quinta-feira, 8 de maio de 2008

TRALHA ACUMULADA

Apesar de sempre criticarmos os nossos avós e pais pela quantidade de «tralha» que foram juntando ao longo dos anos, em caixas e caixinhas, em arcas ou sótãos, gavetas e gavetões, continuamos a mesma linha genética do «guarda tudo, que um dia vai fazer falta».
Assim, ao fim de anos acumulámos todo o tipo de tralha e vamos ficando com um espaço reduzido para gerir o nosso dia a dia.
É divertido ao mesmo tempo, porque, ao abrir uma gaveta, encontro os telemóveis que já usei e que se foram estragando, os pares de óculos que se foram desactualizando, agendas de anos e anos passados que têm endereços que já não me fazem falta, canetas que já não escrevem, enfim… um rol de bugigangas guardadas e a ocupar espaço, perfeitamente inerte e à espera de quê?
Mas este é um pequeno sector. Há, depois, as gavetas de lençóis bordados de um enxoval dos anos 60 que ninguém vai usar, os serviços de loiça que têm pratos e pratinhos, copos e copinhos que já pouco usamos. E os frascos, os bibelôs, as revistas desbotadas, e as pastas de elásticos com etiquetas: recortes, postais, catálogos de exposições, correspondência, recibos, fotografias, etc… E os dossiers recheados de papeis, acumulação de várias reformas no ensino, cheios de reflexões pedagógicas e didácticas. Depois as tralhas da roupa e sapatos, que embora não me considere caso grave, sempre acumularam por causa daquela mentalidade herdada de que as modas voltam sempre, mais tarde.
As modas voltam realmente, mas nunca igualíssimas, felizmente os designers dão-lhe uma volta.
Teria muito mais para relembrar se pegasse no tema livro, disco, cassete etc, etc…
Pergunto-me, porque somos tão apegados a estas tralhas? Materialismo, não me parece, apegos com memória talvez.
Então confronto-me com as minhas contradições, tenho apregoado a necessidade de libertação do passado, não porque ele me magoasse, mas porque passado é o que já foi, interessa o “hoje” e o “agora” e no entanto aí está todo o meu espólio material de anos e anos, acumulado…
Fala-se em “desapego”, que é bom para o corpo e a alma. Mas onde está a coragem de desabitar todos estes objectos?
Tenho esperança na nova geração. Reparo como para eles é fácil “descartar” tudo. Talvez consigam guardar as suas memórias em minis CDS assim como livros e dossiers. Tudo estará informatizado ocupando o mínimo espaço nas suas casas.
Talvez os filhos, quando eles partirem não encontrem na gaveta de um velho sofá as botas de soldado do seu velho pai como eu pude constatar quando da partida do pai de uma amiga.



3 comentários:

ZIA disse...

Depois de te ler está a dar-me uma vontade compulsiva de catalogar, ordenar, limpar, deitar fora...uf! Que canseira! Preciso de contentores!!
ZIA

goiaba disse...

Qualquer leitor do teu texto o deve subscrever ...
Acho que desde sempre acumulei tralha e sempre levei atrás caixas e caixas de "coisas", mesmo quando vivi em casas mobiladas e mudava muitas vezes de sítio. Quando há tempo tive de "libertar" a casa da minha mãe encontrei uma grande caixa de cartão que trouxe de África, cheia de folhas de stencil já usadas - um monte de tinta preta!
Mas, se de alguma tralha é fácil saber o destino, de outra é mais difícil. Preciso de determinação e coragem para me libertar dessa tralha e perseguir o sonho de viver só com o necessário - excepto livros que podem ser muitos.
Vou começar a "limpar" e organizar fotografias ...

Anónimo disse...

Primeiro, parabéns pela forma como recordam " Tralha acumulada". Tal e qual!!Depois agradecer a visita e o comentário que deixaram lá, no meu blog!!Era assim mesmo!Mais adiante falarei de 2 momentos que quase me tiraram do sério...Vão achar graça,acho q. sim. isa