sexta-feira, 23 de maio de 2008

Uma história de contrabando


Noticiava-se há dias a descoberta de droga contrabandeada em frascos de puré de marmelo e de polpa de pêssego. É, ao que parece, um disfarce antigo porque mais ou menos há 40 anos, fiz o mesmo …

Estava em Moçambique e vinha uma ou duas vezes por ano a Lisboa: no Natal ou em Agosto. Passava por Luanda onde era sempre esperada por um casal de grandes amigos dos meus pais (!) que me presenteavam com um ramo de flores, que largava logo a seguir à porta de embarque, e me entregavam um saco com frascos de compota de manga. A compota destinava-se a uma senhora de idade que vivia na R. Defensores de Chaves.
Viagem após viagem lá fui transportando o doce que depois entregava à senhora, muito simpática e feliz por receber aqueles mimos …

Um dia, sentiu-se uma grande tempestade já perto do norte de África, quando os aviões passavam para altitudes mais baixas e os numerosos “poços de ar” não davam tréguas nem aos estômagos nem às bagagens de mão. O saco dos frascos tombou e um deles partiu-se. Para não ficar com tudo sujo, fui à casa de banho e despejei na sanita o conteúdo do frasco partido. Deitei os vidros no lixo, lavei os outros sacos e em Lisboa entreguei a encomenda referindo o acontecido.

Anos mais tarde, o tal amigo dos meus pais, em grande galhofa, contava ao meu pai o prejuízo que eu lhe tinha dado ao despejar o conteúdo do frasco de manga : um lote seleccionado de diamantes. E foi assim que ficámos sabendo como, durante anos, ele e eu tínhamos feito contrabando de diamantes da Lunda!

Talvez por isso sinto sempre pena dos “correios de droga”, principalmente quando são mulheres (e há tantas!) e quero acreditar que às vezes não sabem o que transportam.


2 comentários:

Anónimo disse...

Maravilhosa história!! Ela só vem provar uma ideia que,para gáudio do Nuno, eu tenho há vários anos: a descoberta, em pequenas quantidades,por pessoas que nem sabem o que trazem,é denúncia.Acredito piamente q. algumas pessoas nem sonhem,ao fazer um favor a um amigo,o que transportam!Um beijo. isa.

ZIA disse...

Delirei com esta história e, como residia nas redondezas da Defensores de Chaves, quem sabe, alguma vez cruzei com esta «contrabandista»! Quantos produtos terão cá chegado desta maneira! E chegarão ainda, apesar de um controlo mais apertado!!
Jinhos
ZIA