domingo, 27 de abril de 2008

SER ALENTEJANA

Hoje fui ver a minha terra, é bom pertencer a um local, continuar a sentir o cordão umbilical mesmo que a minha «imigração» já tenha 48 anos…
Mas ser alentejano tem a sua graça. Somos um tanto indolentes, no falar e no agir, mas temos uma fibra genética de perseverança, tolerância e hospitalidade.
Gostamos do petisco e do copo de vinho tinto, da conversa longa e arrastada com os amigos no café, na praça ou na esquina do monte. Não parece mas somos um povo muito comunicativo quando confiamos.
O Alentejo na Primavera tem um encanto especial. Os campos ondulados com verdes matizados, a predominância da cor roxa e amarela , os salpicos dos malmequeres brancos…a quietude dos olivais. As primeiras papoilas a tingirem os campos de searas. O zumbido dos moscardos nas flores da laranjeira. Que quietude e paz para uma alma cansada da poluição desta cidade.
A minha terra situa-se no Alto Alentejo. Um local cheio de memórias das reconquistas da idade média. D. Afonso III deu-lhe foral em 1259, fundou e mandou povoar o Castelo.
O projecto do Castelo foi, desde logo, associado ao da construção da Torre de Menagem, que se supõe ter sido obra de três reinados - D. Afonso IV, D. Pedro e D. Fernando, o que a designou de "Torre das Três Coroas", simbolizadas no remate marmóreo do cunhal no terraço superior. Tive o privilégio de habitar o edifício fabuloso (hoje Pousada) que está ligado a esta Torre. Pelos seus corredores corri , brinquei e comecei os primeiros namoros. Lembro também as aulas de Canto Coral num espaço lindíssimo cheio de arcos góticos e que só mais tarde soube ser a sala do rei D. Dinis.
Esta cidade tem histórias fabulosas, talvez um dia me apeteça escrever sobre elas.
Mas hoje, quero partilhar uma paixão especial – eu adoro oliveiras.
Elas têm contornos escultóricos indescritíveis onde por entre as rugas , os nódulos , se pressentem mistérios, seres da natureza, como gnomos ou duendes.
Desde sempre senti esta atracção e talvez a tenha intensificado com leituras de poemas de Florbela Espanca quando tinha ainda 11 ou 12 anos.
Volto à cidade onde vivo, cidade que me adoptou e que também amo. Fica-me a nostalgia do meu tempo de criança quando colhia amoras selvagens, me deliciava com cheiro do alecrim, dos poejos, do jasmim e colhia “azedas” no caminho para a escola primária.

2 comentários:

Anónimo disse...

Como tenho gostado do q. escrevem,fotografam,no vosso blog.Ñ é surpresa para mim, pq. sei do q. são capazes de fazer. Achei mto bom.

Anónimo disse...

Já agora uma lembrança do meu 25 de Abril,1974 : estava na Praça de Espanha,para apanhar o transporte q.me levava até ao meu trabalho em Almada.Só reparei no q. estaria a acontecer qdo vi a Embaixada de Espanha,a Ponte,na Portagem,tdo cheio de militares e..a porta do Liceu fechada.Aí o Reitor explicou e mandou tds para casa..Há momentos únicos q. retemos para sp.