No meu bairro vivem muitos ciganos. Quando aqui cheguei já eles cá viviam há décadas. Nessa época habitavam um bairro da lata, espaço que hoje é palco de construções luxuosas com condomínio fechado.
Estes ciganos foram alojados no mesmo bairro, em construções simpáticas, mandadas construir no tempo de João Soares. A política da época era a da “integração” social.
Os moradores do bairro confiaram e acreditaram.
Mas nem tudo correu bem.
Apesar de casas novas, do rendimento mínimo, de subsídios para os filhos e da escola obrigatória, os problemas de integração persistem e assumem por vezes contornos preocupantes. O principal obstáculo para uma efectiva integração assenta numa persistente auto-exclusão destes cidadãos portugueses, alimentada por algumas ideias, tradições e modos de vida desfasados do tempo e das exigências cívicas do País.
Apesar de tudo, os moradores do bairro têm sido muito pacientes e vão tentando dialogar e intervir. Eles não aceitam bem!
Mas gostaria de vos falar de uma cigana especial. Com idade imprecisa, entre os 60 e os 70 anos, alta, magra, com cabelo apanhado e enrolado num carrapito à moda antiga. Pescoço alto, porte sempre direito, imponência de rainha. Ela é a matriarca de uma numerosa família. Todo o bairro a conhece e trata por D. Maria.
Está sempre por aí falando com os seus pares, vendendo alguma roupa, ou fazendo as suas compras como todos nós. Às vezes paro um pouco para falar com ela, conta-me das suas dores nas costas, da ida ao médico, do tempo que faz. Outras vezes, lá tenho que comprar alguma camisola que, como ela diz «é só para me ajudar!» Lá sigo para casa com a camisola a quem terei que arranjar dono, porque as camisolas ”lindinhas” da D. Maria não são tão belas assim.
Mas se há figura que eu gostaria de retratar ou pintar é esta. Que genes esta mulher apresenta, marcação étnica bem visível, na cor da pele, no orgulho, nas longas vestes.
Fiz alguma pesquisa sobre a história dos ciganos.
A hipótese mais aceite é que o povo cigano teve berço na civilização da Índia antiga, talvez dois ou três milénios antes de Cristo. Depois de vaguearem pelas terras do Oriente, invadiram o Ocidente e espalharam-se por todo o mundo.
O idioma dos ciganos é o romanês e contém, na sua maioria, palavras derivadas do antigo sânscrito, que era falado no noroeste da Índia. Mas, por todos os países por onde passavam, assimilavam palavras de idiomas locais, por isso encontram-se palavras do turco, grego e arménio, no seu falar.
As primeiras notícias da sua presença em Portugal datam da segunda metade do sec.XV.
Gil Vicente dedicou-lhes uma peça de teatro «Farsa dos ciganos».
Houve várias ordens de expulsão do país mas, a partir do sec XIX, passaram a considerá-los cidadãos portugueses, embora soubessem que estes se auto-excluem de prestar qualquer serviço à comunidade e nem sequer se manifestam dispostos a aceitar as suas leis.
Voltando aos ciganos do bairro, questiono-me: quando se inicia a sério a “integração” desta comunidade? Por que razão continuam eles a não deixar as novas gerações avançar nos estudos e a manterem um nível muito alto de abandono escolar? O que os leva a não acatar as mínimas regras de higiene, no que respeita ao ambiente envolvente?
Quanto à D.Maria … continua a ser uma figura misteriosa, no meu imaginário. Recuo no tempo e vejo-a na velha Índia … certamente pertencendo a uma casta elevada, de tal forma os seus modos são suaves, a sua voz melodiosa, a sua elegância marcante, destacando-se do bando que diariamente a acompanha, quem sabe, envergando um esvoaçante sahari de cor luminosa, recortando a paisagem dourada e rubra do ocaso oriental.
Estes ciganos foram alojados no mesmo bairro, em construções simpáticas, mandadas construir no tempo de João Soares. A política da época era a da “integração” social.
Os moradores do bairro confiaram e acreditaram.
Mas nem tudo correu bem.
Apesar de casas novas, do rendimento mínimo, de subsídios para os filhos e da escola obrigatória, os problemas de integração persistem e assumem por vezes contornos preocupantes. O principal obstáculo para uma efectiva integração assenta numa persistente auto-exclusão destes cidadãos portugueses, alimentada por algumas ideias, tradições e modos de vida desfasados do tempo e das exigências cívicas do País.
Apesar de tudo, os moradores do bairro têm sido muito pacientes e vão tentando dialogar e intervir. Eles não aceitam bem!
