segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

S. Bonifácio, a Árvore de Natal e o fanatismo religioso

Parece uma mistura pouco oportuna mas vem a propósito do último filme que vi : “Ágora” - de como o fanatismo religioso dos cristãos contribuiu para a queda do Império Romano, para a expulsão dos romanos e judeus de Alexandria e para a destruição de muito Conhecimento acumulado e de outro em construção … Claro que o mesmo se passou recentemente com a destruição dos Budas de Bamyan , com o saque a museus do Iraque e com as limitações ao desenvolvimento científico de comunidades impregnadas de fanatismo religioso.

E porquê S.Bonifácio e a Árvore de Natal?

Conta-se que era monge, natural de Inglaterra e que emigrou para a Alemanha por onde espalhou a sua crença, “fundou mosteiros e criou dioceses” ( 880 d.C), sobretudo na região da Turíngia. Em Hessen terá ordenado o derrube de um grande carvalho a que “os pagãos” prestavam culto por acreditarem que ali morava o deus Odin ( deus celta, adorado pelos druidas e muitos povos germânicos) . Muitos “pagãos” assistiram ao derrube da árvore na esperança de que o seu deus ofendido se vingaria de S. Bonifácio. Nada aconteceu a não ser umas quantas conversões ao catolicismo … ( com os romanos “pagãos” daquele filme também!).
Sobre o local da árvore derrubada foi erigida uma Igreja dedicada a S.Pedro mas o culto da “árvore” cresceu … e o mesmo S.Bonifácio terá começado a usar a forma simbólica do abeto ( de perfil triangular), como representação da Santíssima Trindade e até impôs o costume de se oferecer uma árvore ao Deus-Menino ! Tentou integrar o culto da árvore mas substituiu o carvalho pelo abeto … Com uma razão : sendo de folha perene simbolizava a vida eterna, “ um dom de Jesus ressuscitado” e a cor verde das folhas seria um sinal de esperança.
Claro que o poder muda de mãos e S.Bonifácio foi mais tarde martirizado e decapitado pelos “pagãos”…

( porque será que nunca nos lembramos disso ?!!)

Já era tradição dos povos habitantes da Escandinávia e de outras regiões do actual Reino Unido e Alemanha, adorarem seres incorporados em árvores e quando por fé ou conveniência se tornaram cristãos, integraram árvores de folha perene ( pinheiros, ciprestes, abetos) nos rituais cristãos – seguindo prudentemente o exemplo do Santo …

Sabe-se que os Vikings consideravam o pinheiro um símbolo do fim do Inverno e início da Primavera, que os druidas da antiga Inglaterra e França decoravam árvores com frutas e velas para honrar os deuses das colheitas, que os romanos decoravam pinheiros com máscaras de Baco durante o festival em honra de Saturno, deus da agricultura (no fim de Dezembro) e usavam o azevinho como símbolo de paz e fertilidade ; também os egípcios traziam para casa ramos verdes de palmeira no dia mais curto do ano ( solstício de Inverno), como símbolo de triunfo da vida sobre a morte.
Diz outra lenda que se deve a Martinho Lutero( 1483-1546) a iluminação das árvores de Natal … ao caminhar por uma floresta à noite teve a ilusão de ver as árvores cobertas de neve brilhar com as estrelas do céu e de ver, no topo de uma delas, uma grande estrela. Cortou um pinheiro, levou-o para casa e colocou velas nos ramos.

O costume popularizou-se na Alemanha onde as famílias, no Natal, decoravam árvores com frutos, doces e flores de papel vermelhas e brancas ( as vermelhas representavam o conhecimento e as brancas a inocência).

No início do século XVII a tradição chegou à Grã-Bretanha mas só se consolidou depois da publicação de imagens da rainha Vitória, do príncipe Alberto e filhos junto a uma árvore de Natal que teria sido decorada pelo príncipe com frutos, velas e gengibre ( 1846).
Para os Estados Unidos foi levada pelos soldados alemães que combateram na guerra da independência e em 1856 há imagens da Casa Branca enfeitada com uma Árvore de Natal.

Em Portugal, sem grandes tradições pagãs, a árvore de Natal chegou muito mais tarde. Nos anos 50 ( do século passado!) ainda era mal vista nas cidades e no campo era quase totalmente ignorada. Depois … é o que já sabemos.

Sobre a Árvore de Natal e os seus enfeites há ainda interpretações cabalísticas interessantes mas fica para outra vez porque vou primeiro ver se aprendo …



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