segunda-feira, 30 de junho de 2008

Ausência…

A “nossa mãozinha” MAR vai estar ausente por um tempo, férias merecidas!
Vai trazer-nos de Londres a sua reportagem. Ficamos à espera!

Subida dos combustíveis

Face aos protestos das últimas semanas, estimulados pela subida dos combustíveis e da maior parte das matérias primas e dos bens essenciais, apetece-me transcrever uma nota do Editorial do Expresso de 28 de Junho :

“ Um dia são os camionistas, outro os taxistas, outro ainda os agricultores. Todos vão bater à porta do Governo para pedir mais dinheiro, porque a vida está difícil.
É curioso como neste rodopio se parte do princípio de que o Governo dispõe de verbas que não venham dos contribuintes. Ou seja, de todos nós, para quem a crise também existe. Por isso, cada vez que há uma reivindicação, é o nosso dinheiro que pedem. Dinheiro que jamais irão devolver”.

Este processo de alguns sectores se acharem no direito de ser recompensados ou apoiados sempre que alguma coisa corre mal até podia ser justo se, quando o ano agrícola, por exemplo, é excepcionalmente bom, houvesse uma reposição “ a todos nós” – ou seja, aos que trabalham, recebem salário, pagam tudo mais caro mas não podem “encarecer” o seu produto para compensar. E também seria justo atender às reivindicações de cada um dos sectores que se têm manifestado se os outros trabalhadores fossem recompensados com subidas proporcionais nos seus salários.
Como não é assim, é melhor convencermo-nos de que o que é justo é que todos suportem a crise e que globalmente se encontrem estratégias de superação.

domingo, 29 de junho de 2008

120 anos

Assinalamos hoje, com este poema,
os 120 anos do nascimento de Fernando Pessoa....


Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida.
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso
É tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças.
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...

Fernando Pessoa

sábado, 28 de junho de 2008

TRADIÇÃO DOS MERCADOS DE BAIRRO


O mercado tem uma importância vital para um bairro. Talvez se esteja a perder estes espaços de comércio personalizado que, para além de oferecer os produtos frescos é lugar de encontro de muita gente, especialmente população menos jovem, que tem o hábito de, todos os dias, comprar o pão fresco, a fruta, o peixe e ficar à conversa com aqueles que já conhecem de longa data.
Quando um conhecido não aparece pergunta-se, o que lhe terá acontecido e vai-se sabendo que a D. Ana caiu e partiu uma perna ou que a D. Rosa está agora em casa da filha, etc.
Este convívio tem um certo parentesco com os meios pequenos em que todos se conhecem e tem os seus inconvenientes, mas tem, por outro lado, a sensação agradável de uma protecção visível e um tratamento individualizado que é saudável. Tratam-se as “senhoras” por “meninas” mesmo que elas tenham mais de sessenta anos. É uma forma de acarinhar e de respeitar.
Neste mercado, há um pouco de tudo: flores, padarias, peixe fresco e congelado, talhos, charcutaria, hortaliças, frutas, roupas, cafés, restaurantes, papelaria, perfumaria e um mini supermercado onde não falta o essencial.
Não é necessário ir aos grandes supermercados e isto torna a vida desta gente mais cómoda. Privilegia as pessoas que não têm transporte e é interessante observar a quantidade de mulheres de todas as idades que têm o seu carrinho de rodas fazendo o transporte tranquilamente para casa.
Nas datas festivas há ornamentos no mercado. Agora, que festejamos os Santos Populares, lá estão os frisos de papeis coloridos e os tradicionais balões a enfeitar.
A ASAE vai passando de vez enquanto e eles tentam cumprir as normas, nem sempre com boa cara, porque há pormenores de muito exagero.
Se eu pudesse filmar faria um documentário interessantíssimo, porque tinha material para isso: espaço cénico, dezenas de personagens, valores históricos, sociais e culturais de grande valia.
Espero que o futuro não nos traga grandes alterações, que estes espaços tão ricos e tradicionais se mantenham. Digo isto porque já ouvi falar numa possível desactivação deste mercado e do aproveitamento desta área de terreno para construir outros edifícios que tragam mais rendimento.
Tudo é possível…sempre o poder e a ganância foram destruindo locais de interesse público.


sexta-feira, 27 de junho de 2008

LIXOS NA CIDADE

Estas imagens foram captadas por telemóvel, hoje, ao meio-dia, mas poderiam ser de ontem ou de amanhã porque, todos os dias, há mais do mesmo. E se vos disser que neste bairro existe um Centro de Recolha de Lixos, a 100m deste local, não vão acreditar.
Como queremos educar se continuamos calados, tolerando este tipo de atitude por parte dos Serviços de limpeza da C.M. de Lisboa?
Tanto gasto de dinheiro em publicidade inútil!
Reciclar? Como?.....
Poucos ecopontos e, normalmente, cheios durante dias e dias.
Depois, as ruas sujas, com dejectos de cães, pontas de cigarro, latas e garrafas de cerveja, cartões de embalagens e outras tantas peças de entulho.
Claro que o cidadão não é cívico, mas também o cuidado de manter a limpeza e a quantidade de depósitos de lixo não é analisada e gerida de modo diferenciado, conforme o tipo de bairro.
Pensou-se que íamos melhorar estes serviços com a Presidência do Dr. António Costa, mas…não se consegue vislumbrar a diferença…
Vivi em Linda-a-Velha durante largos anos e posso garantir-vos que o trabalho da C.M. de Oeiras era fantástico, sempre as ruas limpas, muitos ecopontos, lixos recolhidos todos os dias, espaços verdes bem cuidados.
Por que é que certos municípios não conseguem a mesma qualidade?



quinta-feira, 26 de junho de 2008

UFFF! JÁ ESTÁ FEITO!


UFF! Acabou o meu ano escolar e respiro de alívio. Já estou de férias!
Fiz ontem o exame final de Italiano e, como vai sendo hábito este ano, também eu, como aluna, posso dizer que a prova de exame foi mais fácil do que as que realizei durante o ano lectivo. Mas, que importa, o essencial é que está feito e, independentemente do resultado, que só sairá daqui a uns dez dias, fiquei contente com a prova: primeiro porque cumpri uma das tarefas a que me propus, assim que me «aposentei» - odeio este verbo mas é o que existe porque «reformada» também não me satisfaz, cheira a arrumada numa prateleira e isso não estou, acreditem; em segundo, porque estou a realizar um sonho antigo de aprender esta apaixonante e melodiosa língua e em terceiro, porque, como já disse há uns tempos, foi bom voltar à escola, sentir o lado de lá, viver a situação daquele que aprende e também porque tive, como colegas, pessoas bastante interessantes, de diferentes idades e profissões, com motivações e interesses bem variados e, todos soubemos conviver de forma muito saudável e mesmo divertida. Muitas e boas gargalhadas dei nas aulas com situações bem engraçadas pelas quais passámos, sempre com a cumplicidade das duas professoras que tive, uma em cada semestre.
Ontem, como qualquer estudante em dia de exame, senti um friozinho na barriga, um bater mais acelerado do ritmo cardíaco, um turbilhão de ideias, palavras, regras gramaticais e de ortografia e o pavor de …ter uma branca! Éverdade, já nem sabia bem como era, mas que elas, as brancas, existem lá isso é verdade! E também me preocupei com as duas canetas, não fosse uma falhar, o lápis e a borracha mais o papel de rascunho e…embora tenha chegado em cima da hora da chamada, ainda troquei umas palavras de nervosismo, de estímulo e boa sorte com os colegas que enchiam por completo o acesso à Sala Pirandello, a minha sala de todo o ano!
Depois, lá pus em prática as normas que sempre quis passar aos meus alunos – ler o texto todo, devagar, não ter pressa em responder, tudo com muito cuidado, muita atenção às armadilhas, convocando toda a concentração, todos os meus sentidos sem me esquecer dos anjinhos da sabedoria. Depois… foi trabalhar, de forma empenhada durante cerca de uma hora e meia…e dar por acabado o trabalho de um ano inteiro!
Em Outubro, se tudo correr bem, lá estarei, no regresso às aulas, de livro novo, caderninho e canetas a estrear e a alegria de voltar à escola!
Buone vacanze a tutti!!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

OS EXAMES DE MATEMÁTICA

Se os exames são difíceis, os autores não tiveram em atenção as exigências da aprendizagem e comprometem um ano de trabalho em 90 minutos de prova.
Se não se ajuíza a natureza das provas mas os alunos têm maus resultados, os professores não cumpriram os programas, os alunos não estudaram o suficiente para ultrapassar dificuldades e ganhar automatismos.
Se os exames surgem sem “modelos de referência” o Ministério da Educação quer surpreender e fazer do exame uma caixinha de surpresas.
Se são divulgados modelos e muitos testes para “treino”, os professores perdem muito tempo a ensinar em função do exame e isso é mau.
Se os alunos dizem que o exame correu melhor do que esperavam, os exames são fáceis e o Ministério da Educação trabalha para as Estatísticas.

