No fim de semana prolongado, traindo a minha tradição de lisboeta, faltei ao Sto António e aceitei dar uma voltita pelo norte, tendo passado por Viseu, Lamego e Braga. Um dos objectivos deste passeio era fazer um percurso pelo gótico, visitando alguns dos seus melhores exemplares daquelas regiões.
Hoje, acompanhem-me por Viseu, cidade por onde não passava já há algum tempo e que está sempre em crescimento.
Com um tempo feito de encomenda, nem quente nem frio, quase sempre com um solinho bem acolhedor, lá fomos direitinhos à Pousada de Viseu, outrora hospital da Santa Casa da Misericórdia. O primeiro edifício data dos finais do século XVIII, foi sendo beneficiado com estátuas e obras de melhoramento e restauro mas viu fecharem-se as portas em 1997, com a inauguração de um novo hospital. Esteve sem qualquer função durante dez anos, tendo sido remodelado para dar lugar a uma elegante unidade hoteleira, cujo projecto de requalificação e decoração pertence ao arquitecto Gonçalo Byrne. É realmente muito bonita, muito confortável e por toda a parte é possível ver as fotografias que documentam, em cada local, o estado de conservação do edifício, antes da intervenção, comparando com as soluções encontradas.
O claustro Grão Vasco, agora coberto, deu lugar a um espaçoso salão com capacidade para cerca de 400 pessoas e múltiplas actividades.
Arrumadas as maletas, partimos pelo giro pela cidade, para admirar as ruas e ruelas, para visitar o Museu Grão Vasco – cujo acervo inclui obras de arte de diversas tipologias e épocas; uma importante colecção de pintura portuguesa dos sécs. XIX e XX, faiança, porcelana e mobiliário português e, claro importantes pinturas da autoria de Vasco Fernandes, o Grão Vasco.
A Sé, iniciada no reinado de D. Afonso Henriques, sob o impulso do bispo D. Odório e primitivamente no estilo românico, foi reconstruída no reinado de D. Dinis, em estilo gótico, vindo as obras a prolongar-se até finais do séc. XIV. No período manuelino, a Sé foi sofrendo diversas intervenções e, no séc. XVII, depois de ter ruído uma das torres medievais que arrastou consigo o portal manuelino, a fachada foi reconstruída, já ao estilo maneirista da época.
A igreja da Misericórdia fica situada em frente à Sé e possui uma fachada rococó, da segunda metade do século XVIII. O corpo central da fachada prolonga-se por mais dois corpos laterais, dando à igreja ares de solar, nos últimos dos quais assentam, de forma incaracterística, as duas torres sineiras.
A Fonte de Santa Cristina, um dos mais antigos fontanários de Viseu, é constituída por duas fontes de chafurdo, ambas secas, e uma delas tapada com taipais de madeira. Uma das fontes, a que se encontra no vão do arco gótico, é medieval, data do século XVI e foi mandada construir por uma princesa castelhana que foi mulher de D. Manuel I. A precisar de intervenção para não se degradar mais ainda.
A Igreja do Carmo situa-se junto ao Jardim de Santa Cristina e data dos finais do séc. XVIII. No interior predomina a talha dourada joanina. O tecto foi pintado por Pascoal José Parente, em perspectiva e mostrando no centro a Virgem com o Menino ao colo a ser coroada pelos anjos. A capela-mor e o corpo da igreja são revestidos por um friso de azulejos rococó.
Todos exemplares riquíssimos da época gótica e neoclássica. Todo o tempo foi muito bem aproveitado e terminámos o dia num agradável jantar de convívio com o grupo todo, à roda de uma acolhedora mesa no restaurante O Cortiço, passe a publicidade, já que vale bem a pena dar a conhecer ou relembrar este restaurante típico, bem no coração da zona histórica da cidade, pois soube que há pessoas que se deslocam propositadamente a Viseu para lá ir provar as iguarias, elaboradas com base na investigação de receitas antigas que os velhos ainda guardavam da tradição oral.
2 comentários:
E que lindo está o Norte!
E que bem se come por lá!
E...que bem escreve a minha mana.
Beijo.
isa.
Lá vou cavalgando no teu relato por terras de Viseu! Gostei e aguarda amanhã.
( foi bom teres dado a escapadinha porque o Sto António não fugiu...)
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