terça-feira, 2 de novembro de 2010

San Michele – a ilha cemitério

Ainda guardo alguns apontamentos de Veneza para partilhar. Entre eles, a descoberta da ilha cemitério de Veneza, que se situa a curta distância, a norte da cidade, num recinto murado, ladeado de ciprestes.
Não a visitei mas, avistei-a de bem perto em algumas das minhas viagens de vaporetto.
Numa das vezes, tocou-me bastante. O vaporetto em que eu seguia abrandou para que um cortejo fúnebre, de barco, acostasse à ilha de S. Michele, a ilha dos mortos. Estava uma manhã cinzenta de nevoeiro e uma aragem fria causava-nos algum desconforto. Muitos passageiros, estrangeiros como eu, estranhavam o cenário que tínhamos à nossa frente. Lembrei-me logo do filme Morte em Veneza e de todo o mistério que a cidade enevoada empresta à trama desse filme. Assim, regressei a casa com imensa curiosidade de saber mais sobre a ilha cemitério. De saber como é que aquela gente que vive e convive o tempo todo com a água resolvia mais esse problema, o destino a dar aos que morrem.
Desde 1862 que a ilha San Michele passou a ser o cemitério da cidade de Veneza. Foi escolhida como cemitério aquando das invasões Francesas que decretaram a insalubridade de enterros na cidade. Por decreto de Napoleão, os mortos tinham de ser enterrados longe das casas dos vivos. A entrada para o cemitério faz-se por um portal gótico ornamentado por S. Miguel com um dragão e pelo claustro dos monges com colunatas. Neste dia de Finados, muitas pessoas acorrem à ilha para rezar pelos seus mortos. À excepção de personagens como o músico Stravinsky, a escritora Ezra Pound ou o fundador dos Ballets Russos, Dighilev, cujos corpos se encontram na ilha, os ossos dos falecidos são metidos em pequenas urnas. O cemitério ainda se encontra a uso, mas devido à falta de espaço torna-se necessária a exumação dos corpos passados alguns anos.

Neste dia de finados, dedicado ao culto dos nossos seres queridos que já partiram, as imagens daquela ilha veneziana provocam-me alguma emoção. Na verdade, a ideia de última viagem, as águas que balançam e embalam as embarcações, o nevoeiro, o mistério e o choro da sirene especial que se ouve nesses momentos compõem um cenário triste mas também muito belo e sentido que convida à meditação.
Deixo um pequeno vídeo com algumas belas imagens da ilha cemitério de Veneza.

2 comentários:

Anónimo disse...

Lindo texto e vídeo.
Tocou-me!
O sono ñ chega e...aqui vou esperando por ele...
Beijo.
isa.

goiaba disse...

Estamos tão habituados ao que é comum que pensar em formas diferentes de fazer as coisas faz um pouco de impressão. Nunca tinha pensado em como podem ser diferentes os quotidianos em Veneza. Obrigada pela partilha.
Abração