quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Saga dos Bacalhoeiros


É o tema do livro de Anselmo Vieira, “ Nos Mares da Terra Nova – A Saga dos Bacalhoeiros” que acabei de ler.
O autor, ao mesmo tempo que reconstitui a última viagem do bacalhoeiro “Júlia IV” e narra como um diário de bordo o quotidiano dos homens que vivem seis meses em campanha, é um testemunho autobiográfico na pessoa de Telmo, o piloto.
Na época, em 1948, a frota portuguesa era a única que chegava aos mares da Gronelândia e ao Banco da Terra Nova, com veleiros quase medievais, uns com motor auxiliar, outros sem ele. Todos sem meios de comunicação para além de um rádio rudimentar, sem processos de detecção de obstáculos ( icebergues, outros barcos,…) para além da observação directa, sem forma de calcular profundidades marinhas para além da “sondagem de prumo” ( com fio …). Entre os dories e o lugre comunicava-se com búzios, entre o lugre e os dories com tiros de pólvora seca … Para sobreviver aos intensos nevoeiros e não chocar com icebergues ou outros navios, valia-lhes a “ vigilância de Deus”, o olfacto e a sensibilidade ao frio da aproximação de massas de gelo e aos aparelhos mais sofisticados das frotas espanholas, francesas e russas.
A tripulação de um lugre-tipo como o “Júlia IV”, era de 35 ou 36 homens : dois oficiais ( Capitão e Piloto), um Primeiro Motorista e um ajudante ( os que tinham motor), um Contramestre, um Cozinheiro, 27 pescadores e 2 ou 3 moços para os trabalhos de bordo. Durante meio ano longe da família, aguardavam a chegada do navio-hospital Gil Eanes para receberem correspondência e encomendas. Os oficiais, quase sempre oriundos de Ílhavo e arredores, os pescadores da região da Figueira da Foz.

Valeu a pena a leitura e fiquei também a saber que se chama “ Grande Banco da Terra Nova” a uma zona planáltica com cerca de 400 km2, onde o relevo do fundo oceânico passa de 5 000m de profundidade para 100m. E ainda a origem do termo “mata-bicho” que às vezes se associa à primeira refeição da manhã e que era afinal o copinho de bagaço servido a todos os pescadores de manhã, antes de irem para a pesca.

2 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Eu tenho que ler o livro e tu tens que ir visitar o Santo André, navio-museu bacalhoeiro... :-))

Abraço

goiaba disse...

Pois tenho. Fiquei a pensar nisso desde que li o relato dessa visita.
Também vale a pena visitar o Gil Eanes que está em Viana do Catelo, recuperado e aberto a visitas. Foi salvo da sucata ( estava em Lisboa) por um grupo de gente louca de Viana, com o apoio da Câmara Municipal ( suponho).
Abraço e obrigada pelas visitas.