quarta-feira, 13 de maio de 2009

O MILAGRE DE FÁTIMA

12 de Maio de 2009

1917

Sempre que assisto a reportagens do 13 de Maio em Fátima fico impressionada com os rituais, a fé e a emoção que as multidões de crentes manifestam.
Muito se tem escrito, discutido e investigado sobre o fenómeno, mas o grande mistério daquela época ficou para ser esclarecido um dia, talvez quando a sabedoria da nova era seja desenvolvida e se entenda a força energética de um local e de uma multidão. Está provado que o espaço onde se insere Fátima é portador de grande energia cósmica, há quem avance com a teoria de existir um portal para outras dimensões.
De concreto temos as sensações, os milagres, a energia que as pessoas sentem naquele espaço. E temos as reportagens da época – 1917.
Lembrei-me hoje de uma revista “Ilustração Portuguesa”, datada de 29 de Outubro de 1917 que comprei num alfarrabista nos anos 70. Reli, vi as imagens e resolvi partilhar convosco estas memórias.
O texto diz o seguinte:
“ O que ouvi e me levou a Fátima? Que a Virgem Maria, depois da festa da Ascensão, aparecera a três crianças que apascentavam gado, duas mocinhas e um zalalete, recomendando-lhes que orassem e prometendo-lhes aparecer ali, sobre uma azinheira, no dia 13 de cada mês, até que, em Outubro, lhes daria qualquer sinal do poder de Deus e faria revelações. Espalhou-se a nova por muitas léguas em redondeza; voou, de terra em terra, até os confins de Portugal, e a romagem dos crentes foi aumentando de mês para mês, a ponto de se juntarem na charneca de Fátima, em 13 de Outubro, umas cinquenta mil pessoas consoante os cálculos de indivíduos desapaixonados.
Nas precedentes reuniões de fiéis, não faltou quem tivesse suposto ver singularidades astronómicas e atmosféricas que se formaram como indício da imediata intervenção divina.
Houve quem falasse de súbitos abaixamentos de temperatura, da cintilação de estrelas em pleno meio-dia e de nuvens lindas e jamais vistas em torno do sol. Houve quem repetisse e propalasse comovidamente que a senhora recomendava penitência, que pretendia a erecção de uma capela naquele local, que em 13 de Outubro manifestaria por intermédio de uma prova sensível a todos, a infinita bondade e a omnipotência de Deus…
Foi assim que no dia célebre e tão ansiado, afluíram de perto e de longe, a Fátima, arrostando com todos os embaraços e todas as durezas das viagens, milhares e milhares de pessoas, umas que palmilharam léguas ao sol e à chuva, outras que se transportaram em variadíssimos veículos, desde os quase pré-históricos até aos mais recentes e maravilhosos modelos de automóveis, e ainda muitíssimas que suportaram os incómodos das terceiras classes dos comboios, dentro dos quais, para percorrer hoje relativamente pequenas distancias, se perdem longas horas e até dias e noites!
Vi ranchos de homens e de mulheres, pacientemente, como elevados num sonho dirigirem-se, de véspera, para o sítio famoso, cantando hinos sacros e caminhando descalços ao ritmo deles e à recitação cadenciada do terço do Rosário, sem que os importunasse, os demovesse, os desesperasse, a mudança quase repentina do tempo, quando as bátegas de água transformaram as estradas poeirentas em fundos lamaçais e às doçuras do Outono sucederam, por um dia, os aspérrimos rigores do Inverno…
Vi a multidão, ora comprimida à volta da pequenina árvore do milagre e desbastando-a dos seus ramos para os guardar como relíquias, ora espraiada pela vasta charneca que a estrada de Leiria atravessa e domina e que a mais pitoresca e heterogénea concorrência de carros e pessoas atravancou naquele dia memorável, aguardar na melhor ordem as manifestações sobre naturais, sem temer que a invernia as prejudicasse, diminuindo-lhes o esplendor e a imponência…
Vi que o desalento não invadiu as almas, que a confiança se conservou viva e ardente, a despeito das inúmeras contrariedades que a compostura da multidão em que superabundavam os campónios foi perfeita e que as crianças, no seu entender privilegiadas, tiveram a acolhê-las as demonstrações do mais intenso carinho por parte daquele povo que ajoelhou, se descobriu e rezou a seu mandado, ao aproximar-se a hora do “milagre”, a hora do “sinal sensível”, a hora mística e suspirada do contacto entre o céu e a terra…
E, quando já não imaginava que via alguma coisa, mais impressionante do que essa rumorosa mas pacífica multidão animada pela mesma obsessiva ideia e movida pelo mesmo poderoso anseio, que vi eu ainda de verdadeiramente estranho na charneca de Fátima? A chuva, à hora prenunciada, deixar de cair; a densa massa de nuvens romper-se e o astro-rei disco de prata fosca – em pleno zénite aparecer e começar a dançar num bailado violento e convulso, que grande número de pessoas imaginava ser uma dança serpentina, tão belas e rutilantes cores revestiu sucessivamente a superfície solar…
Milagre, como gritava o povo; fenómeno natural, como dizem os sábios? Não curo agora de sabê-lo, mas apenas de afirmar o que vi… o resto é com a Ciência e com a Igreja…”
Avelino de Almeida (1917)

































































2 comentários:

goiaba disse...

Ainda bem que encontraste essa "Ilustração Portuguesa" e que sorte não a teres já oferecido a alguém ... Que tal passar os olhos pelas outras e encontrar relatos de época interessantes?
As aparições de Fátima continuam um mistério mas acredito que algo aconteceu e que um dia haverá uma explicação que, de sobrenatural parassrá a natural. Entretanto acho também que aquele lugar tem qualquer coisa que toca mesmo os mais cépticos.
Beijinhos

Anónimo disse...

Muito interessante.
Acreditem que sou insuspeita.
Quando vou a Fátima,por em baixo que me sinta,entro na Capelinha,
rezo e sinto uma leveza física e espiritual fantástica.
Beijo.
isa.