quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sacerdotisas-cantoras do clero de Amon

Estão quatro em Portugal!!

Quatro sarcófagos e 88 estatuetas funerárias foram trazidas para Lisboa pelo diplomata português que representou Portugal na cerimónia de entronização do Quediva Abbas II do Egipto. Reinava D.Carlos e governava Hintze Ribeiro.

Desde 1893 até finais do séc. XX ficaram esquecidas à guarda da Sociedade de Geografia até que o egiptólogo Luís Manuel de Araújo, prof. da Faculdade de Letras de Lisboa, se interessou pelo estudo das estatuetas e levou depois um seu aluno de mestrado a interessar-se pelos sarcófagos. Desde 2009, com uma bolsa, Rogério de Sousa dedica-se em exclusivo ao estudo desse espólio com o objectivo de divulgar a sua existência e conseguir angariar fundos para a recuperação que passa sobretudo por uma cuidadosa limpeza.
Como foram descobertas?

Durante cerca de 3 000 anos e até 1891, o túmulo onde foram encontrados os sarcófagos de 153 sacerdotes e sacerdotisas-cantoras de Amon esteve inviolado . Foi um ladrão de túmulos que vivia do saque e venda de achados aos europeus que eram bons compradores desde a expedição napoleónica de 1798, que intuiu a existência de um túmulo “ que não tinha meios para alcançar” – na região de Bad el-Gassus. Numa de honesto informou os ingleses que controlavam o Governo do Cairo. Foi assim que foi desentulhado um poço de 14 metros, no fundo do qual e por trás de uma porta selada, encontraram uma extensa galeria com cerca de 100m “atulhada de sarcófagos pintados com cores deslumbrantes, com predominância de dourado”.

Foi uma dor de cabeça a remoção e transporte para o Cairo de tantos sarcófagos, sob o olhar dos habitantes locais que se sentiam espoliados e revoltados com a tutela britânica. Foram depositados no museu de antiguidades de Gisé onde se acumulavam, sem espaço, muitos outros achados.

Sem saber o que fazer a tanto sarcófago, alguém teve uma “brilhante” ideia: oferecer alguns aos países que se fizessem representar nas cerimónias de entronização do novo Quediva ( título de vice-rei conferido pelo Império Otomano ao paxá do Egipto e que os ingleses mantiveram) .

E foi assim que tivemos direito aos quatro sarcófagos, entre eles o da sacerdotisa-cantora Djedmutiusanjk, um dos melhores do túmulo.

Será que os merecemos? Pelo abandono em que estiveram …

O interesse-paixão do psicólogo-egíptólogo Rogério de Sousa pode ser que leve à recuperação e exposição destes 4 sarcófogos até porque há um professor da Universidade de Varsóvia que tenta a reconstituição do conjunto dos achados de Bad el-Gassus.

4 comentários:

Mar Lis Goiaba disse...

Somos culturalmente um povo amorfo.Como este caso muitos estão por aí à espera de um apaixonado investigador e de algum dinheiro para restauros. Não damos valor à nossa história, mas vamos a correr aos Museus de outros países ver a históris dos outros e voltamos com os catálogos das exposições.
Ignora-se o nosso património e não valorizamos porque herdámos este modo de despresar a nossa história.

ZIA disse...

Muito interessante e muitos parabéns a este egiptólogo que teima em estudar e dar a conhecer este espólio. E ainda bem que o nosso país se fez representar na entronização desse Quediva. É bom divulgar, vai aguçar a curiosidade de mais algu+em.
ZIA

peonia disse...

Obrigada pelo registo. Quando o mundo civilizado saqueava o património arqueológico do Egipto, alguma coisa chegava também a Portugal...mas com uma diferença, por doação.

Anónimo disse...

Obrigada pela partilha!
Muito interessante!
Beijo.
isa.