sábado, 21 de junho de 2008

REENCONTROS

Ontem, encontrei-me com colegas de trabalho para festejarmos o 50º aniversário de uma escola onde trabalhámos grande parte das nossas vidas. Devo confessar que tinha um certo receio que essas memórias viessem encher o meu coração de alguma tristeza.
Mas afinal foi divertido, apesar de o tempo ter passado e de não nos vermos há já alguns anos, concluímos que a maior parte estava com muito bom aspecto. Os anos não tinham deixado marcas… Até, com alguma graça, os mais novos, que ainda estão no activo, olhavam para nós com uma certa admiração.
Pois é, pena tenho eu deles, neste momento, porque estão vivendo uma vida profissional desmotivadora, onde não há tempo para um trabalho rigoroso, nem para um maior convívio, nem para nada que não sejam as burocracias destas novas exigências da Ministra da Educação.
Sempre me debati por algumas renovações e responsabilização educativa, criticando no passado alguns colegas que faziam da profissão um part-time. Tive alguma esperança, no início do reinado Sócrates, mas depressa compreendi que, mais uma vez, não temos uma politica educativa correcta. Agora, exagerou-se.
Também não compreendo porque o Ministério da Educação desperdiça recursos humanos válidos para a formação dos professores; professores que se reformaram ainda com boas capacidades de trabalho e que poderiam disponibilizar muito da sua experiência. Seria uma aposta com mais sucesso do que o trabalho de alguns elementos da equipa da ministra, que são tecnocratas de gabinete e que não têm experiência prática no campo da educação. Teóricos há muitos. Hoje é fácil escrever um livro, os recursos bibliográficos em vários suportes facilitam essa tarefa.
Mas ter uma experiência de 37 anos, com percurso por várias reformas, desempenho de diferentes cargos e até alguma inovação poderia ser um recurso importante.
Levamos uma vida a aprender, a experimentar, a tirar algumas conclusões e, quando estamos seguros, vamos para casa e arrumamos tudo numa gaveta. Faz impressão, mas é assim.
Há profissões que permitem continuar: médicos, advogados, arquitectos, engenheiros, etc.Que sorte a deles, não só pelos benefícios materiais, mas por poderem continuar a legar a sua experiência a outros mais novos.
Mas voltemos ao cenário da festa de comemoração de meio século da escola e descrever uma exposição de fotografias que fazia parte dos eventos do reencontro. Fotografias históricas do ano 1958, anos 60 e PUM!!! Acabou ali. Ficou por fazer a história até 2008! Não por falta de material fotográfico, mas por falta de Tempo?!!! Será mesmo verdade que os colegas de hoje não têm tempo para nada?!!! Prefiro acreditar nisso.
Não sou daqueles que põem as culpas nas gerações mais recentes apelidando-os de insensíveis. Mas há um cuidar de memórias de uma escola que não deve ser menosprezado. Há uma história, há vidas, há muitas memórias de alunos e professores que percorreram aqueles espaços que não podem e não devem desaparecer…
Brindámos com vinho do Porto aquele encontro! Trocámos endereços electrónicos, vimos fotografias de filhos e netos, lamentámos a ausência de alguns colegas.
Mas foi giro!
Não vou esquecer alguns dos fortes abraços daquele dia, nem aquela corrente de afectos que soubemos preservar e que nos acompanhará até ao fim da vida .


4 comentários:

Anónimo disse...

Não esquecemos!! Somos,felizmente, da "Geração dos Afectos", como eu digo.Temos referências e gostamos de as ter!Tu mereces todo esse carinho, respeito e admiração. Mereceste.isa.

peonia disse...

Parabéns! Gostei do texto e das reflexões! Somos pelos afectos, mas seguimos em frente!...

goiaba disse...

Foi bom teres escrito aquilo que também senti. Foi bom ter encontrado pessoas com quem trabalhamos intensamente,discutimos e por vezes discordamos. Passamos muitos anos juntos - mesmo os que saiam voltavam noutro ano ou apareciam de visita.Foi mau perceber que não se estavam a comemorar "50 anos de vida de uma escola" e que a actual Direcção não achou conveniente dizer uma palavra aos seus convidados. Foi mau perceber que se entregaram de forma envergonhada umas flores a 3 ou 4 pessoas e que ninguém teve uma palavra para as homenagear : tinham sido as últimas pessoas a reformar-se. Julgo que isso aconteceu pela 1ª vez nestes 50 anos ... Esta frieza relacional não é timidez, é indiferença. Paciência. O tempo e a vida darão as suas lições.
Obrigada pelo texto.

Anónimo disse...

Goiaba,estas palavras são para si!Tem toda a razão uma pena! Como é possível a frieza,com quem trabalhou ombro a ombro connosco?
Subscrevo: o tempo e a vida são grandes mestres!! Um abraço! isa.