segunda-feira, 5 de maio de 2008

HIPOCRISIAS

O navio chinês que transporta armas para o Zimbabué continua fundeado ao largo do porto de Luanda. Descarregam-se contentores selados que, garantem as autoridades angolanas, são importações para obras públicas … Mesmo que seja verdade o comportamento ambíguo do governo de Angola relativamente ao Sr. Mugabe, o peso do investimento chinês em Angola e a imagem de corrupção que se tem colado ao governo do Sr. Eduardo dos Santos, permite-nos duvidar. Como lamento!

E que vergonha senti também com as declarações de Jerónimo de Sousa no seu apoio incondicional à governação angolana – aquando da sua visita recente a Angola! A mesma vergonha que senti com a postura de Cavaco Silva face ao líder regional da Madeira durante a sua incompreensivelmente longa visita ao arquipélago. São tibiezas que, mais tarde ou mais cedo, se deveriam pagar . O Presidente da Republica já viu a sua popularidade baixar 7% … Mas não chega. Uns e outros, os que se comprometem por subserviência e medo, por interesses económicos que falam mais alto do que o relacionamento humano e a justiça social, hão-de sentir na pele a vergonha e na “espinha” as mazelas.

Sintomas que aliás também devem tocar os responsáveis do governo português quando se escusaram a receber o Dalai Lama, quando não se posicionaram com clareza face à violência e falta de respeito pela cultura e identidade tibetana. Se já é duvidosa a legitimidade da China em relação ao território do Tibete (possível talvez de ser reivindicado pela Mongólia), a tentativa de apagar uma cultura milenar por processos violentos, a falta de respeito pelas crenças de um povo, a recusa à autonomia real que fora prometida em 1951, deviam merecer repulsa e condenação firme pela comunidade internacional. Mas o mercado chinês é tão apetecível … “um país, dois sistemas” é tão original e sedutor …e lidar com a China não é o mesmo que intervir no Iraque.

E fico a pensar o que seria do mundo se, em 1423, o imperador Ming não tivesse decidido mandar recolher a armada dispersa, fechar-se ao mundo exterior para só acordar séculos depois.

Nota: a propósito do grande período expansionista da China, é muito interessante o livro de Gavin Menzis: “ 1421 – o ano em que a China descobriu o Mundo” (Dom Quixote). Sobre o novo período expansionista, o actual, é bom estar atento porque “eles”, e são aos milhares em África, na América e na Europa, estão por aí. O dinheiro investido pela China em infraestruturas, em África, por exemplo, é considerável – sem perguntas, sem grandes compromissos. Defendo a multiculturalidade mas rejeito o colonialismo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Li o texto e estou totalmente de acordo.Só um ignorante ñ sabe o q. se passa em Angola.Revoltou-me muito a posição do J.S.Também só vê o q. quer... Uma vergonha..estes nossos políticos!!!
E há pessoas que se admiram dos jovens ñ gostarem de política.O problema do Tibete chocou-me.Ñ esquecerei nunca aquela repressão aos estudantes na Praça..Lembro as lágrimas de desespero..Um abraço.Isa

Anónimo disse...

Obrigada pela visita.Encontrei no Google imagens do Mussulo,da Baía de Luanda,a cores e a preto e branco. Queria enviar mas vou aprender a forma de o fazer.Beijinhos.isa.