios próximos, pena ser tão longe!


1 comentário:

goiaba disse...

Também gosto do que a Graça Morais pinta e gosto do que sei dela como pessoa. Obrigada por deixares aqui um testemunho da pessoa e da obra.
bjinho