sexta-feira, 20 de junho de 2008

A ESCOLHA DE NOMES


Desde que me conheço como gente que me lembro de «reparar» muito nos nomes, das pessoas, nos nomes das famílias, das localidades, fosse por gosto próprio, fosse porque o meu pai gostava muito de nos fazer reflectir na origem de uns, na originalidade de outros, na raridade ou exotismo de tantos, chegando ao ponto de ter um caderninho em que registava exemplos curiosos e raros como um que nunca esqueci – Liberdade da Pátria Livre, colega do tempo da faculdade ou Cento e Um Perninhas, apelido de um professor brasileiro com quem se correspondia…

Desde pequena que elegi alguns nomes como meus preferidos mas, a partir da minha adolescência, daquela fase em que as amizades começam a sedimentar-se, em que começamos a ter a noção da nossa tribo, em que outros valores emergem, a partir de então, passei a gostar de um nome, se gostava da pessoa, se a admirava; bania um nome se, por qualquer motivo embirrava com alguém… Era assim e assim continua a ser hoje em dia, com amigas, colegas ou mesmo figuras públicas.

Esta reflexão vem a propósito de um artigo que li, recentemente, no Expresso, sobre o nome de Disneylândia com que um pai sãotomense baptizou uma filha, motivado por um folheto turístico que viu afixado na Conservatória do Registo Civil. Perante a filha que não se conforma com o nome que a identifica, nem com chacota a que se vê constantemente sujeita, quando a chamam em público, o pai, humildemente justifica-se, tentando consolá-la: «Quando nasceste, o teu sorriso só me lembrava um parque de diversões, um mundo de encantar».
Relembrei uma série de nomes estranhos de antigos alunos, atribuídos certamente de acordo com as diferentes modas, em homenagem a personagens de telenovelas, de filmes, de jogadores de futebol ou até de príncipes e princesas. Recordo-me da Daiana, do Heliquisson, do Killer, do Bruce Lee, do Osmar, da Ronalda, do Júlio Míssil, do Sandro Bonaparte, do Samora Machel e de tantos outros… de quem, evidentemente jamais me esquecerei…
E fico a pensar no «peso» que um nome, que se cola a cada um de nós como uma segunda pele, pode ter tanta importância na nossa vida, no nosso futuro e, ainda por cima, sem que nos seja pedida opinião.
Associei ainda o assunto do artigo a uma pesquisa que fiz há pouco, a pedido de uma antiga aluna, sobre a origem do nome Silva, um dos apelidos de família mais comuns, em Portugal e no Brasil. É um nome de origem toponímica e Silva designava, no século XVII, alguém que vivia afastado dos grandes centros, a palavra latina «silva» significava floresta, bosque. Mais tarde, passou a ser o sobrenome mais comum motivado pela adopção de escravos e dado a filhos de pais incógnitos, o que só deixou de existir legalmente, entre nós muito recentemente.
E não nos espantemos se, um dia destes, viermos a conhecer uma criança que se chama Biscoito Fino, Dêeneá, Cêdêrom ou Ipod Silva…

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei mesmo!! recordo muito bem o interesse do Pai,por essas coisas,registando-as, usando um lápis, pequenino,sempre aparado com uma faquinha bem afiada,hábitos.Quantos afias havia lá!! Mas gostava tanto dos seus lápis

goiaba disse...

Gostei muito do texto e lembrei de um dia, em Lourenço Marques, quando dava aulas a alunos todos negros com 16 ou 17 anos ( no chamado 2º ciclo do Ensino Seundário) : abriu-se a porta e pediu para entrar uma criança branca, de 11 ou 12 anos. Quando lhe perguntei o nome, disse Branquinho Lavadinho (não me lembro o 1º nome).E aquela técnica superior que foi às Colónias tratar de problemas de alimentação e se chamava Drª Matafome ...
E como me sentiria eu se me chamasse Carmina como a minha mãe queria? Tive sorte porque o meu pai era "apaixonado" por uma prima e deu-me o seu nome . Tens razão: os nomes são determinantes para a personalidade das pessoas.
Abraço vizinha