Nas últimas semanas andei de novo com Saramago, através da “História do Cerco de Lisboa”, da “Biografia José Saramago” ( João Marques Lopes) e da “Viagem a Portugal”. Como sempre fico enfeitiçada pela sua forma de escrever dizeres do quotidiano com um humor de quem vê e se revê em ditos e provérbios populares, pelas associações e considerações de natureza social e política que deixa passar de mansinho , pela forma como se deixa conhecer.
A “História do Cerco de Lisboa” nasceu de uma ideia travessa . É a história do revisor tipográfico Raimundo Silva que um dia, ao rever as provas de um livro sobre a história do cerco de Lisboa e ao chegar ao ponto em que os Cruzados dizem “sim” ao convite de Afonso Henriques para ajudar no cerco e conquista da cidade, substitui o “sim” por um “NÃO” …
E é esse gesto impulsivo, inexplicável, imperdoável para quem é o melhor revisor da editora que transforma um homem solitário, simples e monótono num homem que aprende a ser feliz! Entretanto interroga-se : porquê esse “não”? Talvez porque “é um homem vulgar que só se distingue da maioria por acreditar que todas as coisas têm o seu lado invisível e que não saberemos nada delas enquanto não lhes tivermos dado a volta completa”.
E depois teve sorte … obteve o perdão do historiador que “corrigiu” , encontrou quem acreditasse nas suas capacidades como escritor e o estimulasse com um desafio : escrever a “História do Cerco de Lisboa” sem a ajuda dos Cruzados!
Os entretantos, só lendo …
A Biografia acompanhou a distribuição da “Visão” e do “Expresso” e, embora já tenha lido outras, achei esta muito bem feita.
Para além do percurso do “menino pobre” que nasce na Azinhaga em 1922 até à sua morte, passa em revista diferentes períodos da sua vida, quer no que se refere à sua aprendizagem formal e informal, quer às suas diversas actividades e interesses ( serralheiro mecânico, empregado administrativo, escriturário, jornalista, editor, tradutor, escritor!). É também um percurso pelo tempo em que a censura e a militância política marcavam os dias, explicações sobre os vários incidentes em que esteve envolvido pós-25 de Abril e ainda algumas notas esclarecedoras sobre a génese de cada um dos seus livros e como se preparava para os escrever . E também alguns apontamentos sobre a sua vida pessoal , as suas preferências literárias, o seu amor por Portugal e por Lanzarote.
Vale a pena ler. Ainda está nas bancas de jornais.
A “Viagem a Portugal” ainda não acabei. Foi escrito antes daquela inspiração que o pôs “a escrever assim : interligando, interunindo o discurso directo e indirecto, saltando por cima de todas as regras sintácticas ou sobre muitas delas!” ( Saramago, citado na Biografia). Não é no “estilo saramaguiano” mas é com todas as outras particularidades do seu discurso. São mais de 600 páginas e estou a ler como se duma viagem se tratasse … depois conto.
2 comentários:
Tambem sou f~~a!
Já li muitos livros de Saramago que admiro bastante mas ainda não li este!
Abraço
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