sábado, 15 de agosto de 2009

A Escola de Atenas

Na nossa visita aos Museus do Vaticano tínhamos vários objectivos. Tudo tinha sido preparado cuidadosamente pela I., falado connosco e tudo assinalado no guia e nas folhas que nos acompanhavam. Para além dos habituais pontos de interesse, vou destacar uma obra que eu não me lembrava de ter visto em visitas anteriores e que agora, com outros conhecimentos, certamente apreciei muito. Aqui fica, para apreciarem, a “Escola de Atenas”, famosíssimo quadro do pintor Rafael.
Mas, antes, uma situação engraçada por que passámos, a caminho da Stanza della Segnatura, sala onde sabíamos que se encontrava a famosa pintura. Como tínhamos seguido um percurso diferente do habitual, na visita ao Vaticano, estávamos com alguma dificuldade em localizar a sala. Recorrendo aos meus conhecimentos de italiano lá me dirigi a uns simpáticos guardas e perguntei pela “camera de Raffaello”, ao que me responderam com um sorriso malandro que estava “chiusa”, fechada, porque o pintor estaria a dormir e teria de me contentar com o “soggiorno”, sala de estar. Aí apercebi-me do meu erro e, já rindo todos, lá me disseram que eu queria, certamente saber o caminho para a “stanza”, sala de Raffaello. Mamma mia…logo me lembrei da minha professoressa que me corrigiu tantas vezes esse erro.
O trabalho de Rafael tinha chamado a atenção do Papa Júlio II que, em 1508, o chamou a Roma e o encarregou da pintura de frescos em quatro pequenas salas do Palácio do Vaticano: Na "Stanza della Segnatura" (Sala da Assinatura), sala utilizada como biblioteca e onde Júlio II assinava os decretos da corte eclesiástica, foram pintados frescos que representavam as quatro disciplinas fundamentais da cultura, isto é, a Teologia, a Filosofia, a Poesia e a Jurisprudência. Um dos episódios retratados nesta sala, que representa a ciência secular da Filosofia, e que foi alvo da nossa atenção, é a célebre “Escola de Atenas”, homenagem à academia que Platão fundou, no ano de 370 a.C. e que foi um dos mais importantes centros de pesquisa e ensino da Matemática e Filosofia da Antiguidade Clássica. Terá funcionado durante cerca de 900 anos, até ao seu definitivo encerramento pelos cristãos.
O fresco “Escola de Atenas” é uma alegoria que representa a continuidade histórica do pensamento da Academia de Platão, através de várias personalidades do mundo matemático e filosófico grego.
Diante do quadro e desperta como ando para as questões relacionadas com a pintura, a perspectiva, a incidência da luz, as cores e as tonalidades, fiquei encantada com o que via. E, na verdade, a perspectiva é extraordinária, a profundidade do quadro é notória e o efeito da ilusão das figuras a duas ou três dimensões, espantosa! Existe uma combinação surpreendente da pintura com a escultura e mesmo a arquitectura. Maravilhoso! E o equilíbrio é tal que o ponto da perspectiva encontramo-lo entre as figuras de Platão e Aristóteles, ao centro. Rafael representou, aqui, os maiores pensadores, especialmente os da Grécia antiga. Platão foi pintado com o rosto de Leonardo da Vinci, Euclides parece Bramante e Heraclito tem o aspecto de Miguel Ângelo, talvez uma forma de homenagear grandes vultos contemporâneos.
Neste quadro, Rafael deu grande ênfase à Matemática, em particular, e colocou Pitágoras à esquerda, representando a teoria da harmonia e Euclides à direita, representando a perfeição lógica da geometria.
A pintura é também dedicada às artes liberais, simbolizadas pelas estátuas de Apollo e Minerva. Gramáticos, Matemáticos e Músicos são personificados por figuras localizadas nos patamares, à esquerda. Gemétricos e Astrónomos estão à direita. Bramante é mostrado como Euclides (com uma prancheta, à esquerda, fazendo cálculos com um compasso). Michelangelo está sentado num degrau, lendo sobre um bloco de mármore e é representado como Heráclito. Uma visão mais atenta do fresco mostra que Heráclito foi o último a ser pintado. A alusão a Michelangelo é provavelmente um gesto de homenagem ao artista, que tinha recentemente concluído os frescos da Capela Sistina. Rafael — na extrema direita, com uma boina preta – e o seu amigo, Sodoma, estão também presentes (eles representam a glorificação das artes).O fresco teve um sucesso imediato e a sua beleza e unidade temática foram aplaudidas universalmente.
Gostámos tanto que ali ficámos observando cada pormenor com toda a atenção durante muito tempo. Há, realmente obras de arte eternas que apetece saborear sem pressas, reter nas nossas mentes e divulgar para que os outros partilhem das mesmas emoções.

1 comentário:

goiaba disse...

Aí está a diferença entre olhar e VER! Ajudada, até vi melhor ...
Obrigada.