
Vai trazer-nos de Londres a sua reportagem. Ficamos à espera!
Este espaço será reservado à escrita a três mãos, onde se pretende reflectir, comentar e divulgar ideias, pensamentos, textos, fotografias e pinturas.
Li, há tempo, um livro que achei muito curioso – “ O Reino das Mulheres – o último matriarcado” de Ricardo Coler.
O autor escreve sobre o último dos matriarcados e sobre os seus costumes e valores. Trata-se de um grupo étnico da China, os Mosuo, que vivem na região de Loshui, nas margens do lago Lugu, um dos maiores lagos de montanha da Ásia.
Quando se pensa numa sociedade matriarcal, imagina-se uma sociedade com os papéis invertidos, com as mulheres exercendo o poder e as actividades dos homens, e estes a tratar de crianças e da casa… Não é assim. O que caracteriza esta sociedade matriarcal é a existência de uma matriarca que organiza a totalidade das actividades da família e trata do património e da administração do dinheiro. Por isso, os Mosuo distinguem-se de outras sociedades, que ainda hoje são dominadas pelas mulheres, como os Nogovisi de uma ilha junto à Papua-Nova Guiné e os Khasi, no nordeste da Índia (onde existe também o único movimento do planeta para a “emancipação masculina” – apoiado pela Igreja Católica…).
Os Mosuo são originários do Tibete e emigraram para a região onde hoje habitam, antes da era cristã. A passagem dos exércitos mongóis (sec.XIII) deu à população os traços fisionómicos actuais. São budistas tibetanos, da ordem dos “gelugpas”, respeitam o Dalai Lama e o Lama Pachen.
A família é constituída pelos elementos do mesmo sangue: mãe (matriarca), filhas, filhos e sobrinhos vivendo na mesma casa. A figura do pai é desconhecida, mesmo que as mães o saibam ou mesmo que toda a comunidade o saiba. Quando as filhas atingem a puberdade, são-lhes construídos quartos individuais, à volta do pátio comum, para que possam ter a intimidade necessária às relações livres com os homens das outras famílias – relações sobretudo ocasionais, das 24h às 6h da manhã (quando todos os homens devem regressar às suas casas…). Excepcionalmente, há “relações
abertas”, de maior duração, conhecidas por toda a comunidade.
Como são uma minoria étnica, o governo chinês permite aos Mosuo ter 3 filhos e uma família é mais ou menos próspera, quanto menos rapazes nascerem.
As mulheres trabalham a terra, tratam do gado e da casa, lavam a roupa no lago, cuidam das crianças, preservam o património e administram o dinheiro. Os homens tomam as “grandes decisões” a que as mulheres não dão importância: “ comprar um touro, ampliar a casa, investir em terra, fazer uma viagem”. “Para isso têm habilidade e tiram-nos um problema de cima” – diz uma matriarca. Na verdade, os homens não têm obrigações: são cuidados pelas mães ou pelas irmãs, brincam com os sobrinhos e, se forem rapazes, podem dar-lhes alguma educação; constroem os quartos para as irmãs, quando chega a altura. Quando falam da sua convivência com as mulheres só pensam na mãe e nas irmãs até porque é indecoroso falar de relações íntimas.
Não se pense que as mulheres não são femininas. Fazem questão de estar bonitas e de serem apreciadas pela comunidade local e pelos homens de outras comunidades. O que as une a um homem é só o afecto e as separações fazem-se sem zangas e sem ciúmes. Dos homens querem o mais comum:” que cuidem de nós, nos protejam e nos dêem atenção” …
Os Mosuo são pouco agressivos e envergonham-se de qualquer acto de violência. Quando há problemas graves, o “chefe da comunidade” (eleito pelas matriarcas), intervém – fora essa actividade é um homem com as mesmas desobrigações dos outros.
Eles são aparentemente felizes e não pretendem abdicar das suas tradições – mesmo quando vão estudar noutras comunidades, regressam e valorizam a sua – diz o autor. Pode não ser bem assim mas talvez valha a pena pensar nas razões que não propiciam a violência, a agressividade, o ciúme.
É sobretudo importante percebermos que há formas de viver profundamente diferentes que devemos respeitar.
Há muitas outras obras do mesmo género que, se têm uma importância especial para quem as viveu e as escreve, são apontamentos de informação, prazer de ler ou mesmo documentos de reconstituição de épocas e hábitos.
Tenho um amigo a quem com frequência estimulo para escrever as suas histórias vividas na guerra colonial, com características que seria importante divulgar e não guardar numa memória pessoal. Ainda não consegui que o fizesse.
Se calhar esta necessidade de falar das nossas memórias começa a vir com a idade … ou talvez não.
Mais reais, mais ficcionadas, mais ou menos imaginativas, os apontamentos do quotidiano que todos vivemos, têm, nos blogs, um espaço fácil para quem não é escritor mas tem vontade de contar histórias, de opinar sobre quotidianos, de transmitir memórias. Não comecei há muito tempo a percorrer diferentes blogs mas tenho “viajado”, aprendido, recordado, confrontado pontos de vista, concordado ou discordado. Eu sei que é só actividade para o lado esquerdo do cérebro como diz a LIS, mas que fazer? (recordo à LIS que às vezes também faço mandalas para acordar o lado direito …)