terça-feira, 20 de maio de 2008

ERICEIRA


A Ericeira tem sido notícia por força da multa por uso “indevido” de bio-combustível. Naturalmente que a minha opinião é a do cidadão comum, com ligação ou não àquela vila: espanto, indignação. A Junta de Freguesia diz que não paga e eu estou com essa decisão – até porque, desde há 4 anos, estou recenseada na Ericeira.

Ericeira é “terra de ouriços”, não os do mar como durante muito tempo se pensou, mas terra de “ouriços-cacheiros”(foi encontrada a imagem de um num antigo brasão da vila). É menos bonito mas o ouriço-cacheiro invoca a deusa fenícia Astarte o que permite pensar ser o povo da Ericeira de origem fenícia (1000 a.C) e um povo de pescadores - hoje, aos naturais da Ericeira chamam-se “jagozes” (penso que não se sabe porquê, diz-se que foi para se distinguirem dos “saloios” …)

No séc.XIII, as baleias, toninhas e delfins eram espécies abundantes e da pesca na zona já havia notícias. Mais tarde foi importante a pesca de raia, rodovalho e pescada. No sec XIX, o porto da Ericeira era o 4º do país (depois de Lisboa, Porto e Setúbal) e, até ao desenvolvimento do caminho de ferro, manteve grande importância nas transacções comerciais e na pesca. De então para cá a importância do porto decresceu de tal forma que hoje a luta é pela sobrevivência de um pequeno porto de pesca. Diz-se que estão agora reunidas as condições para se fazer a adjudicação da obra. Será desta?

A Ericeira foi, até 1855, sede de concelho (passou depois para Mafra) e teve mesmo um “rei” : um falso D. Sebastião, residente em Sto Isidoro e que, depois de conceder várias mercês e receber tributos, acabou na guilhotina.
A fuga para o Brasil de D. Manuel II, da rainha D. Amélia e da sua mãe, D. Maria Pia, projectaram o nome da vila e era só por isso que constava dos livros de História.

A vila cresceu com o turismo, o comércio e a construção de novas auto-estradas ameaça mesmo vir a torná-la um dormitório de Lisboa – mais agradável do que outros, mas com os mesmos inconvenientes.

A Ericeira é a minha praia desde os 8 anos. Com desgosto, quase sempre … Detestava os nevoeiros em Agosto, o vento na praia e disse até há pouco tempo que “ quando pudesse ser eu a decidir, nunca mais lá punha os pés”. Mas lembro sem desgosto, os banhos de mar com chuva (em Agosto!), os domingos na piscina do “Hotel Turismo”, as caminhadas na rua do “Xico”, as aventuras no Parque de Sta Marta – pouco mais.

Bem, mas, os anos passaram e é na Ericeira o meu domicílio oficial … E até já há menos vento e menos nevoeiros em Agosto! De verdade. E continua a existir a ermida de S. Sebastião (hexagonal, Templária?), a Igreja de Sta Marta, as praias de fundos rochosos com poças cheias de anémonas, ouriços, mexilhões, algas castanhas, vermelhas e verdes, … E há as lojinhas que é preciso visitar em cada fim de semana, as pessoas que cumprimentam e são mais ou menos conhecidas, o mercado onde se compram legumes “ com pouco tratamento”, … Pena que o Parque de Sta Marta tenha perdido a graça e pareça “de plástico” . Em compensação é uma vila muito limpa onde há preocupações de reciclagem de lixos, de criação de um ambiente agradável, com esplanadas de Verão e de Inverno. É por força dessa preocupação com a reciclagem de lixos que a Junta de Freguesia foi multada em 7 000 euros …

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