quinta-feira, 18 de setembro de 2008

SIM ou NÃO?

“PONTE SOBRE WADI” é uma escola judaico-árabe, no seu segundo ano de funcionamento. Situa-se em Wadi, zona árabe de Ara, em Israel . É habitada por israelitas e palestinianos que decidiram fazer algo para melhorar o conhecimento entre as duas comunidades, na esperança que os filhos encontrem mais razões para se unirem do que para se matarem.
Parece ser uma óptima ideia.
As crianças aprendem as duas línguas, os dogmas religiosos do islamismo e do judaísmo, a história dos dois povos, os hábitos e os tabus, a forma de estar nos quotidianos familiares, os interesses de uns e outros.
Os livros estão escritos nas duas línguas e, nas salas de aula, as crianças ajudam-se nas aprendizagens da língua que lhes coloca maior dificuldade.
Festejam em conjunto as festas de cada comunidade, visitam a Mesquita e a Sinagoga, cumprindo práticas específicas em cada um dos espaços, aprendem o Corão e os livros sagrados judaicos. Aprendem a conhecer e a compreender o que lhes parecia estranho.
A Escola foi desejada pela comunidade, tem a participação activa dos Pais e dos professores árabes e israelitas. Nas Assembleias de Escola, muito participadas, pais e professores discutem as opções que se vão tomando e nem sempre estão de acordo.
Os Pais (israelitas e árabes), promovem passeios e fins de semana dos seus filhos com os amigos da outra comunidade e tentam integrá-los no quotidiano de cada um: alimentação, hábitos de casa, diversões e interesses.
É aí e nas aulas de História e Religião que surgem alguns problemas e interrogações.
Nem os pais árabes nem os pais judeus querem que os seus filhos esqueçam as suas culturas e há pais que se interrogam: “ Será correcto o que estamos a fazer? Não seria melhor termos apenas uma escola bilingue em vez desta concepção binacional? “
Duas crianças conversam sobre o futuro
-“ Quando for grande, sou obrigado a ir para a tropa como todos os israelitas e posso ter de combater o teu povo”
- “ Se o fizeres vou a tua casa e ponho uma bomba” …
Num passeio de fim de semana com uma família palestiniana, num momento de pausa junto a um lago, a criança israelita pergunta:
- “ A tua filha poderia ir a casa de uns rapazes meus amigos para brincarmos?
- “ Só podia até aos 5, agora não” – comenta o pai
- “ E se ela se apaixonar, pode dizer-te?
- “ Ela é educada para não se apaixonar antes do casamento”
- “ Mas ela tem sentimentos … Há-de gostar de algum rapaz. Porque é que pensa assim? “
- Há milhões de árabes que pensam assim e se ela fizer o contrário, mato-a e entrego-me à polícia”.
A criança judia olha-o perplexa, a criança palestiniana continua a comer uma espiga de milho, olhando para longe com um olhar ausente.

Numa aula de História (dada por dois professores), a professora israelita fala do “Dia da Independência” como o mais importante e feliz para os israelitas. A professora palestiniana, com a voz a tremer de emoção (e raiva …) fala desse mesmo dia como o mais triste para o seu povo, expulso das suas casas e da sua pátria. Há crianças israelitas com lágrimas nos olhos por, dizem, terem vergonha do seu povo ter causado tanta dor …
Numa Assembleia de Escola, uma mãe palestiniana conta da sua tristeza por não ter podido visitar a irmã cujo marido acabara de falecer - foi impedida por um posto de controlo israelita.

SIM ou NÃO? A verdade é que, no 2º ano de funcionamento a Escola: “Ponte sobre Wadi” abriu com o dobro dos alunos. Três anos depois como será?

Nota : sobre esta Escola foi feito um filme que vi no canal Odisseia.

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