terça-feira, 22 de junho de 2010

O Homem, o Macaco e o Lobo


Li a entrevista de Mark Rowlands à revista “Visão” desta semana, anotei para comprar o livro que escreveu, “ O Filósofo e o Lobo” mas deixo aqui parte dessa entrevista para reflectirmos :
“Nasceu no país de Gales, frequentou um curso de engenharia e queria ser surfista profissional. Acabou por doutorar-se em Filosofia, andar de país em país por escolha própria e escrever livros dedicados ao estatuto moral dos animais. Filho de um polícia e de uma professora, Mark Rowlands, 47 anos, docente universitário viveu, dos 27 aos 38 anos,com um lobo. Esta jornada levou-o a tecer algumas considerações acerca da natureza humana. …
Que razões o levaram a querer ter um lobo como animal de estimação? Assim que comecei a trabalhar como professor universitário, nos Estados Unidos, senti falta de um animal de companhia como os grand danois que tinha na casa de família Comprei o jornal local [no Estado do Alabama] e encontrei um anúncio que me chamou a atenção: "Crias de lobo para venda, 96 por cento". O meu destino foi traçado a partir daí. …
Como foi para si lidar com isso? Estudei programas de treino e ensinei-o a comportar-se em sítios públicos, por exemplo. Fui aprendendo com ele, um dia de cada vez. Sempre nos demos bem, nos transportes públicos ia de trela comigo e nunca foi agressivo. …
O que significava Brenin para si? Era como um irmão. Um amigo que me merecia uma grande admiração, pela sua força de carácter. Vou lembrar-me sempre da reacção de Brenim em situações críticas, como a que testemunhei uma vez com um pit bull de um amigo meu: na iminência de ser atacado mortalmente, a sua postura era de calma desafiante, mas nunca de desespero. Ele tinha apenas dois meses.
Esta experiência levou-o a questionar mitos, no plano filosófico?
Fez-me investigar o lado obscuro dos atributos vulgarmente associados à nossa superioridade sobre os outros animais: a inteligência, a moral e a consciência de que somos mortais. O que nos distingue enquanto espécie não abona a nosso favor.
Porquê? Como fundamento no livro, a raiz da inteligência assenta na capacidade de enganar e manipular; a moral alicerça-se no poder e na mentira; a consciência de que vamos morrer leva-nos a tomar decisões duvidosas como lutar e ter sucesso para dar um sentido da vida, o que nos torna infelizes.
Parece que o mau da fita não é o lobo.
Criou-se essa ideia porque em tempos remotos eles competiam com os humanos por alimentos. A nossa espécie trilhou um caminho evolutivo discutível e gosto de usar a metáfora dos nossos dois lados, o primata e o lupino. O macaco - e eu também tenho um! - faz tudo para ter poder e chegar ao topo, sendo capaz de premeditar, fazer alianças, manipular e dissimular. O lobo equivale à parte de nós que olha para essas questões com desprezo. Gosto da minha faceta de lobo, mas detesto a outra.
E como gere essa faceta na sua vida diária?
(pausa) ... É uma boa questão. Talvez tentando manter as coisas em perspectiva, porque uma vida assente no conceito de sucesso não compensa. Talvez a felicidade não seja isso, mas antes o fazer coisas boas, ser uma pessoa boa. E mesmo a inteligência, por mais útil que seja, pode ser usada para coisas terríveis, como a extinção de outras espécies. “ …

1 comentário:

ZIA disse...

Foi bom teres partilhado esta entrevista que também li e que me fez reflectir. Muito curioso este relacionmento. É bem verdade, pelo que estamos sempre a descobrir no comportamento dos animais, que a questão da superioridade se deveria equacionar em outros moldes, muitas e muitas vezes!
Abraço
ZIA