Mas gostaria de vos falar de uma cigana especial. Com idade imprecisa, entre os 60 e os 70 anos, alta, magra, com cabelo apanhado e enrolado num carrapito à moda antiga. Pescoço alto, porte sempre direito, imponência de rainha. Ela é a matriarca de uma numerosa família. Todo o bairro a conhece e trata por D. Maria.
Está sempre por aí falando com os seus pares, vendendo alguma roupa, ou fazendo as suas compras como todos nós. Às vezes paro um pouco para falar com ela, conta-me das suas dores nas costas, da ida ao médico, do tempo que faz. Outras vezes, lá tenho que comprar alguma camisola que, como ela diz «é só para me ajudar!» Lá sigo para casa com a camisola a quem terei que arranjar dono, porque as camisolas ”lindinhas” da D. Maria não são tão belas assim.
Mas se há figura que eu gostaria de retratar ou pintar é esta. Que genes esta mulher apresenta, marcação étnica bem visível, na cor da pele, no orgulho, nas longas vestes.
Fiz alguma pesquisa sobre a história dos ciganos.
A hipótese mais aceite é que o povo cigano teve berço na civilização da Índia antiga, talvez dois ou três milénios antes de Cristo. Depois de vaguearem pelas terras do Oriente, invadiram o Ocidente e espalharam-se por todo o mundo.
O idioma dos ciganos é o romanês e contém, na sua maioria, palavras derivadas do antigo sânscrito, que era falado no noroeste da Índia. Mas, por todos os países por onde passavam, assimilavam palavras de idiomas locais, por isso encontram-se palavras do turco, grego e arménio, no seu falar.
As primeiras notícias da sua presença em Portugal datam da segunda metade do sec.XV.
Gil Vicente dedicou-lhes uma peça de teatro «Farsa dos ciganos».
Houve várias ordens de expulsão do país mas, a partir do sec XIX, passaram a considerá-los cidadãos portugueses, embora soubessem que estes se auto-excluem de prestar qualquer serviço à comunidade e nem sequer se manifestam dispostos a aceitar as suas leis.
Voltando aos ciganos do bairro, questiono-me: quando se inicia a sério a “integração” desta comunidade? Por que razão continuam eles a não deixar as novas gerações avançar nos estudos e a manterem um nível muito alto de abandono escolar? O que os leva a não acatar as mínimas regras de higiene, no que respeita ao ambiente envolvente?
Quanto à D.Maria … continua a ser uma figura misteriosa, no meu imaginário. Recuo no tempo e vejo-a na velha Índia … certamente pertencendo a uma casta elevada, de tal forma os seus modos são suaves, a sua voz melodiosa, a sua elegância marcante, destacando-se do bando que diariamente a acompanha, quem sabe, envergando um esvoaçante sahari de cor luminosa, recortando a paisagem dourada e rubra do ocaso oriental.
5 comentários:
Tornei-me,de imediato,admiradora da D.Maria.Bastou-me ler o q. dizes e sabendo q. nunca exageras.Sempre me impressionou a recusa da integração.E ñ consegui obter uma explicação.Aprendi as origens. Realmente o nosso Pai tinha razão.Qdo um dia,com os meus 6 anos,lhe perguntei:o que está a fazer? Ele respondeu-me:o seu Papá está a estudar!! Claro,q.nessa altura pensei:tão crescido e a estudar!! Como ele estava certo!bjo.isa
O «seu a seu dono» e, desta vez, querida ISA, enganaste-te, a autora do texto, que aliás subscrevo totalmente, não é a tua mana, mas a LIS.
Aqui fica o reparo, para que conste! Mas não tem importância, nós assumimos uma escrita a três mãos.
Jinhos
ZIA
Claro,o «seu a seu dono».Aqui vai o meu pedido de desculpas,embora saiba q.a LIS ñ ficou aborrecida comigo.Tenho a certeza.Sabe q. ñ sou política...por isso repararei melhor nas "3 mãos". Acordei mázinha. Bom domingo.Jinhos.isa
Obrigada, pelo recadinho,que deixou no meu blog.Acredite que fico contente!! Visito o vosso e também gosto, muito, muito!! Tem sempre interesse. Há tanta coisa boa para lembrar..Um bjo.isa
Eu também fui "tocada" por uma ciganita do teu bairro. Lembras-te?Deixei testemunho num livro que tu conheces.Rostinho escuro e triste que não esqueço. INTEGRAÇÃO? Não será fácil.Os ciganos mantêem-se unidos e arreigados à tradição para defesa do próprio clã. Renegar a raça é para eles uma espécie de traição ás origens. São nómadas por natureza e cultura .Interferir nos seus hábitos é correr o risco de se tornar intruso num terreno que é apenas deles. Mas compreendo-te.XCORAÇÃO de quem finalmente conseguiu entrar no teu blog.Irene
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