É preciso ter muita paciência para tanta falta de objectividade!
Se calhar, os exames até estavam um pouco desajustados da forma como se tem de processar a aprendizagem, dada a extensão dos programas, as dificuldades acumuladas pelos alunos e a carga horária da disciplina. E em relação ao 12º ano talvez se tenham ajustado às exigências do Ensino Secundário e não às dos diferentes Cursos Superiores.
Se calhar tiveram-se em consideração críticas desse tipo que foram feitas e os exames deste ano aproximaram-se da aprendizagem … ou esta se aproximou do que foi sendo “padrão” nos exames dos últimos anos.
Se calhar, as medidas implementadas para melhorar o ensino da Matemática
(formação de professores, planos de recuperação, …), divulgação atempada dos resultados das provas de aferição, …, estão a ter algum efeito. Mau seria se assim não fosse.

Que tal pensar que é por mérito de todos (alunos, professores, pais, autores dos exames, Ministério da Educação) que os resultados são melhores?
Não dói nada e talvez faça bem não estarmos sempre a dizer mal, sobretudo quando não se sabe fazer melhor.

Nota: os opinadores de serviço escolhem, por épocas, os gurus de serviço: agora, é Nuno Crato. Que seja. Como todos, terá razão em alguns aspectos e fará demagogia fácil noutros. Importante é que escreve em jornais e isso é uma garantia … Já tivemos outros de que poucos se lembram.

terça-feira, 24 de junho de 2008

A Autocura e “o segredo”

Ontem tive a oportunidade de assistir na TV a uma mesa redonda com jornalistas da nossa praça que tinham agendado analisar vários factos ocorridos durante a semana. Um deles, aquele que mais me despertou a atenção, visava a visita a Portugal de Bob Prtoctor, um dos 24 co-autores do livro “o segredo”, livro traduzido em várias línguas e com uma venda de 100 mil exemplares.
Irritou-me a critica desses jornalistas que não sendo especialistas nesta área, não souberam separar o trigo do joio e ridicularizando a obra, apelidaram-na de mau gosto e para mentecaptos. Sobretudo confundiram o livro e a sua autora, Rhonda Byrne, com o Sr. Bob Proctor que fez a palestra.
Claro que somos livres de opinar. Aceito. Mas, seria bom entender que a mensagem fundamental deste livro é boa, o suporte comercial e a falta de argumentos mais profundos é que não se justificam e deixam parecer, como dizia um dos jornalistas, que se trata de “banha da cobra”.
Eu já conhecia “O Segredo” há algum tempo, muito antes da publicação em Portugal e também já vi o filme.
Não me trouxe nada de novo, mas compreendi que o sucesso seria fácil, neste momento, em que o Mundo está preocupado com todos os males que estão a ocorrer, e que uma promessa de sucesso pessoal, como a que é proposta, com os sonhos realizados, era uma abertura para a esperança.
Porém, não é fácil adquirir esse poder pessoal nas nossas vidas diárias.
O “segredo” tem na sua mensagem a lei da atracção, o que pensas e o que fazes, quer de bem ou de mal, é-te devolvido. Logo, para adquirir todo o bem que desejamos é necessário investir no perdão, no amor, na compreensão, na saúde, na fé, etc., etc. Acontece que só as palavras não chegam, é necessária a acção. E esse entusiasmo que o livro transmite fica um tanto frouxo porque, como dizia Cristo, “somos homens de pouca fé”. Na sociedade, na família, estamos sempre a interagir com confronto, critica, zanga, conflito. Este é o SER HUMANO dual, temos o bem e o mal, mas…nem sempre conseguimos equilibrar estas forças.
Portanto, eu acredito que os princípios do “segredo” funcionam, mas só com aqueles que forem capazes de progredir espiritualmente.
Estas mensagens de autoajuda que estão a chegar, cada vez com mais força, não são por acaso. De facto, estamos a caminhar para uma nova era que visa o nosso autoconhecimento, as nossas potencialidades escondidas e até aquilo que considero muito importante – a capacidade de autocura.
Está provado que as nossas células nos ouvem e se as conservarmos saudáveis, dispensando-lhes alguma atenção, elas vão “obedecer”. Agora, se estivermos sempre a lamentar a falta de saúde e se tivermos medos, cuidado!
Jesus Cristo foi um grande mestre, que nos deixou muitos “segredos”. Passaram-se 2000 anos e chegam-nos agora escritos de outra maneira, mas com a grande sabedoria de Deus.
O Segredo dá ferramentas que precisamos de usar se queremos uma vida com mais energia e sabedoria.
Os senhores Jornalistas só devem ter pensado na parte material deste livro – a promessa de ser rico e de ter a casa e o carro de sonho. Dessa parte também não gostei mas gostaria de ter capacidade para acreditar!


segunda-feira, 23 de junho de 2008

Deve haver outras “Terras”



Li há dias que foram descobertos 3 novos planetas em órbita numa outra estrela, fora do Sistema Solar. Foi uma descoberta recente de astrónomos suíços e franceses que admitem ser possível muitas estrelas semelhantes ao Sol (cerca de 1/3 das conhecidas), terem planetas em órbita.
É magnífico! Não estamos com certeza sós. Haverá outros seres, física e mentalmente diferentes mas não necessariamente monstruosos como por vezes a ficção quer fazer crer. Dizem alguns iluminados que os Humanos são uma espécie colocada na Terra para aprender a superar-se e a regenerar outras espécies … Pode ser.

E já agora, a propósito do nosso Sistema Solar, as crianças vão passar a aprender que dele fazem parte apenas 8 planetas principais e que, para além dos satélites há uma nova categoria de planetas, “os plutóides”. É que Plutão foi despromovido de “principal” e, para lhe restituir a dignidade, passou a fazer parte dessa nova categoria onde só há mais um, o Eris – responsável pela desclassificação do seu par, uma vez que é maior do que Plutão e está mais afastado do Sol. Parece que se admite poder encontrar outros e aí os planetas principais sentir-se-iam diminuídos… Então, estes planetazinhos que conseguem aguentar-se na órbita do Sol ganharam direito a ter uma “classe” mas, no fundo, são “planetas anões” – foi a decisão recente da União Astronómica Internacional.

Também me chamaram a atenção, quando da passagem da última Lua Nova, (agora a Lua está Cheia), para observar três dos planetas principais: Marte, Saturno e Júpiter. Os dois primeiros aparecem a oeste, acima do horizonte, logo que o Sol se põe. Júpiter “nasce” a leste, também ao princípio da noite.
Vão ser visíveis durante algum tempo mas, com menos luar, vêem-se melhor.
E a propósito de Marte, deixo uma imagem do Pólo Norte onde, a 25 de Maio “aterrou” a sonda Phoenix. Não parece muito diferente de algumas paisagens terrestres … e só está a 679 milhões de quilómetros e a 9 meses de viagem.

