quinta-feira, 17 de março de 2011

Um colega improvável!


Sempre que posso procuro ouvir as intervenções do prof. Marcelo Rebelo de Sousa, os comentários aos acontecimentos da semana, as sugestões de leitura e as lições de direito que a cada passo nos dá. Aprendo sempre algo de novo.

Nem sempre concordo com os seus pontos de vista, nem sempre o considero isento nas suas críticas, nem sempre o acompanho nos recados que distribui, de forma mais ou menos directa, aos intervenientes da nossa cena politico social. No entanto, considero-o um comunicador de mão cheia, que sabe prender a atenção do ouvinte, que usa os gestos e a ironia como poucos. É um professor contagiante, sempre claro, sempre disposto a explicar e a trocar por miúdos os conceitos mais complexos, os documentos mais intrincados e qualquer pessoa que o ouça, independentemente do grau de escolaridade ou de conhecimento, fica esclarecido. Estar ou não de acordo, depende, depois, de muitos outros factores. Mas é brilhante a expor!

Dito isto, o meu apontamento, hoje, destina-se a partilhar e comentar o que lhe ouvi, numa entrevista que concedeu a Manuel Luís Goucha, no último domingo num programa da TVI24, que se chama De Homem para Homem, num formato de entrevista semanal. Foi bastante interessante. O professor foi desvendando um pouco mais sobre o seu percurso de vida pessoal e profissional. Gostei da forma como comentou o ensino de hoje, como avaliou os alunos que lhe chegam às mãos, as diferenças entre os alunos da era informática e os mais antigos, aceitando com muita jovialidade as naturais diferenças, as manifestas insuficiências. Tudo mudou, tudo continua a mudar e temos de aceitar que assim seja. Disse, por exemplo, que nota que os alunos de agora têm grande dificuldade em conceptualizar, têm mais informação mas muito menos digerida, menos organizada e com grande dificuldade em compreender o abstracto. Talvez devido à grande força do audiovisual, das mensagens rápidas e abreviadas da net e das sms, da voracidade da tecnologia que inova a cada dia.

Mas o que mais me tocou foi saber que o conceituado professor universitário acalenta um sonho – acabar a sua carreira profissional dando aulas no ensino básico ou no ensino secundário, com nítida preferência para o primeiro nível de ensino. Quanto mais jovens são os alunos, para o professor, mais difícil é ensinar. E porquê? Porque o professor considera mais estimulante, mais gratificante e um desafio constante ensinar neste nível de escolaridade. Soube-me muito bem ouvir estas palavras porque fui professora desse nível de ensino, tantas vezes desprezado e desvalorizado, apelidado de inferior ou menos exigente. Considero que a infância e a pré adolescência são, por excelência, a fase de maior generosidade, de maior avidez pelo saber, a idade das grandes descobertas, a idade em que a inocência ainda permite que os alunos sejam sinceros e genuínos. Mas também a idade em que os conceitos têm de ser simplificados, a idade do despertar para o gosto pela poesia, pela leitura, pela nossa história passada, pelas ciências, pelas artes, pela matemática… Quanto trabalho, quanto campo a desbravar! Ainda bem que mais pessoas estão comigo nesta paixão!

Por tudo isto, professor, apeteceu-me chamar-lhe, Colega!

3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto!
Belíssimo e certamente agradaria ao querido Prof.
Tínhamos falado sobre isto mas a leitura...soube-me melhor.
Beijo.
isa.

goiaba disse...

Estou de acordo com o professor quanto à grande exigência nos primeiros ciclos de estudo. Quanto ao seu desejo ... acho que é demagogia, mas cá estaremos para ver. Não faltam colégios onde possa experimentar. ( tenho-me esquecido dessa série de programas do Goucha)

peonia disse...

Depoimento de uma grande Professora! Mas será que o Professor Marcelo "aguentaria" a burocracia e outras "coisinhas" que se passam na escola?