quinta-feira, 25 de março de 2010

“Os jardins da Luz “ de Amin Maalouf



Já li há umas semanas mas ficou sobre a mesa a aguardar o comentário que queria deixar aqui.
É a história de MANI ( 216 d.C – 274 d.C), pintor, médico, filósofo e profeta que surgiu no início da expansão do cristianismo perto das margens do rio Tigre, em Marinu e foi o fundador do maniqueísmo.

De si próprio diz :” vim do país de Babel para fazer ecoar um grito através do mundo” – um grito conciliador entre os adoradores de Jesus, de Zoroastro, de Buda e de todas as outras divindades como Nabu, deus do conhecimento, das coisas escritas, das ciências ocultas. Nabu estava acima de todos os outros deuses da região, seguido por escribas, médicos, astrólogos ; tão importante que todos os soberanos da Babilónia o assumiam no nome : Nabucodonosor, Nabupolassar, …
O pai de Mani era fiel a Nabu, um “indagador da verdade”. Um dia encontrou-se com um sábio natural de Palmira, deixou-se atrair pelo seu discurso e abandonou casa, negócios e família para se juntar à comunidade que vivia num palmeiral, junto ao rio – os “monges-brancos” ( invocavam João Baptista, Jesus, Adão e Tomé, eram fundamentalistas e ermitas).
Mani foi levado pelo pai para a comunidade e cresceu “com sabedoria e astúcia” não se cansando de repetir para si próprio : “ é a mimar os gestos do mundo que se aprende a sua futilidade”. Lia muito, pensava, isolava-se e um dia teve a revelação do caminho que deveria seguir mas o “seu gémeo, que lhe falava, fê-lo esperar até aos 24 anos para abandonar o palmeiral e começar a espalhar a “sua palavra”.
O que pregava ? Coisas simples como : “ em todos os seres, tal como em todas as coisas, ombreiam e imbricam-se luz e trevas … a luz em cada ser alimenta-se de beleza e conhecimento …”. Perante todos os sacrifícios impostos pelas várias religiões, observando práticas corruptas e assassinas de sacerdotes de vários deuses, dizia : “ às vezes pergunto a mim mesmo se não é o senhor das Trevas que inspira certas religiões, no simples intuito de desfigurar a imagem de Deus”. Sobre o papel do Homem na Terra, pensava : “Deus, que é luz pura, conhecia mal o mundo das trevas tendo então chamado o primeiro homem para lhe dizer : tu, em cujo seio ombreiam luz e trevas, és o melhor aliado que eu posso ter, és a ratoeira armada pela luz às trevas. É a ti que confio a tarefa de dominar a Criação e de a preservar”. Considerava-se também um sucessor de Jesus e repetia a mensagem divulgada por Tomé.
Dizia-se mensageiro “ do Rei dos Jardins de Luz”, “ professando todas as religiões e nenhuma …” em cada crença sabei achar a substância luminosa e separar as cascas “…

E foi por respeitar todas as crenças, defender o diálogo e a tolerância que acabou sendo condenado e morto.
Deixou um livro, “ A Imagem” no qual explica o conjunto das suas crenças através de uma sucessão de pinturas, sem palavras – uma forma de se dirigir a todos os homens. Não quis ser enterrado para que o túmulo não fosse local de peregrinação e os discípulos juraram passar a chamar-lhe “Mani-Havy” ( Mani, o Vivo). Os gregos transcreveram para Manikhaios ou Manikaeus .
Os maniqueístas são cristãos, nem sempre bem compreendidos tal como o termo “maniqueísta” - a Luz e as Trevas não é bem a mesma coisa do Bem e do Mal . Talvez por serem uma religião conciliadora, extinguiram-se …

Amin Maloof é libanês e vive em Paris. Tem vivido e escrito com o propósito de promover o diálogo entre oriente e ocidente, de estimular o respeito pela diferença. Para além deste livro vale a pena ler outros : “ As Cruzadas vistas pelos Árabes”, “Samarcanda”, “O Rochedo de Tanios”, “Origens”, … e o último, “Um Mundo sem Regras” – uma visão pessoal, realista e fundamentada dos problemas do mundo actual.

1 comentário:

Mar Lis Goiaba disse...

Obrigada pela tua partilha.Deve ser um livro muito interessante. Vai ficar na minha lista de espera.