Às vezes, é bom “sairmos” da Terra (mesmo com a globalização…) e sentirmos como somos um ponto no Universo. Mas, talvez seja bom também assumirmos que desenvolvemos formas de vida “únicas” que devíamos amar e preservar.

domingo, 22 de junho de 2008

Hoje sou EU


Resolvi fazer, excepcionalmente, o que outros gatos têm feito, em livros e blogs: resolvi ser eu a vir dizer que estou óptimo. E, se julgam que me tiraram umas bolinhas para ficar mais manso, eu vou surpreender-vos porque eu já estava o mais manso que queria estar. E é assim que continuo, de manhã, quando a minha dona vai pôr as lentes de contacto, a correr rápido para deitar as tampinhas ao chão, seguindo directo a morder o fio do ferro de engomar e logo de carreirinha deitar ao chão a garrafa da água – este é o meu ritual matinal e agora, até me sorriem… Se me deixarem de fazer cara feia e aquela voz de “proibido”, estão feitos …

Mas eu há dias senti-me mesmo mal: enjoado, tonto, infeliz, uma desgraça. Depois tinha ali umas “partes” com um ar muito nojento, com um pó pastoso
e uns fiozinhos de coser que ainda me fazem comichão. É que se julgavam que era fácil tirar o que era meu, enganaram-se: eu escondi uma “bolinha”, disfarcei-a com gordura e zás … enganei aquela veterinária metida a esperta. Só que ela tinha a “faca e o queijo” na mão. Apanhou-me a dormir e cortou. Safada! Também lhe rosnei com ar feroz mal abri o olho. Depois, impingiu à minha dona (“dona” é modo de dizer, ela só manda quando eu deixo), uma gola monstruosa para eu usar e ficar sem me poder lavar. Está bem, está! Bem tentaram colocá-la mas eu não deixei. Era o que faltava! E lambi-me tanto quanto quis. E cocei-me porque ainda anda por aqui uma pulguita … e tenho dormido muito bem.
No dia em que me fizeram estas maldades também acabou por ser bom porque ao fim do dia, menos enjoado, comi “imenso” mousse de salmão, dado pelo dedo da minha dona. E eu até me lembrei de o comer assim quando era muito pequenino e estava doente – uma pneumonia, dizem, da chuva que apanhei antes de me encontrarem ou melhor, antes de eu me fazer encontrar. E depois do salmão até bebi água da tigela. Vi que a minha dona ficou muito contente mas eu vou voltar à torneira. Ela tem de perceber que eu faço o que acho melhor para mim. Se não a ensinar desde pequeno, o meu futuro ficará muito cinzento.
E disse.

Nota : vou deixar aqui duas frases muito interessantes que ouvi, citadas de um livro sobre gatos:
- “ Os cães pensam que são humanos; os gatos pensam que são deuses” (aí está porque me chamo AMON).
- “ Os cães têm donos: os gatos têm pessoal auxiliar” (desta é que eu gostei mesmo! )

sábado, 21 de junho de 2008

REENCONTROS

Ontem, encontrei-me com colegas de trabalho para festejarmos o 50º aniversário de uma escola onde trabalhámos grande parte das nossas vidas. Devo confessar que tinha um certo receio que essas memórias viessem encher o meu coração de alguma tristeza.
Mas afinal foi divertido, apesar de o tempo ter passado e de não nos vermos há já alguns anos, concluímos que a maior parte estava com muito bom aspecto. Os anos não tinham deixado marcas… Até, com alguma graça, os mais novos, que ainda estão no activo, olhavam para nós com uma certa admiração.
Pois é, pena tenho eu deles, neste momento, porque estão vivendo uma vida profissional desmotivadora, onde não há tempo para um trabalho rigoroso, nem para um maior convívio, nem para nada que não sejam as burocracias destas novas exigências da Ministra da Educação.
Sempre me debati por algumas renovações e responsabilização educativa, criticando no passado alguns colegas que faziam da profissão um part-time. Tive alguma esperança, no início do reinado Sócrates, mas depressa compreendi que, mais uma vez, não temos uma politica educativa correcta. Agora, exagerou-se.
Também não compreendo porque o Ministério da Educação desperdiça recursos humanos válidos para a formação dos professores; professores que se reformaram ainda com boas capacidades de trabalho e que poderiam disponibilizar muito da sua experiência. Seria uma aposta com mais sucesso do que o trabalho de alguns elementos da equipa da ministra, que são tecnocratas de gabinete e que não têm experiência prática no campo da educação. Teóricos há muitos. Hoje é fácil escrever um livro, os recursos bibliográficos em vários suportes facilitam essa tarefa.
Mas ter uma experiência de 37 anos, com percurso por várias reformas, desempenho de diferentes cargos e até alguma inovação poderia ser um recurso importante.
Levamos uma vida a aprender, a experimentar, a tirar algumas conclusões e, quando estamos seguros, vamos para casa e arrumamos tudo numa gaveta. Faz impressão, mas é assim.
Há profissões que permitem continuar: médicos, advogados, arquitectos, engenheiros, etc.Que sorte a deles, não só pelos benefícios materiais, mas por poderem continuar a legar a sua experiência a outros mais novos.
Mas voltemos ao cenário da festa de comemoração de meio século da escola e descrever uma exposição de fotografias que fazia parte dos eventos do reencontro. Fotografias históricas do ano 1958, anos 60 e PUM!!! Acabou ali. Ficou por fazer a história até 2008! Não por falta de material fotográfico, mas por falta de Tempo?!!! Será mesmo verdade que os colegas de hoje não têm tempo para nada?!!! Prefiro acreditar nisso.
Não sou daqueles que põem as culpas nas gerações mais recentes apelidando-os de insensíveis. Mas há um cuidar de memórias de uma escola que não deve ser menosprezado. Há uma história, há vidas, há muitas memórias de alunos e professores que percorreram aqueles espaços que não podem e não devem desaparecer…
Brindámos com vinho do Porto aquele encontro! Trocámos endereços electrónicos, vimos fotografias de filhos e netos, lamentámos a ausência de alguns colegas.
Mas foi giro!
Não vou esquecer alguns dos fortes abraços daquele dia, nem aquela corrente de afectos que soubemos preservar e que nos acompanhará até ao fim da vida .


sexta-feira, 20 de junho de 2008

A ESCOLHA DE NOMES


Desde que me conheço como gente que me lembro de «reparar» muito nos nomes, das pessoas, nos nomes das famílias, das localidades, fosse por gosto próprio, fosse porque o meu pai gostava muito de nos fazer reflectir na origem de uns, na originalidade de outros, na raridade ou exotismo de tantos, chegando ao ponto de ter um caderninho em que registava exemplos curiosos e raros como um que nunca esqueci – Liberdade da Pátria Livre, colega do tempo da faculdade ou Cento e Um Perninhas, apelido de um professor brasileiro com quem se correspondia…

Desde pequena que elegi alguns nomes como meus preferidos mas, a partir da minha adolescência, daquela fase em que as amizades começam a sedimentar-se, em que começamos a ter a noção da nossa tribo, em que outros valores emergem, a partir de então, passei a gostar de um nome, se gostava da pessoa, se a admirava; bania um nome se, por qualquer motivo embirrava com alguém… Era assim e assim continua a ser hoje em dia, com amigas, colegas ou mesmo figuras públicas.

Esta reflexão vem a propósito de um artigo que li, recentemente, no Expresso, sobre o nome de Disneylândia com que um pai sãotomense baptizou uma filha, motivado por um folheto turístico que viu afixado na Conservatória do Registo Civil. Perante a filha que não se conforma com o nome que a identifica, nem com chacota a que se vê constantemente sujeita, quando a chamam em público, o pai, humildemente justifica-se, tentando consolá-la: «Quando nasceste, o teu sorriso só me lembrava um parque de diversões, um mundo de encantar».
Relembrei uma série de nomes estranhos de antigos alunos, atribuídos certamente de acordo com as diferentes modas, em homenagem a personagens de telenovelas, de filmes, de jogadores de futebol ou até de príncipes e princesas. Recordo-me da Daiana, do Heliquisson, do Killer, do Bruce Lee, do Osmar, da Ronalda, do Júlio Míssil, do Sandro Bonaparte, do Samora Machel e de tantos outros… de quem, evidentemente jamais me esquecerei…
E fico a pensar no «peso» que um nome, que se cola a cada um de nós como uma segunda pele, pode ter tanta importância na nossa vida, no nosso futuro e, ainda por cima, sem que nos seja pedida opinião.
Associei ainda o assunto do artigo a uma pesquisa que fiz há pouco, a pedido de uma antiga aluna, sobre a origem do nome Silva, um dos apelidos de família mais comuns, em Portugal e no Brasil. É um nome de origem toponímica e Silva designava, no século XVII, alguém que vivia afastado dos grandes centros, a palavra latina «silva» significava floresta, bosque. Mais tarde, passou a ser o sobrenome mais comum motivado pela adopção de escravos e dado a filhos de pais incógnitos, o que só deixou de existir legalmente, entre nós muito recentemente.
E não nos espantemos se, um dia destes, viermos a conhecer uma criança que se chama Biscoito Fino, Dêeneá, Cêdêrom ou Ipod Silva…

