Li há dias, na revista “Única”, uma crónica de Clara Ferreira Alves com o título “Ano novo, lua velha”.
Enquanto se assiste à investida israelita em Gaza e se pode adivinhar a forma como palestinianos e israelitas viveram a passagem de ano, transcrevo partes dessa crónica :
“… Uma vez telefonei a um dos meus amigos que moram nesses lugares onde a geografia determina o destino e raras coisas correm bem. Era véspera de Ano Novo e com o milagre dos telemóveis achei que lhe queria desejar um Bom Ano. … Eu estava num lugar em festa … a engolir as doze passas com doze desejos lá dentro. … A voz do outro lado respondeu, longínqua e ténua, com uma serenidade que os resignados conhecem. E perguntei : como estão as coisas por aí? Disse-me que as coisas não estavam bem e nunca tinham estado e isso não era surpresa. Não havia festa nem embrulhos, nem licor nem passas. … Era assim: mataram este, e mataram aquele, e a perna continua a doer dos estilhaços. A situação não melhorou, vai piorar.
Quem estava do outro lado do fio era um herói. Heroísmo que consiste em acordar e praticar todos os dias os actos necessários à sobrevivência do outro. É preciso tomar decisões quando as casas caem e os telhados desaparecem. Heroísmo que consiste em dizer com voz calma, não podemos fazer mais nada. Não temos antibióticos. Não temos camas. Ou : estamos a ser atacados. Nenhum de nós sabe o que é ser atacado. Então e para fazer conversa eu disse, aqui e neste fuso horário está a dar a meia-noite e está uma lua cheia enorme pendurada no céu. E a voz respondeu, podes não acreditar mas aqui também, está uma lua cheia pendurada como um balão no céu. E eu : temos a mesma lua a iluminar-nos a todos. … E a voz respondeu : não, não temos. Parece que temos a mesma lua e não é verdade. É apenas uma coincidência. E desligámos.”
Pensei em todos os palestinianos “sequestrados” em Gaza, com tudo o que isso significa , nos israelitas que foram para a “terra prometida” atrás de um sonho sem avaliar as consequências, nos jogos políticos que justificam todos os ataques e mortes, na resignação e no ódio que as injustiças provocam e na sorte de quem vive em PAZ. Pensei na importância de relativizar quase tudo e lembrar que a Lua pode ser muito mais bela Aqui do que Ali .
Enquanto se assiste à investida israelita em Gaza e se pode adivinhar a forma como palestinianos e israelitas viveram a passagem de ano, transcrevo partes dessa crónica :
“… Uma vez telefonei a um dos meus amigos que moram nesses lugares onde a geografia determina o destino e raras coisas correm bem. Era véspera de Ano Novo e com o milagre dos telemóveis achei que lhe queria desejar um Bom Ano. … Eu estava num lugar em festa … a engolir as doze passas com doze desejos lá dentro. … A voz do outro lado respondeu, longínqua e ténua, com uma serenidade que os resignados conhecem. E perguntei : como estão as coisas por aí? Disse-me que as coisas não estavam bem e nunca tinham estado e isso não era surpresa. Não havia festa nem embrulhos, nem licor nem passas. … Era assim: mataram este, e mataram aquele, e a perna continua a doer dos estilhaços. A situação não melhorou, vai piorar.
Quem estava do outro lado do fio era um herói. Heroísmo que consiste em acordar e praticar todos os dias os actos necessários à sobrevivência do outro. É preciso tomar decisões quando as casas caem e os telhados desaparecem. Heroísmo que consiste em dizer com voz calma, não podemos fazer mais nada. Não temos antibióticos. Não temos camas. Ou : estamos a ser atacados. Nenhum de nós sabe o que é ser atacado. Então e para fazer conversa eu disse, aqui e neste fuso horário está a dar a meia-noite e está uma lua cheia enorme pendurada no céu. E a voz respondeu, podes não acreditar mas aqui também, está uma lua cheia pendurada como um balão no céu. E eu : temos a mesma lua a iluminar-nos a todos. … E a voz respondeu : não, não temos. Parece que temos a mesma lua e não é verdade. É apenas uma coincidência. E desligámos.”
Pensei em todos os palestinianos “sequestrados” em Gaza, com tudo o que isso significa , nos israelitas que foram para a “terra prometida” atrás de um sonho sem avaliar as consequências, nos jogos políticos que justificam todos os ataques e mortes, na resignação e no ódio que as injustiças provocam e na sorte de quem vive em PAZ. Pensei na importância de relativizar quase tudo e lembrar que a Lua pode ser muito mais bela Aqui do que Ali .
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