sábado, 30 de agosto de 2008

PELA MEDINA DE FEZ


Hoje, proponho que venham comigo deambular pelas ruas e ruelas da Medina de Fez, talvez a mais antiga cidade imperial de Marrocos e aquela que eu aguardava com maior curiosidade, por tudo o que já sabia e tinha visto.
Graças à recente intervenção da Unesco, que salvou o centro histórico e declarou esta Medina Património Mundial da Humanidade, podemos mergulhar na história do país, nos seus aspectos culturais, religiosos e sociais.
Observado do alto dos montes a Medina é um aglomerado de telhados, cúpulas e minaretes. Parece uma cidade fantasma, abandonada, não se adivinha o que todos estes hectares abrigam. Aproximamo-nos e…tudo muda!





O percurso faz-se a pé por um labirinto de ruelas, muito estreitas e muros muito altos. Mal se consegue passar quando se ouve «Bálá!» e surge, sem parar, um burro carregadíssimo, um carrinho de duas rodas com mercadorias, puxado por um jovem, um homem com um monte de carcaças de animais ao ombro, a caminho do talho, uma criança com tábuas cheias de pão para levar a cozer ao forno comunitário, mulheres carregadas com as compras diárias de fruta, legumes e criação, mulheres que regateiam peças de vestuário… Curioso, os burros usam umas «cuecas», para a recolha das necessidades…nada fica sujo à sua passagem!
São inúmeras as lojinhas e vendas. Nunca tinha visto um centro comercial a céu aberto tão vasto e variado: as galinhas escolhem-se vivas, são mortas, depenadas e preparadas à vista do cliente; as peças de carne têm bom aspecto, apesar das moscas que voltejam; as ervas aromáticas e os cheirinhos estão expostos em verdadeiras pirâmides e toda a gente os compra; os frutos secos muito bem apresentados, de excelente qualidade e de muito variados preços; os legumes são muito bons e apresentam-se num colorido apetitoso; o sabão é vendido ao peso, em grandes recipientes de folha, têm um aspecto pastoso, cores e finalidades diferentes; os alfaiates tiram as medidas e confeccionam várias peças à nossa vista, enquanto os ajudantes vão dobando fios, meadas de linhas e vão chamando os clientes; os comerciantes de roupa chamam os turistas e expõem coloridas túnicas, as jellabas, os chinelos, as babuscas, os cintos, os lenços e as écharpes. E há mais, há toda uma cerâmica típica da região, os instrumentos musicais, as bijuterias e outros elementos de adorno, os camelos e os burros, os objectos em couro, os sacos e as malas, a quinquilharia que todos conhecemos de cor.



E vamos cruzando com as mais variadas pessoas: os velhos, trajando de forma mais tradicional, muitos de branco, bege ou castanho; as mulheres de tons neutros, as cabeças cobertas com lenços; muitas usam cores mais vivas e alegres; as mais jovens já se vestem de uma forma mais leve, misturando aos trajes compridos uns pormenores de estilo europeu e os mais miúdos usam, no dia a dia o mesmo que os nossos.
E, pormenor muito curioso, e muito sensato. Dentro da Medina, vivem pobres e ricos, sem que exteriormente, se notem essas diferenças. Só a decoração do interior as distingue. E existe cada interior! Inacreditavelmente fabuloso! Conseguimos vislumbrar alguns, idealizar outros pela descrição que ouvimos.
Através do guia local ficámos a saber um pouco mais sobre a forma como se organizam, em cada quarteirão da Medina. Há realmente uma ordem comunitária muito curiosa. Todos se entreajudam. Há em cada aglomerado, o responsável pela iluminação, pela canalização, pelas fechaduras, pelos assuntos religiosos, pelo restauro das madeiras, pelo apoio aos mais idosos e doentes nas situações de necessidade, entre muitos outros. Tudo se desenrola de forma bastante equilibrada e justa.


Dentro da Medina, visitámos ainda uma fábrica de têxteis, uma de curtumes, uma de tapetes, uma de trabalho em bronze e, no exterior da Medina um centro de cerâmica, cujo combustível para alimentar os fornos é o caroço de azeitona que espalha um cheiro muito intenso e uma fumarada negra, altamente poluente que se avista de muito longe.
Gostava que conseguissem sentir os odores, que mergulhassem no colorido, que ouvissem os sons e as musicas e que vibrassem com as emoções que experimentei neste passeio pela Medina de Fez.
Vale mesmo a pena esta visita!

4 comentários:

Anónimo disse...

Descreves e ilustras tão bem k até
me dá vontade de conhecer esse Mundo tão diferente do nosso. Pois
é! Depois de ser "envolvida" pela descrição,recordo o comer à mão,as
casas de banho...Claro. Ficarei pela fotografia excelente e pelo texto k adorei!:) :)jinho.
isa.

Pearl disse...

Pelo que percebi, fizemos a mesma viagem pelas cidades imperiais este mês de Agosto.
Tinha uma imensa curiosidade sobre o país, mas fiquei ainda mais encantada após a visita.
Espero que a tenha apreciado tanto quanto eu.

Anónimo disse...

Voltei a Fez. Voltei à tua "narrativa",às tuas fotos!Vou deixar-te um desafio:Fazer um "livro de Viagens",com fotos,despretensioso,como gostas.
Olha k já vi coisas publicadas,com
mto menos interesse.Vale??Estou a ver a tua cara e a expressão...
jinhos.
isa.

goiaba disse...

Vesti-me a condizer com uma daquelas túnicas que me trouxeste e que devia ser a minha roupa de todas as horas, para ler a tua visita a Fez. Continuo a salivar ...
Beijinhos