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O AMON cresceu

Hoje o AMON está muito triste, zangado e tão “enjoado” que nem come mousse de salmão – o seu “bombom” preferido. Morre de sono mas quer teimosamente andar, cambaleando, caindo e adormecendo aqui e ali: fomos ao veterinário para ser castrado, inevitável nesta vida de apartamento. Estou com muita pena dele. Dramática a ida ao veterinário … Mal entra a porta, atira as orelhas para trás, afunila a “cara”, esbugalha os olhos e, logo de seguida, arreganha os dentes como se fosse matar o pior inimigo. Ninguém mais lhe toca sem anestesia – o que vai tornar a sua vida de gato, se não for saudável, um tormento. Mal sai a porta do consultório, deixa fazer festas e acaba-se a fúria. Mas aprendeu a assustar o inimigo. E não vai esquecer que tem ali uma “arma” para ocasiões semelhantes …

Antes de hoje, andava bem disposto, a fazer muito menos asneiras – excepto deitar objectos ao chão, a que nunca resiste. Tem andado a experimentar a sua “casa” nova - um objecto do “arco da velha”, uma “escultura”, do chão ao tecto: com dormitório, plataformas de descanso e salto, baloiço, arranha-unhas… Também tem dado os seus passeios e até apanhou umas pulguitas.
Mas hoje … vai passar.
O AMON já tem, talvez, oito meses. Está a crescer e até já vai comer comida de gato adulto!


terça-feira, 17 de junho de 2008

HORTAS EM LISBOA

Parece um paradoxo: ruralizar a cidade. Uma cidade de gente que “fugiu” do campo e da agricultura, gerou nostálgicos que, por gosto, passatempo ou necessidade, passaram a cultivar espaços não urbanizados e taludes de estradas. E não se pense que os terrenos cultivados estão sempre perto das respectivas habitações e num “já agora”, se ocupam. Muitos destes “agricultores” apanham transportes públicos para as suas hortas – que podem ser mais do que uma, em locais diferentes e afastados.

Esta integração da agricultura nas cidades é defendida há muito tempo pelo arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles e quase sempre recebida com o sorriso de mais uma utopia. Mas … sinal dos tempos: a Câmara Municipal de Lisboa criou um grupo de trabalho para acompanhar as hortas urbanas e já deu, aos agricultores em funções nos terrenos municipais, a garantia de preferência em futuras distribuições de terrenos.
Feita uma primeira avaliação, parece haver "61 hectares de hortas em terrenos municipais e 35 hectares em terrenos privados".

A iniciativa de criar um Plano Verde para a cidade, deve-se a José Sá Fernandes e à sua equipa. Até Agosto de 2009 serão criados “parques biológicos” em diversas zonas da cidade, distribuídos aos agricultores que se candidatarem. Este plano responde às recomendações da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) para que “as cidades sejam cada vez mais auto-suficientes na geração dos seus recursos alimentares”. Recomendação difícil de se conciliar com a ganância da construção civil e a tentação dos autarcas …

Saber deste projecto encheu-me de satisfação e frustração por não ter, oportunamente ocupado um terreno baldio ou um pequeno talude, dando vida a este meu desejo de ter uma horta. Tinha sido uma bela ocupação dos tempos livres … Já nem posso acompanhar os trabalhos agrícolas dos hortelões que, durante anos, vi da minha janela, num monte que foi arrasado e onde agora se constrói. Restam-me os vasos com ervas de cheiro e a esperança de, noutra reencarnação, fazer a opção certa no tempo certo.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

PREOCUPAÇÕES HUMANITÁRIAS DE PEQUIM …


Li uma pequena notícia que achei espantosa. Depois de anos de uma política de “filho único” que ainda se mantém, depois de tanta filha-mulher abandonada para que possa haver um filho varão na família, depois de tanta esterilização forçada e tanta angústia nos casais chineses, o governo chinês tomou uma decisão de grande compreensão e humanidade:”vai enviar equipas de especialistas em fertilização in vítro e em reversão de esterilizações” para a região de Sichuan , uma vez que o terramoto matou cerca de 7000 crianças.

Aí está uma lição para governantes que tomam medidas drásticas e desumanas sem pensar nas consequências. Quanto à hipocrisia do governo chinês, o mundo vai com certeza aplaudir o seu sentido de responsabilidade …

Nota: só lembrar que Luís Vaz de Camões que hoje até tem “dia”, o mais importante feriado nacional, morreu na miséria… Os Humanos são mesmo uma espécie muito especial e sobretudo com uma tendência estranha para sacrificar, no presente, o que se glorifica no futuro. Esta tendência para apagar e corrigir, esta aprendizagem por “tentativa e erro” não parece estar a dar grandes frutos!

domingo, 15 de junho de 2008

FILOSOFIA PARA CRIANÇAS

Não é de agora a ideia de que se deveria levar, desde muito cedo, as crianças a reflectirem, a pensarem no significado das palavras, a tentarem exteriorizar, com alguma ajuda dos adultos, claro, os seus sentimentos e opiniões. Pôr em prática, desde a mais tenra idade, as boas e saudáveis regras do debate, da aceitação do outro, da atenção a tudo o que as rodeia, da consciência da diversidade, isto é, abrir-lhes as portas para o conhecimento filosófico.

Li, há pouco tempo, mais uma opinião sobre esta teoria pedagógica, a propósito de uma colecção infantil, traduzida do francês Óscar Brenifier, a que recorrem alguns professores que, em diversas escolas e colégios, dão aulas de filosofia a miúdos, alguns bem pequenos. O livro propõe jogos interactivos, tópicos de discussão e estratégias que levem as crianças a aprenderem a liberdade de expressão a par de um saber gerir as emoções e os sentimentos.
Assim preparados, desde muito cedo, tornar-se-ão certamente adolescentes mais participativos e adultos mais conscientes das suas ideias, do poder das suas opiniões, do valor e respeito pelos outros. Terão mentes mais abertas, mais curiosas, uma capacidade de raciocínio mais aguçada e serão menos medrosos quando confrontados com os desafios sociais, culturais e políticos que a sociedade, cada vez mais global, lhes colocará pela frente.

Lembrei também a tentativa de uma abordagem diferente de diversos temas e problemas quando, na década de noventa se criou a área do DPS, Desenvolvimento Pessoal e Social, no ensino básico. Investiu-se na formação de docentes, elaboraram-se currículos, mobilizaram-se recursos humanos e materiais e…pouco depois, talvez por razões economicistas, jogou-se tudo fora e …desapareceu essa área e tudo o que de bom ela propunha.

E recordei um episódio delicioso que se passou recentemente, entre mim e o meu sobrinho neto, de quatro anos. Estávamos numa situação em que era necessário um ambiente calmo e propício ao momento profissional do pai… Em conversa com ele, disse-lhe:
- Olha, S., temos que fazer todos muita força para que as coisas corram muito bem ao teu pai, estamos todos a torcer por ele, não se pode fazer barulho…
Ele olhou-me com um ar muito intrigado e perguntou:
- Tia, como é que se faz essa força? É assim, com os pés, como a jogar à bola?
E vai de dar uns pontapés para o ar, enquanto eu me enternecia com a ternura da pergunta… E respondi-lhe:
- Não, S., é uma força que se faz com a cabeça, com o coração… a pensar muito… Todos a querermos o mesmo…
A reacção não se fez esperar! O S. deita as mãozinhas pequeninas e muito inquietas à cabeça e aperta-a com toda a força de que foi capaz…
Então, tentei, da melhor maneira que pude, fazê-lo compreender que temos dentro de nós outras forças diferentes das forças das pernas e braços e senti que seguia a minha explicação com um entendimento que me surpreendeu…
Percebi, mais uma vez que é possível, através do diálogo e da informação adaptada ao desenvolvimento etário das crianças, contribuir para a construção da capacidade do seu raciocínio lógico.
É isso…é importante que se «ensine filosofia às crianças», desde a mais tenra idade!



sábado, 14 de junho de 2008

UM PAÍS DE GENTE FELIZ

Imaginam um país que privilegia “a felicidade nacional bruta sobre o produto nacional bruto”? Esse país existe, segundo os observadores: é o BUTÃO, o Reino do Dragão.
Esta notícia já tinha sido há tempo divulgada, a propósito de um inquérito sobre o “grau de felicidade dos povos” mas, li agora alguma coisa mais sobre o seu rei – o mais jovem do mundo (28 anos), Jigme Khesar.
O Butão é um país montanhoso, situado nos Himalaias, entre a China e a Índia. Tem cerca de 700 000 habitantes, maioritariamente budistas.
Durante o sec.XX, o Butão ainda conservou um certo isolamento e deixou mesmo a gestão dos negócios estrangeiros e a defesa a cargo da Índia (antes e depois da independência deste País) – desde que não interviessem na vida interna do Butão. É membro da ONU desde 1971.
O rei (pai do actual) teve como preocupações principais: o desenvolvimento da agricultura de forma a assegurar, até hoje, as necessidades internas, a preservação de costumes e valores, o desenvolvimento de uma consciência nacional sólida, com participação activa na vida política e económica do país. Teve o rei-pai uma outra preocupação: proporcionar ao filho uma educação que lhe desse uma compreensão profunda da cultura e história do Butão e, ao mesmo tempo, uma capacidade teórica e técnica para modernizar e abrir o país ao mundo sem esquecer o “princípio da felicidade” sobre a economia. Formou-se nos Estados Unidos, fez um mestrado em Filosofia Política em Oxford, estudou defesa militar em Nova Deli.

