segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Abertura do Ano lectivo … há muitos anos!

Há muitos anos, o dia 6 ou 7 de Outubro era o 1º dia de aulas e o ano lectivo terminava a 10 de Junho. E havia “férias grandes”! Chamar “férias grandes” ao que são hoje é mesmo só porque são maiores do que as outras …
O rendimento escolar não era muito diferente do actual, pelo menos depois da democratização do acesso à escola.

Quando andava no Colégio este era o dia de regresso ao internato. Procurava-se o novo alojamento (a partir do 3º ano, hoje 7º, as camaratas davam lugar a uma sucessão de pequenos quartos), desfaziam-se as malas, contavam-se peripécias das férias, respirávamos de alívio ou suspirávamos de preocupação ao saber da nova vigilante. Se “ela merecia”, começávamos logo a imaginar estratégias de desobediência e formas de a fazer passar um “mau bocado”. Claro que o feitiço se virava quase sempre contra o feiticeiro e os castigos eram certos.
Detestava as rotinas do colégio e tudo o que lá se passava. Recorria ao que podia para desobedecer: descer as escadas de escorrega pelo corrimão, fingir que tomava banho deixando o chuveiro a correr (às vezes, a água era fria), esconder os livros em vários locais só para não os forrar no início do ano, não comer a sopa quando via algum “mosquito” das couves, tirar as peles do bacalhau (era proibido …), comer o pão com a manteiga na côdea, “roubar” livros proibidos na Biblioteca; esconder chocolates e outras coisas trazidas no fim de semana, em bolsos falsos que a minha avó me fazia e usava por baixo dos uniformes, colaborar em todas as maroteiras que se organizavam.
Também me distraía em algumas aulas chatas e “passava-me” para um mundo de histórias inventadas. Recusava responder quando me chamavam “ 270” e dizia que tinha nome - talvez por isso nunca soube o número de nenhum dos meus alunos e sempre aprendi os seus nomes nas primeiras aulas.
Claro que o resultado de tudo isto nunca me foi muito favorável … mas seria igual se as aulas começassem a 15 de Setembro!
Podíamos passar um fim de semana em casa de 15 em 15 dias e, quando já estava no 3º ou 4º anos (7º/8º), passou a ser possível sair nos domingos intercalares. Desejava e detestava aquelas saídas sempre a prazo e por vezes ficava de castigo.
Nunca “chumbei” mas não gostei nada do que vivi naqueles 7 anos. Nunca mais voltei ao Colégio e só uma vez me encontrei com ex-alunas que todos os anos se reúnem para almoçar.
O 6 de Outubro faz-me lembrar esses tempos mas também outros enquanto docente. Sentíamos que havia tempo para fazer na escola as tarefas necessárias à abertura do ano lectivo e sobrava muito tempo para pôr em ordem o que o ano de trabalho deixara em desordem, ter um mês de praia ou mais, descansar. Houve mesmo uma época em que, porque estava destacada noutras escolas, não tinha tarefas atribuídas nem numa, nem noutra. Bem mas, depois … com ano lectivo a começar em Outubro ou em Setembro, durante muitos anos, as férias não foram mais de 15 dias …
Acho que, para os professores, 22 dias de férias é pouco porque não podem ser exclusivamente para descansar e ter uma actividade diferente. Precisam de reflectir sobre o ano que passou e pensar na preparação do seguinte. Nunca, com os 22 dias, recomecei um ano com a sensação de “precisar” de o fazer mas, com aquelas “férias grandes”, acabava com saudades e ansiosa por ver os novos alunos.

Agora, os pais vivem no pânico dos filhos terem férias e vive-se um frenesim de organizar a ocupação desses tempos em que não há aulas. Compreendo, mas acho que faz falta a cada um, em qualquer idade, aprender a ocupar o seu tempo, “entreter-se” com os seus próprios recursos (materiais e, sobretudo, pessoais).
Mas isto é conversa de quem tem uma certa idade …

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois...devia ser a conversa de todas as idades!
Quando nós éramos pequeninas começávamos o ano lectivo a 6/10.E recomeçávamos depois do Dia de Reis.
Gosto sp. de aqui vir.
Abraços.
isa.