domingo, 13 de julho de 2008

BOLA DE NEVE TRANFORMADA EM MONTANHA

Assisti, passivamente, ao debate na Assembleia da República sobre o estado da Nação. É um espectáculo que me diverte tanto como, a alguns, um jogo de futebol.
As equipas entram em campo preparadas para serem aplaudidas e a verbosidade é impressionante.
Esperamos sempre uma novidade, um salvador do estado da Nação, alguém brilhante que, com poder, pudesse dar uma volta a este Pais. Mas com tristeza assistimos ao espectáculo com algum tédio, porque alguns líderes parlamentares utilizam sempre as mesmas tácticas de ataque, críticas mal fundamentadas, ou, mais grave, sem manifestação de alterações inteligentes ao medíocre estado da Nação.
Isto faz-me lembrar as Assembleias de escola ou Reuniões de professores onde estive largos anos inserida. Muita conversa fiada, pouca acção, nenhuma atitude de avanço real na perspectiva de um futuro melhor.
O Parlamento é o retrato fiel da sociedade. Muita oposição com críticas mesquinhas, muitas palavras gastas, risos disparatados e falta de postura.
Somos palavrosos mas pouco coerentes. E assim estamos perdendo oportunidades únicas. E digo isto porque, apesar de não pertencer a qualquer partido politico, posso objectivamente analisar as atitudes de todos e verificar que Sócrates é um político inteligente, activo e bem-intencionado, mantendo firme o seu projecto político.
No entanto, o projecto sofreu alterações, algumas graves para o povo português.
Mas, fazendo ainda outro paralelismo, lembro-me de alguns Presidentes de Conselhos Executivos de Escolas que eram fabulosos, cheios de garra e que deixaram cair os seus projectos educativos. Estavam sozinhos, as equipas não funcionaram…aí o problema.
No caso do nosso Primeiro-Ministro acho que também falhou em grande parte devido à inabilidade dos seus ministros.
Claro que a responsabilidade é do “chefe”, no entanto muito lhe escapa e quando dá conta de qualquer problema, é tarde. Vem fazendo remendos e isto é mau.
Estamos a perder a oportunidade de ser geridos por uma óptima cabeça, um bom líder, um homem dedicado e entusiasmado que tem ainda alguma esperança de alterar o nosso futuro. Mas vamos perdê-lo!
Não entendo o PCP nem o Bloco de esquerda. Fervilham de entusiasmo em derrubar este governo e depois quando “ele” se for… vão ficar a lamentar, porque homens com esta qualidade não há por aí neste País.
Estamos vivendo mal, com a angústia do problema económico que afecta a classe média e os mais pobres, endurecendo a nossa desconfiança.
Sentimos que vivemos num País pouco seguro, com uma aplicação da Justiça protectora de grandes senhores, com um sistema de saúde instável, inoperante e um ensino de fachada em que não se medem as competências mas as percentagens.
Mas só o governo é culpado?
Andámos durante anos iludidos, atordoados, fascinados com a facilidade de comprar tudo, de manter níveis sociais superiores ao valor do nosso ordenado. Tudo a que nos julgámos com direito foi facilitado: casa própria, carro, viagens, luxos, bons equipamentos domésticos, telemóvel de 3ºgeração, etc., etc…
Não pensámos que a crise podia bater à porta e o crédito acabar… não se educaram os filhos e netos para este presente. E agora? Culpa do governo ou do destrambelho em que fomos vivendo nestes últimos anos. Uma bolinha de neve para a qual Guterres chamou a atenção e que hoje se tornou numa montanha.
Também somos culpados pela inércia, comodismo e incompetência.
Acostumados a ser “velhos do Restelo”, continuamos a não acreditar nas reformas, na inovação. Tudo o que é novo é incómodo, vem quebrar a rotina, obriga a sacrifícios de várias espécies e não queremos estar abertos a isso.
Assim é mais fácil criticar, deitar abaixo antes de experimentar sequer.
Esta é a minha experiência de décadas, fosse o governo de direita, centro ou esquerda.
Alguns valores foram-se perdendo nestas batalhas. A luta social hoje centraliza-se no ordenado ao fim do mês, sem esforço numa participação activa de melhoria de formação e condições de trabalho.
Lembro um jovem colega, numa das últimas reuniões de professores em que participei, que teve uma atitude sincera e que corresponde à realidade destes tempos. Interrompi a reunião para levantar algumas objecções a processos incorrectos de ordem pedagógica que se estavam a verificar naquela escola. O colega disse: para quê discutir isso, o que interessa é o ordenado ao fim do mês e a certeza do lugar no ano seguinte, não vamos criar problemas…
Quero acreditar que ainda há jovens capazes de me responderem de outro modo, mal deste País se assim não for!
LIS


2 comentários:

goiaba disse...

Nem tudo está bem mas também nada está tão mal quanto pintam, no que se refere à acção deste Governo.
Os quadros teóricos que às vezes até parecem muito bons, esbarram com uma realidade que foi por vezes mal avaliada, com "opositores de serviço" a tudo o que seja mudança, com negligências, comodismos, falta de profissionalismo, ...
Os que aderem e se esforçam para realizar, experimentar, corrigir, acabam por vezes exaustos, tantos são os obstáculos que lhes criam.
Os Romanos diziam que "os Lusitanos são aquele povo que nem se governa nem se deixa governar".
É preciso muita paciência, persistência, determinação, Esperança e Fé em ideais para "ser prior desta freguesia" ...

irene andrade disse...

Tudo bem visto e analisado. Temos boas cabeças,mas também há cabeças melhores do que as nossas. Se falamos de "povos" ou de "nações" nem sempre queremos dizer "humanidade". Ser "humanidade é uma condição animal complexa cujo cérebro não foi ainda totalmente descoberto. Do que se passa lá dentro pouco se sabe. O que medeia entre palavra e acção é uma zona obscura. Temos mesmo é que ser humildes e aprender permanentemente a "pensar" e lutar pelo primado da coerência sobre a vaidade. Acho que por aqui é que nos perdemos...