terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

“VIVA MÉXICO”


É o novo livro de Alexandra Lucas Coelho, depois de “Caderno Afegão” e o último da colecção Literatura de Viagens da “Tinta da China”.

No verão passado a autora desembarcou na Cidade do México – “ Não sei nada do México e tenho uma mochila”, é assim que começa o livro que mais tarde escreveu. Na mochila levava livros sobre o México de Octávio Paz e Le Clézio, uma antologia de poesia azteca , um número precioso de contactos de norte a sul do país, um projecto para conhecer o México não turístico e tempo ( três semanas).
Chegou no ano em que se comemorava o bicentenário da Independência e o centenário da Revolução e nos meses em que, televisões, ecrãs gigantes e conversas se centravam no Campeonato Mundial de Futebol ( na África do Sul).
A viagem começa na Cidade do México, zona dos antigos aztecas ou mexicas, os povos antigos que melhor caracterizam o país. E fala-nos de lugares que evocam Cortés e Monctezuma : “ Este Novo Mundo começa no extermínio e isso há-de significar qualquer coisa. No tempo indígena significa que o extermínio histórico faz parte do presente”. Mas se nos faz sentir a violência da cidade e sobretudo do bairro Tepito ( pugilistas, traficantes, contrabandistas e outros marginais), também nos mostra a beleza “ que irrompe onde menos se espera” como na Casa Azul de Frida Kahlo e nos murais de Diego Rivera. Com a sua lista de contactos, encontra-se com escritores , responsáveis de museus e gente comum que a acolhe , conta histórias e mostra “as ruas”.

Depois segue para norte, para o deserto de Chihuahua e para a zona forte de violência associada ao narcotráfico, a Cidade Juárez. Aí, uma população amedrontada ou corruptora, vive entre os traficantes e as “maquiladoras” – fábricas ( americanas, chinesas, europeias e japonesas) onde, a custos baixos, mexicanos montam o que recebem em peças. É a globalização, o 1º contra o 3º mundo …

Vai depois para o sul, para zonas bem mais acolhedoras e calmas : Oaxaca, a região etnobotânica mais rica do México, o berço da agricultura. E leva-nos ao Monte Alban onde há vestígios da mais antiga cidade planeada pré-hispânica, pelos zapotecas. E deixa-se guiar por Francisco Toledo, o mais importante pintor mexicano vivo e grande impulsionador da cultura na cidade.
E ficamos com vontade de viver ali !!
Apresenta-nos os “muxes” de Juchitán , o 3º sexo (“ a mulher está aqui, o homem está ali e o “muxe” está no meio”) mas também os imigrantes clandestinos de vários países da América Central em trânsito para os Estados Unidos …
Subimos com a autora as serras para chegar a San Cristobal de las Casas, no território zapatista de Chiapas onde a revolução assume agora uma fase calma e com nova organização e objectivos.
E depois o Yucatán não turístico ( Cancun fica para outros autores …) com as ruínas de Uxmal e Rota Puuc, menos famosas do que Chichen Ilza mas consideradas pelos seus responsáveis mais importantes da cultura maia do que quaisquer outras.

Se o livro é uma reportagem de lugares, é sobretudo uma sucessão de encontros com pessoas com quem a autora se demora em longas sessões de “platica” ( conversa à mexicana, sem pressas) – gente comum e também artistas, padres, antropólogos, taxistas e “conhecidos que indicam outros conhecidos que também conhecem não sei quem” .
A escrita é perfeita, as imagens levam-nos lá, a viagem da autora torna-se a nossa viagem.

Fico à espera do próximo e vou procurar o seu primeiro livro: “Oriente Próximo”.

1 comentário:

peonia disse...

Também eu não sei nada do México. E com este comentário ainda aumentou mais a curiosidade de conhecer o livro de A. L. C.