sábado, 24 de maio de 2008

A MAGIA DA PRAÇA VERMELHA

Numa conversa entre amigos, já não sei bem dizer como nem porquê, veio à baila a Praça Vermelha cujas imagens alguns tínhamos revisto na TV. As opiniões divergiam mas eu defendia e defendo, que a praça que mais me marcou, até hoje, foi sem dúvida a Praça Vermelha. Tenho a felicidade de conhecer muitas praças bonitas, extraordinárias na sua arquitectura, história e beleza natural, mas esta é diferente!

E fica aqui a curiosidade sobre o nome da Praça, que não deriva nem da cor dos tijolos dos edifícios que a rodeiam , nem da cor vermelha a que habitualmente se associa o ideal comunista, mas sim de «krasnaya», que tanto pode querer dizer «bonito» como «vermelho», em russo, e terá sido, de início, o epíteto dado à famosa e lindíssima catedral S. Basílio, designação que, mais tarde passou para a praça.

Visitei Moscovo, com umas amigas, uma única vez, em 1984, antes da Perestroika, numa viagem organizada, com as vantagens e desvantagens que esse tipo de excursão tem mas que, à época, era a melhor forma de ir à Rússia.
Relembro o grande Hotel Rossia que tinha 3.000 quartos, corredores infindáveis, cortinados em veludo vermelho escuro, muito sumptuosos e que ficava estrategicamente situado a 3 minutos da Praça Vermelha.

A Praça é muito grande, rectangular, com pavimento de grandes paralelepípedos, bem negros e emblematicamente demarcada por quatro edifícios, todos diferentes que se casam magicamente numa harmonia única. Do lado sul, a Catedral de S. Basílio, verdadeiro castelo de contos de fadas, de onde esperamos, a cada momento que comece uma história de encantar e as cúpulas douradas das catedrais do Kremlin; do lado oposto o Museu de História, em tom brique escuro, com telhados brancos, como se estivessem sempre cobertos de neve; de um lado, os Grandes Armazéns do Povo, os GUM, segundo muitos, umas galerias em estrutura muito semelhantes às de Milão, mas muito decadentes, na altura; do outro, o ponto central da nossa atenção para a grande muralha do mausoléu de Lenine.

Impressionou-me imenso o asseio que se encontrava por todo o lado, tudo parecendo esterilizado, sem papéis no chão, imaculado. (dizem-me que agora está bem diferente!).

Para não me alongar muito mais, vou apenas relatar uma situação vivida na madrugada do nosso regresso a casa.
A hora marcada para o despertar tinha sido as 4 da manhã, a saída para o aeroporto, às 5 em ponto. Então, uma de nós propôs que fizéssemos uma directa e, para nos entretermos, por que não voltar, de noite, à Praça Vermelha, assistir ao render da guarda, que se realizava de hora a hora, junto ao mausoléu de Lenine, intrigadas que tínhamos ficado com a rigidez, o ar garboso e inflexível dos três militares, sempre muito jovens, loiros, muito bonitos que tínhamos visto em passos de ganso numa cerimónia impressionante pela austeridade e silêncio imposto aos visitantes por polícias atentos e com cara de poucos amigos.
Assim pensámos, assim fizemos…
Saímos do quarto e, logo no corredor, tivemos que trocar a nossa chave por um cartão, tipo passe, junto da funcionária que, de dia e de noite controlava a nossa ala. Já no hall do hotel, foi-nos pedido o cartão e substituído por outro, quando dissemos da nossa intenção de sair. Tudo feito com sorrisos, sem perguntas, sem objecções…. Sentíamo-nos personagens de um filme de espionagem…
Ruas desertas, noite tranquila, temperatura muito amena e sem o mínimo dos problemas, encaminhámo-nos em direcção à Praça Vermelha.
Aí demos umas voltinhas, sempre acompanhadas pelos faróis de um carro da polícia acesos sobre nós, até que fossem 4 horas… Que emoção! Sentimo-nos em absoluta liberdade-controlada, que estranho e que bom!
Não fomos realmente as únicas pessoas a terem aquela ideia mas fomos certamente as mais emocionadas e as que mais se aproximaram do gradeamento. E verificámos incrédulas, que tudo se passava com o mesmo rigor e o mesmo fanatismo. Aqueles jovens soldados, com ar bem cuidado, avançavam em passo de ganso, os passos ecoavam no chão frio e quase vazio da imensa Praça e permaneciam durante uma hora estáticos e disciplinadíssimos, sem um ligeiro mover de olhos, executando uma guarda de honra impecável.

Regressámos ao Hotel e, para nosso reconforto, a vigilante do nosso piso, apesar do ar robusto e severo, preparou-nos um chazinho quente, num enorme bule, que levámos para o quarto e que acompanhou o resto das nossas reservas alimentares até à hora da partida para o aeroporto.
Talvez tudo isto, aliado à indubitável beleza e equilíbrio da Praça Vermelha a tenha tornado, aos meus olhos, a mais bela e mágica praça que já visitei.




3 comentários:

Anónimo disse...

Se Salazar soubesse o significado(ou um dos..)da palavra dada à praça,das duas uma:ou ñ "impedia"o uso de "vermelho", preferindo o encarnado..ou então teria proibido o uso de "lindo".
Vamos falar a sério:nunca lá irei,eu sei!Mas é como se tivesse ido!Às vezes, os "relatos"de viagens,fazem verdadeiros milagres.este foi um desses casos.isa.

goiaba disse...

Obrigada pela viagem. Mesmo que lá vá um dia já não será assim e até o grande hotel parece que mudou de finalidade ... Será que os soldados também têm alfinetes nos colarinhos como se diz dos soldados chineses? Também não sabia a origem do nome da Praça.

Anónimo disse...

Uma nota:nunca lá irei pq. ñ me seduz!Sério!Marcas antigas,talvez!
"Dr.Jivago"? Cenas de "les uns,les
autres"? Sim...deve ser isso.
Fico-me pelas imagens,pelos relatos
e fico bem.Bjs. isa