Conta-se que a preocupação com as pessoas contribuiu para uma participação de 80% da população nas eleições para o Senado, em Dezembro de 2007: os patrões concederam um dia de licença aos empregados para irem votar, os eleitores de aldeias afastadas tiveram uma compensação financeira, “em função do número de dias “ gastos na deslocação às secções de voto.
É verdade que a televisão e a Internet só chegaram há menos de 10 anos e só desde 1970 se abriu o país ao turismo, que é agora uma das principais fontes de receita, a par da venda de energia hidroeléctrica à Índia. Em todas as empresas com capitais estrangeiros, 51% do capital pertence a butaneses e, de acordo com a Constituição, 60% do território deve continuar coberto de florestas... Diz-se que o actual rei “oferece e até impõe aos súbditos melhorias financeiras e democráticas” mas que isso só interessa se as pessoas forem felizes.

Gostei de saber que, neste mundo globalizado, há pelo menos um país com a preocupação de modernizar sem desaculturar, de desenvolver económica e financeiramente o povo sem pôr em causa os seus valores ancestrais, de não ter vergonha de afirmar que “a felicidade nacional” é mais importante “ que o produto nacional bruto”.
Se a Finlândia e a Irlanda são os nossos paradigmas, gostava que o Butão também o fosse! Mas, como nada é perfeito, soube que o Butão foi o primeiro país a proibir a venda e o consumo público do tabaco …

Nota: a maior parte das informações recentes sobre o Butão são do “Courrier Internacional” de Junho 2008.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

NOITES DE Sto ANTÓNIO


Manter a tradição ao longo dos anos faz parte do espírito de um povo que, apesar dos descontentamentos e das dificuldades de vida, quer manter a ideia viva da alegria.
Isto é positivo, porque mal deste povo se não tivesse um futebol, uns copos e umas marchas para desopilar…

Ontem, fui espreitar um arraial no meu bairro. Tinha curiosidade e queria analisar os comportamentos das pessoas que, do bairro, se deslocavam ao lugar da festa para se divertirem, nesta noite quente.
Deparei com um cenário um tanto provinciano, mas direi mais, provinciano no mau sentido… Um espaço decorado com balões dos Santos Populares, cadeiras à volta da sala de dança para o «pessoal» se sentar, fazendo lembrar cenas do célebre filme «O Baile»; um pequeno espaço improvisado para os comes e bebes, onde não faltava a sardinha da tradição. No outro canto do recinto, um longo balcão de bar, decorado com papeis variados e onde uma quantidade razoável de homens e rapazes iam bebendo cerveja após cerveja ou o copo de vinho tinto.
No espaço de dança, havia ainda poucos participantes mas, à falta de par para a dança, as mulheres dançavam com mulheres e outras improvisavam coreografias individuais, para as músicas mais agitadas. Também alguns casais, com mais idade, se entrelaçavam e exibiam os seus passos de dança à moda antiga.
Sobre um estrado estava um conjunto musical, composto por três elementos. Um que tocava órgão electrónico, o cantor de uns cinquenta e tal anos e um ajudante que dava apoio nos adereços. Sobre uma coluna de som, espanto meu! havia um pai natal, daqueles a que se dá corda e acendem luzes enquanto saltitam. O ajudante dava-lhe corda sempre que o dito se inactivava. O animador da festa, de microfone em punho, motivava as pessoas à participação na dança e à alegria nesta noite de festa.
O som não era mau. Até me apeteceu dar um pezinho de dança mas, como quase sempre, nestas situações, quando os participantes são poucos e, à volta, há gente a observar, existe acanhamento, alguma inibição ou mesmo vergonha. Fiquei-me por ali e saí para vir ver, em casa, o desfile das marchas na Avenida, pela TV.
Mas fiquei a pensar naquela gente esforçada que tinha vontade de manter a tradição no seu bairro… Talvez pela noite fora se tenham animado mais, pelo menos, ouvi a música até às duas da manhã. Certamente, os copos devem ter desinibido as pessoas, talvez o animador tenha tido êxito no seu apelo e motivação para a alegria…

Do desfile das marchas só posso agradecer o empenho que todos os participantes demonstraram, porque, pensando bem, não é fácil, nos dias de hoje, juntar as pessoas em colectividades, em horários pós-laborais e ensaiá-los. O espectáculo podia ter sido mais interessante. A SIC não soube aproveitar muito bem este material tão rico. Demasiados cortes com entrevistas insípidas, espaços de publicidade demasiado longos e ângulos de filmagem mal concebidos…
Apesar de tudo, esta animação da cidade é importante para manter Lisboa viva e não fazer esquecer a herança cultural dos nossos antepassados.


quinta-feira, 12 de junho de 2008

Viajar no Google Earth

É um vício tão grande como ler banda desenhada, quando era miúda.
Numas horas, percorro a África do Sul e “ando” por quintas perdidas no meio de nada, pela costa, ora rochosa, ora plana, revisito a cidade do Cabo… Percorro a costa do Índico e paro em Zanzibar para ganhar fôlego.
Há dias andei pelo norte de África, a propósito de coisas que li sobre os enclaves espanhóis de Ceuta e Melille. E, claro continuei pela costa Marroquina, Saara Ocidental, Mauritânia, Senegal, Gambia, Guinés ( Bissau e Conakry), Serra Leoa e Libéria. É a tipologia dos terrenos mas também fotografias que permitem adivinhar (se associadas a algumas leituras), hábitos, viveres.
Lembrei as descrições do menino-soldado da Serra Leoa (Ishmael Beach em
“ A Longa Caminhada”) e “visitei” o arquipélago dos Bijagós (Guiné –Bissau) - um sonho antigo que ficou um bocadinho mais próximo.
Também revisitei Angola, sobretudo o norte e todo o litoral. Nessa tarde, parei nas ilhas Canárias, em Lanzarote – por causa do Saramago, é claro, mas também porque a aridez da ilha me impressiona muito.
Costumo fazer um “plano de viagem” para não correr atrás de tudo o que quero ver. Ando por África há algum tempo, excepto quando outros acontecimentos me levam a outras paragens: a guerra no Líbano, as manifestações e os desastres naturais na Birmânia, o sismo em Sichuan, a visita de uma amiga a Veneza, … Pela Europa “viajo” pouco, mas é uma questão de tempo .
Ter tempo para tudo o que gosto e quero fazer e saber, esse é um problema que ainda não resolvi. Ainda mais agora que o tempo foi comprimido (dizem) e o “tempo” de cada minuto já não é o que era !

quarta-feira, 11 de junho de 2008

PROMESSAS

Falaram-me há dias de um voto celta que pode ser bom divulgar:

“Se eu não cumprir a minha promessa,
que o céu venha e se abata sobre a minha cabeça,
que o mar me afogue
e a terra me engula “

Só uma das desgraças bastava. Juntas dão muito mais medo de faltar a promessas.
Ou se fazem … ou não se fazem.
Que se cuide quem é de promessa fácil! (porque é que me lembrei disto? …)


terça-feira, 10 de junho de 2008

PORQUE HOJE É DIA DE PORTUGAL...

Porque hoje é dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, pensei que seria oportuno relembrar aqui um poema do nosso grande e sempre actual Poeta, convidando todos à reflexão:


Perdigão perdeu a pena

Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.

Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.

