segunda-feira, 28 de julho de 2008

As muitas “Quintas da Fonte” …

Passei anos defendendo minorias, desafortunados, sobretudo na defesa da justiça, dos deveres e dos direitos de todos a uma vida com um mínimo de dignidade . Na defesa também da responsabilização individual e colectiva.

Sinceramente acho que é dever de um Governo ( central, autarquias), construir habitações e alugá-las a preços compatíveis com o rendimento dos agregados familiares que não podem aceder ao mercado livre. Também acho que é dever de qualquer empregador dar trabalho sem preconceitos de raça ou outros, julgando o carácter, o mérito e a responsabilidade. Mas também não tenho dúvidas que é dever dos beneficiários pagar o aluguer estipulado, a água e a luz que gasta antes de pensar adquirir bens supérfluos como “plasmas”, “playstations”, DVD’s , carro, etc. E é uma obrigação trabalhar.

Não foi o que vimos na “Quinta da Fonte”.
Com rendas médias de 4,26 euros, parece haver um milhão de euros de rendas em atraso ( cerca de 50 mil mensalidades ) – o bairro tem 10 anos …
Porque é que a Câmara de Loures não exigiu os pagamentos em atraso como faria qualquer senhorio?
Se o Estado permite que negros, ciganos ou brancos sejam irresponsáveis, não cumpram os seus deveres e não sofram castigo é porque os trata de forma discriminatória e xenófoba. Ou não?

Dizia uma notícia recente que dos 50 mil ciganos residentes em Portugal, 35 mil recebe o “Rendimento Social de Inserção”.
Será que esse “rendimento” ao ser criado não era uma ajuda para facilitar a “inserção”? Será que quem beneficia dele procurou aprender um ofício, tentou encontrar emprego, valorizou a educação dos filhos? Por certo muitos o fizeram. Mas a maior parte não se responsabilizou.
Mas dos 35 mil ciganos poucos deixaram os seus hábitos de vendedores ambulantes de bens lícitos e ilícitos e a maioria das suas crianças não completa a escolaridade obrigatória. O que vejo no meu bairro, junto à Praça de Espanha e onde há muitos ciganos realojados, é que continuam a viver na rua, a fazer refeições nos cafés, a deixar garrafas de cerveja, papéis, latas, … por todo o lado, a vender o que calha, a guiar com ou sem carta e a receber “o rendimento” mensal. “Inserção”? O que é isso?
Têm culpa? Não sei. Alguém lhes explicou que o “rendimento” não é uma obrigação dos outros cidadãos que pagam impostos mas um empréstimo solidário para que possam inserir-se na sociedade ? Alguém lhes explicou que “se sujam, limpam” porque os funcionários de limpeza da Câmara não são pagos por todos nós para os servir? A polícia, a Junta de Freguesia, intervêm, explica, educa, reprime se for preciso? Não.
Alguém controla a escolaridade real dos filhos no sentido de permitir que novas gerações estejam melhor preparadas?
E não há um prazo para que a “inserção” aconteça e acabe o “rendimento”?

Não gosto nada de ter de concordar com Paulo Portas quando diz querer ver discutidos estes apoios sociais! É que neste bairro também vejo gente idosa que trabalhou muitos anos e compra “asas de galinha” e sei de muita gente de todas as idades que trabalha duramente para ter uma vida decente.

Há muitos anos era fácil saber de que lado estar para defender as minorias e os mais carenciados. Agora, é muito difícil.


3 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

De certeza que não és professora porque se o fosses saberias que há "alunos" que nunca aprendem nem que façamos o pino!
E olha que eu, como tu, sou defensora dos mais fracos, carenciados, marginalizados.
Contudo custa ver gente a fazer pela vida e a tentar a todo o custo cumprir as suas obrigações e outros a "jogarem" só com os seus direitos.
Deveres são para os outros...
É pena!

Abraço

goiaba disse...

Sou professora, sou ... e também tive desses que nem fazendo o pino.
Mas mesmo entre esses, há os que se esforçam e não conseguem e os que não conseguem porque escola é para passar o tempo. E não tem a ver com estratos sócio- culturais como sabes.
O que eu acho é que estou a ficar muito dura e menos tolerante. Espero que esta fase me passe e consiga voltar a ver as "razões" dos outros para tudo o que fazem.
Obrigada pela visita. Abraço

Anónimo disse...

Pessoalmente acredito que, para se ter direitos, há que cumprir deveres. Não sendo assim, nada faz sentido.
Abracinho.