Depois de já ter vivido tantos 10 de Junho torna-se difícil falar sobre esta data, sobre Camões e sobre os acontecimentos que levaram à sua celebração sem que se caia nos lugares comuns habituais.
Eu defendo que o dia devia ser totalmente dedicado ao nosso maior Poeta para que fosse lido, ouvido, pensado e repensado, entre os jovens e os mais velhos. Ele é, sem dúvida, um grande escritor, o mais inspirado poeta, um acutilante pensador e um profundo conhecedor da alma humana e da essência de ser português. E com que actualidade ainda hoje pode ser lido!
O meu contacto com Camões deu-se muito cedo, em casa, com a minha mãe que dizia muito bem os versos do Poeta, com o meu pai que sempre vi a ler e a escrever, a estudar os nossos escritores, como sempre nos dizia. Mais tarde, na escola, desde logo, me atraiu a perfeição da escrita, a facilidade da rima, as ideias expostas, os sentimentos tão fortemente vivenciados.
Para mim, nessa altura, ninguém conseguia cantar o amor e os seus contraditórios estados de alma, como Camões e devorei todos os sonetos e todas as cantigas. Depois, tive a sorte de ter tido uma professora única que, no liceu, conseguiu fazer chegar até nós toda a grandeza da épica de Os Lusíadas. Com ela descobri a genialidade do feito, a perfeição e a elevação de toda a obra de Camões. E líamos em voz alta. E não líamos excertos, líamos a obra completa, incluindo o censurado Canto IX, cujos erotismo e sensualidade tanto nos motivavam. E tudo era contextualizado, ligado aos movimentos da história, da arte, da política, do ambiente do Renascimento. Até a gramática fazia sentido, porque tudo estava conjugado para o rigor da estrutura e da trama de Os Lusíadas. Foi tão marcante que ainda hoje consigo relembrar, passo a passo, essas aulas que, certamente, foram determinantes para mim, na hora das escolhas profissionais.
Mais tarde, como professora, sempre que pude, tentei passar para os meus alunos esse gosto, essa compreensão da mensagem. Esforcei-me para que entendessem os objectivos da obra, para que se orgulhassem do Livro que narra grande parte do nosso percurso histórico, que apresenta muitos dos nossos heróis, que analisa o carácter português com todas as qualidades e defeitos que nos individualizam, que profetiza tantos acontecimentos importantes e favoráveis que já se concretizaram, em parte, e muitos outros que, teimosamente continuamos à espera que se realizem. Por isso, a universalidade e a intemporalidade da obra de Camões justificam um dia comemorativo. Sempre. Mas numa fase de desânimo, de descrédito, de públicas virtudes e tanto defeito privado, vêm- me à ideia alguns versos do nosso Poeta: “um fraco rei faz fraca a forte gente”; “Quem não sabe arte não na estima” ou ainda, “O favor com que mais se acende o engenho/ não no dá a pátria, não, que está metida/ no gosto da cobiça e na rudeza/ d´uma austera, apagada e vil tristeza”, entre tantos outros tão arrepiantemente actuais.
Eu defendo que o dia devia ser totalmente dedicado ao nosso maior Poeta para que fosse lido, ouvido, pensado e repensado, entre os jovens e os mais velhos. Ele é, sem dúvida, um grande escritor, o mais inspirado poeta, um acutilante pensador e um profundo conhecedor da alma humana e da essência de ser português. E com que actualidade ainda hoje pode ser lido!
O meu contacto com Camões deu-se muito cedo, em casa, com a minha mãe que dizia muito bem os versos do Poeta, com o meu pai que sempre vi a ler e a escrever, a estudar os nossos escritores, como sempre nos dizia. Mais tarde, na escola, desde logo, me atraiu a perfeição da escrita, a facilidade da rima, as ideias expostas, os sentimentos tão fortemente vivenciados.
Para mim, nessa altura, ninguém conseguia cantar o amor e os seus contraditórios estados de alma, como Camões e devorei todos os sonetos e todas as cantigas. Depois, tive a sorte de ter tido uma professora única que, no liceu, conseguiu fazer chegar até nós toda a grandeza da épica de Os Lusíadas. Com ela descobri a genialidade do feito, a perfeição e a elevação de toda a obra de Camões. E líamos em voz alta. E não líamos excertos, líamos a obra completa, incluindo o censurado Canto IX, cujos erotismo e sensualidade tanto nos motivavam. E tudo era contextualizado, ligado aos movimentos da história, da arte, da política, do ambiente do Renascimento. Até a gramática fazia sentido, porque tudo estava conjugado para o rigor da estrutura e da trama de Os Lusíadas. Foi tão marcante que ainda hoje consigo relembrar, passo a passo, essas aulas que, certamente, foram determinantes para mim, na hora das escolhas profissionais.
Mais tarde, como professora, sempre que pude, tentei passar para os meus alunos esse gosto, essa compreensão da mensagem. Esforcei-me para que entendessem os objectivos da obra, para que se orgulhassem do Livro que narra grande parte do nosso percurso histórico, que apresenta muitos dos nossos heróis, que analisa o carácter português com todas as qualidades e defeitos que nos individualizam, que profetiza tantos acontecimentos importantes e favoráveis que já se concretizaram, em parte, e muitos outros que, teimosamente continuamos à espera que se realizem. Por isso, a universalidade e a intemporalidade da obra de Camões justificam um dia comemorativo. Sempre. Mas numa fase de desânimo, de descrédito, de públicas virtudes e tanto defeito privado, vêm- me à ideia alguns versos do nosso Poeta: “um fraco rei faz fraca a forte gente”; “Quem não sabe arte não na estima” ou ainda, “O favor com que mais se acende o engenho/ não no dá a pátria, não, que está metida/ no gosto da cobiça e na rudeza/ d´uma austera, apagada e vil tristeza”, entre tantos outros tão arrepiantemente actuais.
2 comentários:
Parabéns pelo post!Belíssimo e na
escrita que tanto admiro,da minha Mana.
Excelente video.Ana Moura tem uma
voz fantástica.Aliás,ela e Kátia
Guerreiro são,para mim,as melhores.
Beijo.
isa.
Que bom teres aprendido no Liceu o que se deve e como se deve. Eu tive tão maus professores de Português!
Gostei muito do teu escrito.
Bjinho
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