Quis voar a uma alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.


segunda-feira, 9 de junho de 2008

Uma conversa de rua

Sair com um gato pela trela não é muito comum, mas o meu gato gostava de ser vadio e mia de fazer dó, junto à porta da rua … até sair.
Na rua, anda, corre, cheira pneus, grelhas de carros, plantas, esfrega-se no asfalto ou nos passeios, de barriga para o ar, como se fosse o lugar mais paradisíaco do mundo, deita-se e desafia a minha paciência, agacha-se quando se aproxima alguém de quem desconfia, fica indiferente quando é alguém de confiança. E é isto que me tem levado a trocar palavras, umas mais breves outras mais longas, com donas de outros animais (são essas as que merecem confiança!), umas mais velhas, outras mais novas. A conversa de hoje foi mais ou menos assim:
- Que lindo gatinho! E de trela! Ah! Como eu gostava de ter um gatinho! Mas sabe, minha senhora, estou casada há 52 anos e o meu marido não faz mal aos bichos mas não os quer em casa. E eu que tinha gatos e cães em casa dos meus pais … sabe, vim ali para aquela casa do gaveto quando tinha 5 anos – tenho 79. E ando aqui com uma dor debaixo do braço, desde que caí! A casa onde nasci na Rua Marquês de Sá da Bandeira (sabe onde é?), foi deitada abaixo. Não sei porquê …
- Tem que ter cuidado consigo mas olhe que está muito bem para os seus 79 anos …
- Pois é, mas também sofro do coração (e faz uma festinha ao gato que, sentado nas patas de trás, entre as minhas pernas, ouve atentamente). Sabe, eu costumava dar de comer aos gatos vadios, atirando-lhes comida da janela mas o porteiro, que agora comprou o rés do chão e construiu um telheiro no pátio, não gosta de animais e só quer criar mau viver no prédio. Diz que os gatos riscam o telheiro e o meu marido proibiu-me de atirar a comida. Mas sabe? Eu vou comprando umas latinhas.- que as há agora mais baratas naquela loja nova da rua …. e deixo à vizinha do 3º andar ( eu moro no 2º) e ela deita a comida para os gatinhos. Só posso trazer uma lata de cada vez porque, com as minhas dores no braço e as outras coisitas que tenho de comprar, fica muito peso. Mas hoje vou lá comprar 3 porque não preciso de fazer compras. Sabe, a vizinha também ajuda mas os gatos são muitos e temos de dividir a despesa. O meu marido nem sonha! ( eu olho para o relógio e espanto-me com a calma do gato …)
- Claro, não precisam de saber tudo …
- Pois é, que até é bom homem e estamos casados há 52 anos. Quando o namorava tinha um gato mas ele não gostava nada que ele se aproximasse dele. Tive de escolher … Bem, minha senhora, gostei muito de falar consigo e de conhecer este gato lindo. Já esqueci como se chama … AMON é verdade. (mais uma festinha)
- Obrigada e as suas melhoras.
Um sorriso e lá foi …
E eu que nunca falo muito com ninguém!

domingo, 8 de junho de 2008

LISBOA A VERDE E VERMELHO

Ontem, ao fim da manhã, saí de casa com a intenção de começar a procurar uma roupinha para levar ao casamento da minha afilhada, em Julho. O destino era a Baixa, o meio de transporte o metro. No entanto, a L. tinha-me sugerido que fosse com atenção, talvez surgisse algo que merecesse registar no nosso Blog.

Lá fui eu e… tive alguma sorte.
Enquanto esperava pelo metro, uma jovem perguntou-me se estava na direcção correcta para ir para Sta Apolónia. Disse-lhe que sim. Entretanto, eu que também não sou de dar conversa a quem não conheço, vi-me obrigada a conversar um pouco. Era uma jovem jornalista estagiária que escrevinhava num bloco negro da Moleskine. Entrámos na carruagem, sentou-se a meu lado abriu o caderninho e relançou-se na escrita, enquanto me contava que tomava notas para uma reportagem que teria de redigir e enviar para um jornal de província. O assunto era o ambiente de Lisboa, neste fim de semana… E falou-me dos vários festivais de música, dos quais destacou o Rock in Rio, do início dos jogos do Europeu, das Festas da Cidade… lembrei-lhe ainda os muitos turistas que invadem sempre Lisboa por esta altura e os diferentes protestos, mais ou menos barulhentos, que se fizeram ouvir um pouco por toda a cidade.
A sorrir, decidi confessar-lhe que também iria escrever este fim de semana sobre Lisboa… era uma «bloguista»… Ela entendeu que eu seria do Bloco de Esquerda, uma «bloquista». Quando entendeu a confusão que tinha feito, estávamos a chegar ao meu destino. Despedimo-nos a rir e desejei-lhe boa sorte no trabalho jornalístico. Garantiu-me que havia de me fazer uma referência no seu artigo, pela amabilidade com que a ajudara…

Andei pela Baixa bastante tempo. Estava um dia alegre, uma brisa fresca cortava o calor, que finalmente apareceu, e apetecia viver a cidade, até as pessoas estavam mais felizes! Lisboa virou cosmopolita mas os lisboetas deixaram de fruir o encanto da parte velha da cidade porque se habituaram a conviver noutros espaços mais modernos, como o parque das Nações e os grandes centros comerciais. Mas, ontem, a cidade estava diferente. Parecia que as pessoas tinham descido para ver o rio!
Na verdade, o que encontrei, na velha zona da Baixa, alegremente colorida, foram os resquícios do Rock in Rio, com muitos jovens ainda adormecidos e um tanto zonzos, certamente com o efeito dos sons do Parque da Belavista; os prenúncios dos Santos Populares, com manjericos, cravos e quadras a Santo António e uma esperança enorme nas alegrias que a nossa selecção nos voltará a dar neste campeonato. Tudo isto bem temperado com os diferentes idiomas dos estrangeiros que enchiam o Chiado e com o olhar longínquo e profético de Fernando Pessoa numa bem conseguida estátua que convive connosco, na esplanada da Brasileira
Foi assim que eu vi a minha cidade, de verde e vermelho vestida!

sábado, 7 de junho de 2008

CONSULTA NO VETERINÁRIO


Nunca pensei que o amor a um gato me comovesse tanto, mas hoje tive a prova de fogo. Acompanhei o “AMON” ao doutor.
Não fazia a mínima ideia do que poderia ser um consultório de Veterinário. Fui acompanhar a minha amiga L. e transportei o seu gato no meu colo.
Aquela coisinha amorosa com uns olhos grandes, verdes, que por ter tomado um comprimido para acalmar, olhava para nós abrindo e fechando as suas pestanas, tentado pelo sono, mas não querendo ceder.
Chegados ao consultório, tivemos que ficar numa sala de espera. Para mim, foi uma sensação nova, ali estavam os doentes: vários cães, pequenos ou enormes, peludos ou de pêlo raso e gatos em caixinhas plásticas com pequenas janelas, todos bem comportados junto das suas donas, a maior parte mulheres.
O último a chegar fez pena, vinha muito doente, um cão de uma raça parecida com dálmata. Ali ficou, de cabeça encostada no colo dos donos, como uma criança com gripe.
Noutras salas processavam-se tratamentos: banhos, tosquias, desparasitagem, etc.
O AMON esperava um pouco impaciente pela sua vez, ia fazer uma ecografia.
Não fechava os olhos, estava atento e começou a ficar com um olhar triste.
Pensei que era porque tinha de permanecer naquela casota transportadora, ou talvez porque lhe cheirasse demasiado a cães.
A dona resolveu arejá-lo e abriu-lhe a porta.
Bom! Não é que ele saiu disparado e furioso, bufando e mostrando os dentes. Susto, corri para o apanhar, furioso, deixou-me duas grandes marcas no braço, a sangrar. Mas consegui metê-lo novamente na “gaiola”. A partir daí ninguém se podia aproximar, ele mostrava o dente e PUFFFF!!!!!.
Estranho, como um animal que não é normalmente violento fica assim?!
A dona contou que esta atitude já era a repetição do que havia acontecido na última visita ao veterinário.
Fomos atendidas pelo doutor. Um homem tranquilo, bem disposto, que nos acalma justificando que esta atitude é muito normal nos gatos quando vão ao consultório, eles têm um faro e uma intuição muito apurados. Deixam de sentir segurança e criam defesas, mesmo com os donos por perto.
E como não o conseguiu acalmar acabou por o sedar. Foi necessário dar-lhe uma dose de anestesia.
Nunca pensei sofrer tanto com o que vi. Foi necessário enjaular e, por um processo de aperto, conseguir colocá-lo em posição de levar a injecção.
Depois, lá ficou, inerte, permitindo finalmente todo o tratamento.
Foi a primeira vez que percebi como se pode gostar de um animal. Não diferenciei aquele sentimento de outros que tenho tido por parentes e amigos. Sofri por ele e fiquei muito inquieta.
Agora o meu amigo já voltou ao normal, já aceita as minhas festas e corre pela casa, pula, brinca com os ratos de fantasia.
Entendi o sentimento que liga os humanos a estes companheiros de jornada. Uma lição na minha vida.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Uma sociedade matriarcal



