sexta-feira, 9 de maio de 2008

A TAPADA DE MAFRA

Entre os 7 e os 10/11 anos, ia muitas vezes à Tapada de Mafra. O passeio começava no portão ao lado do Jardim do Cerco, onde aguardavam as charretes puxadas por dois cavalos. Fazia-se um longo (seria?) percurso pela “tapada de fora” até à “tapada de dentro” onde começava o encontro com a bicharada. Na verdade só me lembro de veados, gamos e javalis – espécies que ainda hoje são dominantes. Numa determinada zona havia uma casa habitada, com uma grande horta, sempre com muitas verduras de tons diferentes que me deslumbravam e me faziam sonhar. Virá daí o meu jeito de, em qualquer viagem, estar sempre à procura de ver campos cultivados com couves? E aquele desejo louco de roubar uma couve que me deu uma vez? Esqueci-me que, embora rasteira, a raiz é aprumada e bem presa à terra … rolei pela pequena encosta e parei junto à roda do carro com meia dúzia de folhas na mão.

Logo que entrávamos na “tapada de dentro”, os gamos começavam a aproximar-se e seguiam de muito perto a charrete, deixando mesmo fazer festinhas na cabeça. O nosso destino era o “ Salabredo”: uma zona fresca, com árvores altas de folha caduca e um ribeiro que, às vezes tinha muita, outras, pouca água. Instalávamo-nos para o piquenique e para a brincadeira. Os mais velhos estendiam mantas no chão para jogar às cartas e para a soneca.

Voltei 50 anos depois e não fiquei desiludida. Não é a mesma coisa, claro.
A entrada é directa na antiga “Tapada de dentro”, a visita é em grupo e num pequeno comboio mas os gamos estão lá, passeando quase entre os visitantes. O “Salabredo” continua a ser um parque de merendas mas no Verão o ribeiro estava seco. Há um museu de charretes e coches e um outro de animais embalsamados – animais existentes na tapada mas que dificilmente são vistos (répteis e sobretudo aves de rapina).
Vimos veados e gamos, muitos javalis e, sobretudo, mergulhámos em muitos verdes e em ar puro.

A beleza do passeio depende da época do ano. Na Primavera deve ser muito bonito. Talvez se ouçam os chamamentos nupciais dos anfíbios e se comecem a ver répteis que deixam a hibernação; os gamos e veados “velhos” devem estar a perder as hastes que nascem logo de seguida – aos mais novos vão crescer pela primeira vez; as crias dos javalis, gamos e veados estão por lá a nascer.

A Real Tapada de Mafra era parte integrante do Palácio - Convento mandado construir por D.João V (1706-1750) para local de lazer e caça da corte. Foi sobretudo usada por D. Luís e D. Carlos (que ali tinha o seu “pavilhão de caça” onde, diz-se, pintava, namorava e aguardava que as presas se aproximassem para as caçar). Tem uma área aproximada de 1190 ha e uma parte (360 ha) está hoje reservada a exercícios militares e pertence à Escola Prática de Infantaria.


1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei muito e fez-me lembrar um passeio muito agradável, há anos atrás. Foi bom saber q., quem voltou lá, ñ se desiludiu. isa.