quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ainda sobre a exposição de Minde

Já dissemos que a exposição da Lis, em Minde, correu muito bem, já dissemos que o ambiente estava muito agradável, muita alegria, boa disposição e predisposição para aproveitar as boas energias que todos sentiam ali, naquele espaço calmo e embelezado com as cores quentes e fortes dos quadros que enchiam as paredes do espaço. Mas há sempre mais qualquer coisa para contar, nem que seja um pormenor.

Não resisto a partilhar com quem nos lê uma situação que me tocou bastante.

Vou chamar-lhe Emília, Srª Emília, como poderia ter-lhe dado outro nome mas este, para mim, vai-lhe mesmo bem. Inaugurada a exposição e, depois dos presentes terem visto e apreciado os quadros, passou-se à Conversa com a artista convidada. Instaladas as pessoas, encostou-se a porta e deu-se início à sessão. Pouco depois, pela greta da porta viu-se um vulto que espreitava, pedia licença para entrar. Logo de seguida, entrou e, com ar de quem já estava habituada a estas actividades, procurou uma cadeira, cumprimentou os presentes e abancou sorridente e muito atenta. Figura humilde, pele muito tisnada, denunciando muitas horas de trabalho ao sol, cabelo apanhado num pequeno carrapito, sorriso meigo, fácil e, por vezes um tanto ausente. Exteriormente, diferente da maioria dos presentes, causou alguma perplexidade e umas trocas de olhares. Depressa se percebeu que a Srª Emília se sentia perfeitamente à vontade e, acima de tudo, que apreciava o que via e ouvia. E mais ainda, intervinha, perguntando ou respondendo às perguntas que a Lis lançava à assistência. E eram intervenções curiosas, originais de quem expressava com sentimento singelo o que lhe ia na alma e na cabeça.

Quem era de fora, quem não a conhecia, estava um pouco surpresa com a presença e a participação da Srª Emíla.

Quando a sessão terminou, desvendou-se o mistério – a Srª Emília é uma varredora de jardins, com pouca instrução é certo, mas com uma curiosidade enorme pelas coisas da vida e da cultura e com uma vontade imensa de saber sempre mais. Não perde uma das actividades do Museu. Está sempre atenta ao que lá se passa, bate à porta para se informar sobre as actividades semanais, não perde um concerto, uma exposição uma divulgação cultural. Quando lhe perguntei se tinha gostado, respondeu logo que sim, que os quadros eram muito bonitos, a conversa muito interessante, rematando ipsis verbis “ desde bem nova que aprecio muito as coisas culturais!” Banzei com este exemplo, com esta presença, com esta vontade de saber, com esta alegria que sabe apreciar o belo! E pensar que tantas pessoas com instrução e considerável nível cultural passam literalmente ao lado da “vida”.

Sem dúvida que todo o esforço feito pelas Emílas do meu país não cairá em cesto roto.

Fica uma pequena foto da Srª Emília a ilustrar o apontamento e em jeito de homenagem.

4 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

E eu que falhei esta exposição!
Razões de ordem familiar têm-me afastado de Minde, minha terra natal e do seu Museu e espaço envolvente, onde brinquei em criança e que tanto prezo!

Abraço

Anónimo disse...

Pois é, minha querida,a Senhora Emília é um exemplo para mt gente
que conhecemos e para tanto político
da nossa praça!
Que querida e que fantástico gosto!
Beijo.
isa.

peonia disse...

A sensibilidade faz a cultura, uma coisa que falha em muita gente da nossa praça, incluindo políticos.

goiaba disse...

O Museu é importante em Minde para muita gente mas bastava que fosse só para a "D.Emília" e já valeria a pena! Que bom ela ter um porto de abrigo para a sua ânsia de saber!
bjinho