Li, há tempo, um livro que achei muito curioso – “ O Reino das Mulheres – o último matriarcado” de Ricardo Coler.
O autor escreve sobre o último dos matriarcados e sobre os seus costumes e valores. Trata-se de um grupo étnico da China, os Mosuo, que vivem na região de Loshui, nas margens do lago Lugu, um dos maiores lagos de montanha da Ásia.
Quando se pensa numa sociedade matriarcal, imagina-se uma sociedade com os papéis invertidos, com as mulheres exercendo o poder e as actividades dos homens, e estes a tratar de crianças e da casa… Não é assim. O que caracteriza esta sociedade matriarcal é a existência de uma matriarca que organiza a totalidade das actividades da família e trata do património e da administração do dinheiro. Por isso, os Mosuo distinguem-se de outras sociedades, que ainda hoje são dominadas pelas mulheres, como os Nogovisi de uma ilha junto à Papua-Nova Guiné e os Khasi, no nordeste da Índia (onde existe também o único movimento do planeta para a “emancipação masculina” – apoiado pela Igreja Católica…).

Os Mosuo são originários do Tibete e emigraram para a região onde hoje habitam, antes da era cristã. A passagem dos exércitos mongóis (sec.XIII) deu à população os traços fisionómicos actuais. São budistas tibetanos, da ordem dos “gelugpas”, respeitam o Dalai Lama e o Lama Pachen.

A família é constituída pelos elementos do mesmo sangue: mãe (matriarca), filhas, filhos e sobrinhos vivendo na mesma casa. A figura do pai é desconhecida, mesmo que as mães o saibam ou mesmo que toda a comunidade o saiba. Quando as filhas atingem a puberdade, são-lhes construídos quartos individuais, à volta do pátio comum, para que possam ter a intimidade necessária às relações livres com os homens das outras famílias – relações sobretudo ocasionais, das 24h às 6h da manhã (quando todos os homens devem regressar às suas casas…). Excepcionalmente, há “relações
abertas”, de maior duração, conhecidas por toda a comunidade.
Como são uma minoria étnica, o governo chinês permite aos Mosuo ter 3 filhos e uma família é mais ou menos próspera, quanto menos rapazes nascerem.

As mulheres trabalham a terra, tratam do gado e da casa, lavam a roupa no lago, cuidam das crianças, preservam o património e administram o dinheiro. Os homens tomam as “grandes decisões” a que as mulheres não dão importância: “ comprar um touro, ampliar a casa, investir em terra, fazer uma viagem”. “Para isso têm habilidade e tiram-nos um problema de cima” – diz uma matriarca. Na verdade, os homens não têm obrigações: são cuidados pelas mães ou pelas irmãs, brincam com os sobrinhos e, se forem rapazes, podem dar-lhes alguma educação; constroem os quartos para as irmãs, quando chega a altura. Quando falam da sua convivência com as mulheres só pensam na mãe e nas irmãs até porque é indecoroso falar de relações íntimas.
Não se pense que as mulheres não são femininas. Fazem questão de estar bonitas e de serem apreciadas pela comunidade local e pelos homens de outras comunidades. O que as une a um homem é só o afecto e as separações fazem-se sem zangas e sem ciúmes. Dos homens querem o mais comum:” que cuidem de nós, nos protejam e nos dêem atenção” …
Os Mosuo são pouco agressivos e envergonham-se de qualquer acto de violência. Quando há problemas graves, o “chefe da comunidade” (eleito pelas matriarcas), intervém – fora essa actividade é um homem com as mesmas desobrigações dos outros.

Eles são aparentemente felizes e não pretendem abdicar das suas tradições – mesmo quando vão estudar noutras comunidades, regressam e valorizam a sua – diz o autor. Pode não ser bem assim mas talvez valha a pena pensar nas razões que não propiciam a violência, a agressividade, o ciúme.
É sobretudo importante percebermos que há formas de viver profundamente diferentes que devemos respeitar.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Barack Obama

Barack Obama ganhou as primárias americanas e é hoje o candidato democrático à presidência dos Estados Unidos.
Martin Luther King, onde quer que esteja, deve sentir que o seu sonho de ver caminhar de mãos dadas crianças negras e brancas tem vindo a dar passos e este é só mais um deles. Há muito caminho a percorrer. Espera-se que Obama, como herdeiro desse sonho, saiba agir interna e externamente no sentido da paz e não da guerra – apesar das pressões dos lobis (do petróleo, do armamento, …).
Mas é bom que tenhamos consciência que o racismo e a xenofobia não são apanágio dos homens brancos - veja-se o que se tem passado nas comunidades africanas, em quase todos os países. Temos todos que dar passos no sentido da tolerância, da aceitação das diferenças, do respeito pelas culturas e saberes de todos os povos, da tomada de consciência que esta Humanidade tem raízes comuns – mesmo que tenha havido um toque divino.

Se Barack Obama é o candidato democrata, espero que seja o novo Presidente dos Estados Unidos e que os deuses o iluminem porque o papel desse país no Mundo é importante mas tem de mudar.
Dizem tradições Maias, recentemente recordadas por outros “mensageiros”, que em 2012 se fecha um ciclo para esta Humanidade – não será o “fim do mundo” como outros profetizaram mas a mudança de paradigmas. Que responsabilidade para quem detiver o poder!

Nota: lembrar que, no Zimbabué, o líder da oposição foi preso quando fazia campanha para a 2ª volta das eleições, cuja 1ª volta ganhou.
Os defensores da democracia assistem …

quarta-feira, 4 de junho de 2008

SABEDORIA DA TERRA


Neste fim de semana, participei num workshop cujo tema me tinha motivado bastante, dado o meu interesse histórico pelas raízes deste País – “Sabedoria da Terra: as raízes ancestrais de Portugal”.
O objectivo do trabalho realizado era redescobrir as raízes da sabedoria ancestral da Terra, do mar e dos antepassados que nos ajudam hoje a viver melhor e que devemos respeitar e honrar.
Nos dias agitados em que vivemos não temos tempo para reflectir um pouco sobre estes temas, tudo ficou arrumado numa gaveta do conhecimento com etiqueta “História”.
Mas, quando somos chamados a visitar espaços antigos, como castelos, mosteiros, catedrais, sentimos que aquele lugar nos prende, nos lembra “a família” genética, os parentes comuns que durante séculos cuidaram a nossa terra, prepararam o nosso futuro.
Somos descendentes de muitos povos, herdeiros de várias culturas que nos deixaram uma língua própria, o seu suor, crenças e costumes. Eles vieram por terra e mar, de todas as direcções, para desbravar esta terra, lançar novas sementes, criar um espírito muito especial que caracteriza hoje o nosso povo.
Normalmente, só falamos dos Lusitanos, desse Viriato destemido, dessa herança legada a D. Henrique e do seu filho sonhador que se lançou na reconquista de terras para criar um país independente.
Estas figuras histórias não aparecem por acaso, trazem uma missão e zelam pelo seu cumprimento.
Mas a nossa herança, por ordem cronológica e simplificada, é muito vasta: primeiro os iberos, depois os celtas, fenícios, gregos e cartagineses, mais tarde os romanos, vândalos, suevos e alanos; por último, fixaram-se os visigodos e os muçulmanos, estes também chamados sarracenos, árabes, maometanos ou mouros.
Toda esta herança está aí no nosso ADN, caracterizando muito do que somos.
Muito do altruísmo, do espírito aventureiro, da melancolia, das tradições, que embora adaptadas aos tempos modernos, se mantêm.
O culto pelos nossos antepassados, mesmo daqueles mais próximos, perdeu-se. No grupo em que participei, neste workshop, a maior parte dos presentes não tinha pistas da sua ascendência. Lembramos os avós, alguns dos bisavós e quanto aos trisavós…perderam-se na memória dos tempos.
Claro que há famílias que conseguem reconstruir a sua árvore genealógica, mas são casos raros. Perdemos o rasto dos nossos antepassados, talvez porque os registos eram pouco cuidados na época e porque os nossos avós não cuidaram dessa herança.
Remontar ao tempo dos nossos trisavós é recuar a um tempo em que a fotografia, ou ainda não existia, ou era um luxo de poucos, assim como a escrita.
Também há muito que os nossos antepassados recentes tinham perdido a cultura dos ancestrais, cultura dos primeiros povos da península ibérica.
Temos imensos testemunhos arqueológicos dessa prática de povos, como os celtas e os celtiberos. Registos em pedras, em dólmenes, em vestígios de rituais que tinham como objectivo manter a ligação com os antepassados.
Nos nossos dias, há estudos e práticas de terapias espirituais que estão a ser utilizados para curas muito especiais, em famílias que se debatem com problemas de saúde ou conflitos antigos que prejudicam o seu viver actual.
Estas terapias passam por uma pesquisa, na linha familiar dos antepassados, porque se estão a desvendar caminhos novos do conhecimento na estrutura do ADN e das componentes de estrutura espiritual.
Não deixa de ser interessante!

