terça-feira, 25 de maio de 2010

NO DIA MUNDIAL DOS VIZINHOS

Sempre que temos entre nós a nossa amiga e vizinha madeirense, temos novidades da nossa cidade. A Irene gosta de Lisboa com paixão e dá sempre umas escapadelas, sozinha, deambulando, à descoberta de novos sítios ou apenas a rever locais que muito aprecia. Ficamos, portanto, enriquecidas com os seus relatos e, muitas vezes, motivadas para umas próximas saídas. São outros os olhos, outras as formas de ver!
Acontece que, ontem lá andou ela por ruas e vielas de Alfama. Mandou-nos umas fotos pelo telemóvel (ainda bem que já se rendeu a estas modernices!) e, ao serão, trouxe-nos, um belo poema de António Botto, inscrito na lápide colocada junto da Fonte do Poeta, próximo do Terreiro do Trigo. A ideia era que o poema pudesse ser publicado, enriquecendo o Blog das vizinhas.
Conversa puxa conversa, pesquisa aqui e acolá, ficámos a saber que este Terreiro fica situado na confluência das freguesias de Santo Estêvão, São Miguel e Sé. Que o nome daquele largo se deve à existência, outrora, de um celeiro, destinado ao abastecimento de cereais aos moradores de Lisboa, mandado construir em 1766, por D. José e ocupado actualmente pela Direcção Geral das Alfândegas e Impostos especiais sobre o consumo.
Aqui ficam o poema, as explicações e o convite para que por lá passem, agora que as festas da cidade vão enfeitar ainda mais os bairros típicos de Lisboa.
A boa vizinhança também se constrói com esta partilha de gostos, saberes e descobertas! Dá mais colorido e alegria aos nossos dias. Dá mais sabor e sal às nossas vidas. Mas, acima de tudo, dá-nos um forte sentimento de pertença e de segurança pouco comum entre habitantes da cidade grande!
Bem hajam as vizinhas por tudo isto!

Fonte do Poeta

Nesta fonte que fala na surdina
De qualquer coisa que eu não sei ouvir
Matei agora mesmo a minha sede
E sentei-me ao pé dela a descansar

Não havia no ar mais do que a luz
finíssima da tarde num adeus.
Uma luz moribunda e solitária
A despedir-se frágil pelos céus.

E à medida que a luz se diluía
Nas sombras que nasciam lentamente
a fonte no silêncio mais se ouvia
Mais límpida, mais pura e mais presente...

Anoiteceu. Ninguém. Só a voz dela
Só essa voz ao longe num desmaio
o timbre vivo e pálido de um grito.
Levantei-me. Deixei-a. Tristemente
acendeu-se uma estrela no infinito.

António Botto

3 comentários:

goiaba disse...

Obrigada vizinha - pelo texto, pela invocação,pelo dia-a-dia, pela amizade. Bjinho

Rosa dos Ventos disse...

Ontem nem um vizinho vi! :-((

Abraço

irene andrade disse...

fiquei contente por saber que as minhas vizinhas quiseram partilhar destas emoções. Um poema escrito no muro dum bairro é uma pequena janela por onde se pode lobrigar um pouco da alma da cidade. Bjinhos.