Nota :
Os desenhos sobre as placas foram sempre consciente e deliberadamente variados. Significa que os desenhos não são fruto de uma criação puramente estética ou de um propósito puramente ornamental.
A variabilidade que apresentam não se pode traduzir por um espírito de improvisação artística. As placas são obviamente funcionais, identificam:
o lugar, a região onde o defunto foi enterrado, seguindo os rituais funerários da época. Identificam o clã, a estirpe. Os diferentes padrões identificam os clãs relacionados com os campos e territórios “marcados” pelos seus túmulos funerários. Mas identificam também a linhagem, as gerações…
Pesquisa em http://algarvivo.com/arqueo/placas/placas2.html

terça-feira, 3 de junho de 2008

UM SONHO













Esta noite tive um sonho bom e feliz!
Sonhei com gaivotas em bando, um bando calmo numa paisagem marítima, tranquila, talvez a Ericeira, uma leve brisa e vozes que me eram familiares mas que, uma vez acordada, não consegui identificar.

Sempre tive uma grande empatia com as gaivotas. Sempre gostei de as observar, quer em voos picados, quer em voos planados, quer em passagens rasantes junto às rochas, ou em partidas desenfreadas perdendo-se nas lonjuras. Sempre gostei do grasnar delas, que é diferente, nas diversas estações do ano e até nas diferentes horas do dia. Muito gosto de as admirar de perto, quando pousadas têm um certo ar altivo e desafiador e um menear de cabeça que parece seguir-nos, ouvir-nos e a qualquer momento, responder…

Enquanto, preguiçosamente, ia acordando de verdade, a propósito do sonho, lembrei: o «Fernão Capelo Gaivota» livro de Richard Bach, o filme, «Jonathan Livingston Seagull», baseado na mesma obra e de que tanto gostei, à época, com a música e voz inesquecível de Neil Diamond…
Lembrei que como o Fernão, nunca me «contentei em voar apenas para comer mas sempre quis esforçar-me em aprender tudo sobre o voo…»
Lembrei a dramatização que realizei com alunos, em trabalho de fim de estágio, «O Julgamento de Fernão Capelo Gaivota» e na dificuldade que tive em arranjar um aluno que, depois de estudada a obra, quisesse ser o advogado de acusação do Fernão. Todos o queriam defender e quase me iam estragando o trabalho. Lá conseguimos, a minha orientadora e eu, convencer um miúdo mais sério, mais introvertido que acabou por se sair muito bem, nesse papel. Ainda para mais, a absolvição de Fernão estava, à partida, garantida!
Lembrei a canção «Somos Livres», «uma gaivota voava, voava…», de Ermelinda Duarte que tanto nos fez vibrar no pós 25 de Abril e que me ajudou a terminar, em apoteose, essa representação, conseguindo pôr todos os participantes e espectadores a cantarem de forma muito empenhada e afinada.

E lembrei que, no dia em que nos lançámos nesta aventura de «blogar», recorremos a uma fotografia recente, tirada justamente na Ericeira, a que demos o título de Sentinela Atenta, já que essa é, decididamente, a nossa postura na vida, gostamos de estar sempre alerta e atentas a tudo o que nos rodeia!
Depois, fiquei um tempo embalada pelo esvoaçar das gaivotas, pela magia dos seus mergulhos, pelo olhar profundo e inquietante daquelas aves únicas!
E desejei ser livre, voar como elas e partir sem destino marcado, mas sempre com a certeza de um abrigo seguro e reconfortante, na hora do regresso!




segunda-feira, 2 de junho de 2008

HISTÓRIAS

Irene Lucília, é, há muito tempo, uma figura reconhecida no meio cultural madeirense. Escreve prosa e poesia , é autora de canções infantis e juvenis, algumas editadas em disco e que ganharam diversos concursos, é pintora , uma amante da Madeira e de viajar pelo Mundo.

Estou a falar dela porque acabo de ler o seu último livro :“ Crónica breve da cidade anónima - À hora do Tordo”. É um conjunto de histórias de vidas, ficcionadas, com graça e imaginação. Escrita difícil … mas gostei de ler.

Há muitas outras obras do mesmo género que, se têm uma importância especial para quem as viveu e as escreve, são apontamentos de informação, prazer de ler ou mesmo documentos de reconstituição de épocas e hábitos.
Tenho um amigo a quem com frequência estimulo para escrever as suas histórias vividas na guerra colonial, com características que seria importante divulgar e não guardar numa memória pessoal. Ainda não consegui que o fizesse.
Se calhar esta necessidade de falar das nossas memórias começa a vir com a idade … ou talvez não.

Mais reais, mais ficcionadas, mais ou menos imaginativas, os apontamentos do quotidiano que todos vivemos, têm, nos blogs, um espaço fácil para quem não é escritor mas tem vontade de contar histórias, de opinar sobre quotidianos, de transmitir memórias. Não comecei há muito tempo a percorrer diferentes blogs mas tenho “viajado”, aprendido, recordado, confrontado pontos de vista, concordado ou discordado. Eu sei que é só actividade para o lado esquerdo do cérebro como diz a LIS, mas que fazer? (recordo à LIS que às vezes também faço mandalas para acordar o lado direito …)

domingo, 1 de junho de 2008

CELEBREMOS A CRIANÇA


Celebro, hoje, as crianças, a criança que fui, a criança que teimosamente vive em cada um de nós e ai daquele/a que a tenha abafado. Não é, certamente um adulto completo!

Celebro as crianças do mundo inteiro, as que sofrem nos quatro cantos da terra, as exploradas, as mal-amadas, as violadas, as discriminadas, mas também as felizes, as que levam uma vida normal, que brincam, que estudam, que jogam, que riem e nada há de mais contagiante que o sorriso ou a gargalhada espontânea de uma criança.

Celebro ainda uma fase da qual, talvez pela magia que o passar do tempo opera em nós, guardamos bem vivas recordações, episódios, factos, felizes uns, menos agradáveis outros, mas que todos persistimos em manter presentes e enchem, pelo menos, na minha família, muitas reuniões em que os mais novos nos pedem:« Conta…conta como foi…a sério?...». E ficam incrédulos com a nossa inocência, com a forma como sabíamos divertir-nos, como fintávamos os mais velhos, como éramos felizes!

E hoje porquê?
Porque a Federação Democrática Internacional das Mulheres estipulou, após a 2ª Guerra Mundial, em 1950, que seria o dia um de Junho o dia Mundial da Criança.
Após a Guerra, muitas das crianças dos países que nela estiveram envolvidos viviam bastante mal, com falta de alimentos, de bens essenciais e de cuidados de saúde. Muitos ficaram órfãos, privados da escola e obrigados a trabalhar, desde tenra idade.
Em 1946, alguns países da ONU começaram a tentar resolver estes graves problemas e, assim nasceu a UNICEF.
Reconheceu-se (no papel, claro!) que, a partir desse dia, independentemente da raça, cor, sexo, religião e origem nacional ou social, às crianças deveria ser garantido afecto, amor, compreensão, alimentação adequada, cuidados médicos, educação gratuita, protecção contra todas as formas de exploração e direito a crescer num clima de Paz e Fraternidade.

É sempre bom lembrar, nem que seja num só dia do ano, o muito que os governantes, o poder local, a escola, as diferentes igrejas e cada um de nós tem obrigação de fazer para que cada vez mais crianças possam crescer em harmonia, em plenitude, preparando-se para, amanhã serem adultos responsáveis e realizados.

Estou, neste momento a ler um livro bastante interessante que recomendo a quem aprecie o género: «Infância, quando eles eram pequeninos», recolha de vivências da infância de cerca de 30 pessoas da nossa sociedade, organizada pela jornalista Sarah Adamopoulos. É curioso como a história se repete!